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34 – Epílogo

Em dezembro de 2019 eu estava em Colina, SP. Uma noite, enquanto no estacionamento do hotel parei e olhei para o céu. O sol dava espaço no céu para a lua que surgia do lado oposto. O sol já estava posto, mas ainda refletia sua luz na linha do horizonte. Não o suficiente para ofuscar a luz de algumas estrelas que começaram a surgir no céu azul escuro. Observei uma estrela brilhando forte, um brilho que não vemos nas estrelas nas cidades grandes. “Como devia ser lindo olhar para o céu límpido e ver a mancha branca de luz que as estrelas juntas formavam!” – Pensei eu. 


Pensei também na beleza do céu estrelado nas fazendas quando a luz elétrica ainda não era parte do dia a dia dos colonos, onde a lamparina que queimava querosene iluminava fraquinho os cômodos da casa obrigando as famílias a se manterem juntas. Havia o fogo nos lampiões e nos fogões. Sempre o fogo, afastando a escuridão e iluminando caminhos, afastado o frio e atraindo as pessoas ao seu redor, para se aquecerem. Ao lado do fogão à lenha, ou próximo a ele no inverno, na cozinha onde as famílias passavam a maior parte do tempo, onde das panelas saiam os vapores e cheiros que despertava o apetite de todos! 

Sentia eu saudades naquele instante? Se fosse, saudades de que? Eu não vivi na fazenda ou colônia, apenas convivi por algum tempo com meus parentes colonos. Quando conversávamos alguns diziam: “Aqueles eram tempos bons!” ou “Que saudade do apito do trem da Maria Fumaça!” ou então: “A gente tinha mais liberdade, era feliz e não sabia!”. O que eles sentiam era saudade ou era nostalgia?

A nostalgia descreve uma sensação de saudade idealizada, às vezes irreal, por momentos vividos no passado. Ela está associada a memória afetiva e desperta quando sentimos um cheiro, ouvimos uma música, ou vemos uma fotografia de pessoas ou lugares, quando assistimos a um filme ou visitamos um lugar. Ela vem acompanhada do desejo de voltar aquele momento e revivê-los ao lado das pessoas que estavam com a gente. A nostalgia esta associada à melancolia e ao romantismo. A nostalgia é diferente da saudade.

Saudade, uma palavra que só existe na língua portuguesa, é direcionada a um alvo, como uma pessoa, ou um momento especifico. Matamos a saudade quando ouvimos a voz de alguém distante ou ela retorna de uma viagem. Matamos a saudade de uma comida quando a comemos e de um lugar quando o visitamos. A saudade pode ser superada pela presença ou repetição. Mas quando a saudade é idealizada, ou seja, quando sentimos saudade das coisas boas, de algo que não existe mais, como no meu caso, viajar de trem com minhas irmãs pequenas, meu pai e minha mãe, isso então é nostalgia. Quando eu sinto saudades das coisas boas e esqueço completamente das coisas negativas daquela mesma situação, então isso é nostalgia. A nostalgia não pode ser superada no campo físico, trata-se de uma visão idealizada de passado que cada um possui.

Em dezembro de 2019, enquanto eu visitava a cidade de Colina, visitava os parentes, passava em frente das porteiras das fazendas, da praça e da igreja, da barbearia, da estação de trem etc., todos os sentidos eram aguçados. Um dia eu parei o carro e desci para visitar o museu de Colina, a antiga estação do trem. Do outro lado da rua, havia dois homens tocando musica caipira de raiz e cantando em dueto. Estavam bem em frente ao prédio onde foi a barbearia do meu tio Tonho (Tuim) e eu lembrei das várias vezes em que ouvi meu pai e dos meus tios tocando e cantando juntos. Veio a sensação de nostalgia. Fotos: Igreja de Colina. Abaixo, local onde era a barbearia do Tuim.

 Ao ver o portão que dá acesso a plataforma do trem aberta, entrei. Fiquei feliz em ver a antiga estação restaurada e recém-pintada. Lembrei da gente chegando depois da longa viagem e descendo naquela mesma estação, cinquenta anos atrás. Na casa da minha tia Zilda, ao chegar para almoçar, senti o cheiro da comida dela e lembrei da minha avó Virginia, e o mesmo cheiro e gosto da banha no feijão durante o almoço. O cheiro da comida enquanto minha prima Idalina cozinhava, me fez pensar na tia Clair, já falecida. O mesmo aconteceu quando minha tia Zulmira me beijou ao visitá-la em Monte Azul. A forma como ela me beijou, era exatamente como minha vó Virginia me beijava quando a visitávamos, ainda crianças. Quando falávamos dos nossos pais, avós e dos lugares por onde eles viveram e trabalharam, todos tinham a sensação de nostalgia. Mas cada um lembrando de sua própria experiência e do que sentiu naquele momento.   
 
