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14 – I Comuni – As cidades e nossa família

Comune é a palavra italiana para cidade. Comuni é o plural de comune, e significa cidades. No capítulo anterior contei um pouco sobre a cidade de Castelguglielmo, onde nasceu Giacomo Sarti, meu bisavô. Mas nos documentos de outros membros da família há menção de outras cidades próximas, na mesma região do Vêneto. Não há evidências de que as famílias Sarti, Feltrin e Tiozzo se conheciam enquanto viviam na Itália, mas o fato de serem de cidades próximas, e a maioria deles terem ido trabalhar na mesma fazenda em São Paulo, no mesmo ano, 1888, é uma indicação de que os propagandistas, que tentavam convencer os italianos a emigrarem para o Brasil, passaram por aquelas cidades na mesma época. As cidades aqui mencionadas aqui