        As vezes eu leio em blogs e ouço pessoas falando sobre como era bom a viagem de trem de São Paulo até Colina e da “saudade” que sentem do barulho do apito do trem e de ver a fumaça saindo das chaminés das locomotivas! Comentam a lembrança de como ele diminuía a velocidade para passar pela ponte sobre o rio Turvo ou Mogiguaçu. Li um comentário indignado de uma pessoa que não aceitava o fato da prefeitura de Colina ter passado asfalto sobre o trecho dos trilhos que cruzavam um par de ruas perguntando: “
E se um dia os trens voltarem a correr por esses trilhos?” 

Acontece que os antepassados que já se foram não voltam mais. A estrada de ferro e as estações, e os vagões dos trens foram construídos para um propósito e as locomotivas foram importadas para puxar os trens que carregavam café ao porto de Santos e traziam imigrantes para as fazendas.  Não há mais café, nem trem, nem estação. E mesmo se o governo ou a iniciativa privada voltasse a investir em linhas férreas, os trens seriam muito mais rápidos e modernos. Recordar é bom, mas desejar que aquele tempo volte e acreditar que isso poderia acontecer é tão irreal quanto acreditar que existe o Túnel do Tempo. 

Porque escrever uma história que fala sobre aquele tempo e aquelas pessoas? Se a primeira vista ela desperta nostalgia, ela também nos ajuda a entender o porquê das coisas. No inicio da minha pesquisa, ao coletar documentos, eu só queria respostas para perguntas superficiais como, por exemplo: De onde meu bisavô veio, de que parte da Itália?

A busca de documentos para encontrar respostas era como puxar um fio de um novelo de lã ou um rolo de barbante. A resposta de uma pergunta levava a outras perguntas: Com quem ele veio? Onde ele conheceu sua mulher?  Como era a sua vida na Itália? Uma pergunta levava à outra: Por que emigrou em vez de ficar lá? Qual era seus sonhos e objetivos? Como foi a viagem de navio e a adaptação a uma nova cultura, língua e costumes? Quanto dessa nova cultura eles absorveram? E o que dizer dos seus filhos e netos? Quanto da cultura desses imigrantes foi absolvida por nós ou quanto dela ainda sobrevive nos nossos costumes? Além do sobrenome, o que mais carregamos desses antepassados?

Se as respostas mataram minha curiosidade e me ajudou a entender, mesmo que de forma superficial, os motivos por trás de algumas decisões e ações dos meus bisavôs, avós e pais, elas também me ajudaram a lembrar. Recordar é de certa forma recriar e reviver alguns daqueles momentos. Ao chegar ao fim da minha pesquisa e me satisfazer com as respostas que consegui encontrar, surgiu uma ultima pergunta: E quanto aos emigrantes italianos, realizaram seus sonhos? Eram sonhos ou objetivos?

 Nas várias leituras sobre imigração, encontrei comentários sobre os ‘sonhos’ dos imigrantes e sobre a “cuccagna”. Ela refere-se à árvore do cucanha, que era um mastro ensaboado e liso que tinha no topo vários presentes, especialmente comida como um frango assado. Quem consegue chegar ao topo, leva o presente. Era muito comum nos festivais das vilas frequentadas pelos camponeses na Itália. Metaforicamente falando, ao deixarem a Itália e vierem ao Brasil ou outros países, os emigrantes buscavam a cuccagna. O dicionário italiano também descreve a Cuccagna como um país imaginário de abundância “Il paese de Cuccagna”.

Emigrar seria um percurso difícil, mas o prêmio estaria lá para aqueles que alcançasse o topo. Resisti usar esta expressão quando escrevia porque, ao analisar a história dos meus antepassados, eu percebi que eles vieram para o Brasil com um objetivo e não um sonho, propriamente dito. 1

O sonho é definido como uma ideia ou ideal dominante que alguém ou um grupo busca com interesse ou paixão, mas pode ser também um plano ou desejo absurdo, sem fundamento; fantasia, utopia. Por outro lado, o objetivo é definido como aquilo que se pretende alcançar quando se realiza uma ação; propósito, livre de interesses, de gostos, de preconceitos; imparcial, isento. Para eles, o primeiro objetivo era fugir da fome, miséria e da morte. Segundo, encontrar um lugar onde pudessem trabalhar e formar família. Os que já tinham filhos, dar oportunidade para que eles fizessem o mesmo. Se tiveram sonhos, eles eram secundários em relação aos seus objetivos. Dessa forma vale a pena lembrar as palavras de Darcy Ribeiro:

Efetivamente, é o colonato imigrante que, por esse sistema, implanta o regime assalariado na vida rural brasileira, aceitando uma rigorosa disciplina de trabalho, mas em compensação, fazendo-se pagar efetivamente e pagar mais. Movido por um horizonte mais amplo de aspirações e contando com um melhor ajustamento ao trabalho assalariado, o imigrante produzia mais e melhor. Alguns conseguiam depois de alguns anos, mercê de sua capacidade de poupança, libertar-se da condição de colono para se fazerem pequenos empresários. Seus filhos já brasileiros seriam operários dos centros nacionais industriais nascentes.” [Darcy Ribeiro p. 394]

 

No caso da minha família, isso se tornou possível não com os filhos dos imigrantes, mas com seus netos. Giacomo Sarti chegou ao Brasil e casou-se com Amabile Feltrin. Eles tinham um objetivo. Começaram a formar uma família e continuaram a trabalhar incansavelmente nas fazendas de café. Na colônia podiam criar porcos e galinhas e entre os pés de café podiam plantar milho, feijão e abóboras. Não precisavam mais se alimentar diariamente com polenta. Tinham a casa da colônia para morar e uma comunidade com qual contar, onde a solidariedade ia além do dever. Trabalhavam muito, mas tinham o suficiente para sobreviver e podiam acumular o excedente para emergência. Teriam o suficiente para comprar a sua própria fazenda? Não naquela região onde as fazendas eram verdadeiros latifúndios.

Muitos dos colonos não conseguiram realizar o sonho de tornarem-se senhores de terras. Eles trabalhavam no sistema de colonos ou meeiros e seria preciso uma soma exorbitante para comprar uma fazenda, considerada pequena para os padrões no estado de São Paulo. Segundo Truzzi, “à medida que o século 20 avançava, a expansão da fronteira agrícola em direção a novas terras a oeste do estado – sobretudo no rumo da zona da ferrovia Araraquarense e, mais tarde, da Noroeste – favorecia em alguma medida o estabelecimento de pequenas propriedades conduzidas por imigrantes, especialmente italianos. Cabe notar que a maior parte deles havia trabalhado por anos como colonos em zonas mais antigas, como a Paulista e a Mogiana, e às custas de muita frugalidade, sacrifício e alguma sorte, haviam logrado acumular algum pecúlio para adquirir um pequeno sítio.” Truzzi continua: “... entrados os anos de 1920, para algumas famílias de imigrantes – particularmente aquelas oriundas do Vêneto – o velho sonho de se tornarem proprietárias finalmente pôde ser atingido, mesmo que às custas de uma longa e penosa trajetória, por vezes iniciada duas ou três décadas antes.”  [Truzzi pp 35, 57, 59]

Mais de uma vez eu ouvi meu pai e minhas primas dizer que meu avô chegou a ter dinheiro suficiente para comprar um sítio. Meu bisavô e avô tiveram a opção de mudar-se para outras regiões onde poderiam ter comprado um pequeno sítio, como fizeram muitos imigrantes que se instalaram em Jundiaí. Então por que os Sarti e Tiozzo não o fizeram? Seria acomodação ou falta de ambição?

Talvez emergências como doença e até morte na família frustraram esses objetivos. Vinte anos depois de chegar ao Brasil, Giacomo mudou-se com toda a família para a Argentina. Se o motivo foi a saúde precária de seu filho, então o bem estar da família estava acima da ambição de se tornar proprietário. Esta viagem deve ter consumido recursos que poderiam ter sido usados na compra de uma pequena propriedade em outra região. Ao voltarem em 1911, teriam que começar tudo novamente, voltaram à estaca zero. Voltaram a trabalhar no café na Fazenda Dumont e a morar nas colônias. Talvez a ambição e sonho deles não fossem tornarem-se donos de uma fazenda de café. Não passava pela cabeça dele a possibilidade de um filho estudar ao ponto de ser um funcionário público ou doutor. Inimaginável pensar na possibilidade de um filho sair da fazenda para ir estudar na cidade! Era um sonho alto demais! Por que sonhar e frustrar-se?

Pode-se até falar em determinismo aqui. Inconscientemente, aqueles imigrantes, descendentes de várias gerações de camponeses, tinham uma visão determinista da vida de que nada pode acontecer exceto o que realmente acontece, porque todo evento é o resultado necessário das causas que o precedem – e elas próprias foram o resultado necessário das causas que as precederam. Eles eram filhos de camponeses e seus filhos e netos também seriam. Mas o que dizer do livre-arbítrio? Pelo menos eram livres para mudar-se de fazenda e tentar o trabalho em outro lugar! A liberdade de escolha era restrita. Ainda seriam camponeses, colonos, lavradores trabalhando na lavoura de café, ou algodão ou outro produto agrícola.

Sua maior riqueza, com certeza era os filhos e os vários netos. A família tinha um teto para se proteger, roupas para vestir, não passavam frio e tinha mais que o suficiente para se alimentar.  Para trabalhar no café, não era preciso estudar, bastava saber o suficiente para não serem passados pra trás ao acertar as contas com o patrão ou na hora de pagar a caderneta do o armazém de secos e molhados. Os filhos de Giacomo aprenderam a ler e a fazer contas. Era um avanço se pensarmos que Giacomo era analfabeto. Meu avô chegou a ter três vacas e era considerado rico pelos outros colonos! Tinham ainda a riqueza cultural que trouxeram consigo da Itália, nos costumes e enriqueceram com a cultura caipira. Observem que eles faziam parte da grande maioria, pois das historias de enriquecimento que ouvimos dos imigrantes ou filhos deles, foram poucos os que conseguiram sair desse circulo vicioso, e os que o conseguiram estavam na zona urbana, não na zona rural. Truzzi prossegue:

 

Evidentemente estava em curso, pelo menos para uma fração da colônia italiana, um processo de mobilidade social nas cidades do interior paulista, mais acentuado que no campo. (...) As vantagens mais patentes da vida nas cidades eram uma sociabilidade mais ampliada, a possibilidade de os filhos estudarem em escolas muitas vezes providas pelas próprias associações e as assistências médica e religiosa mais acessíveis.”

 

Nos anos 1930, quando a crise cafeeira exigiu a reorientação das atividades econômicas nos municípios, a maior parte deles sofreu um processo de diversificação agrícola, associada, quando possível, ao processamento industrial. No caso de Ribeirão Preto, desenvolveram-se a indústria alimentícia, a de bebidas e a têxtil. Seria o momento para os colonos tentar algo diferente, sair da fazenda e ir para a cidade? Alguns o fizeram, outros, analfabetos, sem instrução e sem saber com empreender, continuaram a suprir a demanda de mão de obra nas lavouras cafeeiras. Nos anos 30, quando a fazenda Dumont foi retalhada e parte dela transformada em uma vila, os Sarti e Tiozzo optaram por mudar com suas famílias para Terra Roxa, e continuaram a trabalhar na lavoura de café.

Foram necessários mais trinta anos para que uma mudança começasse em nossa família. Os primeiros a deixarem a zona rural foram alguns filhos de Enricco Sarti. Depois meu tio Augusto e também meu pai, Reinaldo foram para a zona urbana no inicio da década de 1960. Meu tio Antonio deixou a fazenda Retiro e abriu uma barbearia em Colina no início da década de 1970. Não enriqueceram, mas a qualidade de vida deles melhorou consideravelmente quando comparada as de seus pais e avós imigrantes. Truzzi comenta: “O que impressiona mais no êxodo italiano para o Brasil é a afirmação, ainda que não grandemente difundida, de ascensões sociais pouco espetaculares, mas que garantem ao imigrante e a sua família a possibilidade de conduzir uma existência digna.” [Truzzi p. 10].

 Nos anos 70, embora ainda morando na fazenda e trabalhando na lavoura de café, meu avô tinha confortos como televisão e refrigerador. Também tinham uma Kombi para se locomover até a cidade. Já não usavam mais a charrete à cavalo. Foi somente no inicio dos anos de 1980 que meu avô Ângelo, finalmente deixou a fazenda São Joaquim e mudou-se para uma casa própria na cidade de Colina. Todos os seus filhos, casados e solteiros fizeram o mesmo. Na cidade tinham acesso a serviços sociais como escolas e hospitais. Se houve uma melhora no sentido econômico, o que dizer da questão de educação?

Entre os anos de 1960 e 1980, houve o fim do sistema de colonato. O café deixou de ter importância na economia brasileira e as pessoas mudavam-se para as cidades. A vida na cidade exigia adaptar-se a um novo modo de vida. O trabalho era nas fabricas e comercio. Não bastava apenas a educação básica. Os habitantes de Colina, SP tinham a opção de trabalhar em frigoríficos, e a partir de 1979 na Cutrale, empresa produtora de suco de laranja. Meu avô Ângelo Sarti, primeira geração nascida no Brasil, frequentou pelo menos um ano de escola. Os netos do Giacomo, incluindo meu pai, estudou em escolas rurais, até o terceiro ano. Paravam cedo para ir trabalhar no café. Não foi senão os bisnetos de Giacomo que terminaram o segundo grau e uns poucos começaram a frequentar a universidade.

Há alguns casos na família de empreendedores que abriram seus próprios negócios, professores, artistas e funcionários públicos. As famílias que se mudaram do interior paulista para a cidade de São Paulo, tiveram considerável vantagens quando comparados as famílias que continuaram a morar nas cidades do interior e sobretudo sobre os que continuaram a trabalhar em fazendas até o final do século 20. Mas é indiscutível que o nível de qualidade de vida da grande maioria dos descendentes de Giacomo Sarti é muito superior ao daquele usufruído por eles.

Analisando desta forma, podemos concluir que os objetivos dos imigrantes italianos, e por que não dizer, alguns de seus sonhos, foram realizados. Mas foi necessário um século para que isso acontecesse. A família, sua maior riqueza é numerosa, tanto do lado dos Sarti quanto dos Tiozzo. A maioria tem uma vida digna e com boa qualidade. As mortes entre crianças e adolescentes praticamente desapareceram na terceira geração da família e o analfabetismo é inexistente. Os netos e bisnetos de Giacomo Sarti e Carlos Sarti continuam a carregar o sangue italiano nas veias, misturado a outros sangues. Carregam também na sua maneira de ser, agir e falar muito dos seus costumes e cultura: a Italianidade. 

Notas

  1. Cuccagna - Nome di un immaginario paese dell'abbondanza: il paese di Cuccagna.

 Fontes:

  1. RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: Evolução e o sentido do Brasil – São Paulo: Companhia das Letras, 1995
  2. TRUZZI, Oswaldo. Italianidade no interior paulista: Percursos e descaminhos de uma identidade étnica (1880-1950). 1 ed – São Paulo: Editora Unesp, 2016.


Comentários

  1. Conheci seu avô. Uma tia chamada Nadir?(?) ... essa família linda de crianças amorosas e com outras qualidades sem nomes, vindas da mãe e do pai, com certeza.
    Como faço para guardar tudo isso e ler de vez em quando?

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    1. Oi Maria. Que interessante! Saudades dos meus avós. Sim, a Nadir é minha tia. Eu a vi em dezembro de 2019 em Colina. Quanto a guardar, eu acredito que o Bogger não deixa fazer cópias. Mas o blog vai estar sempre ai, não só para nós, mas para as futuras gerações de nossa família. Sugiro guardar o endereço do Blog em uma mensagem do WhatsApp ou outra plataforma assim você pode sempre entrar rapidamente caso não se recorde do endereço: sartiesarti.blogspot.com

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  2. Estou tão contente com toda essa história da nossa gente...conhecer um pouco mais (muito) sobre nossos antepassados me dá uma vontade de mais !!! Saber quem são seus descendentes, por onde andam.... minha mãe faleceu muito cedo, em 1970 e meus avós tbm ( Sarti e Tiozzo), o pouco conhecimento que tenho foi porque fiz uma Árvore
    Genealógica e cheguei até meus bisavós maternos !!! Obrigada por todas essas informações sobre nossa família...😍

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    1. Ola Matilde. Me fale mais dos seus pais. Qual o nome deles é de em cidades eles faleceram?

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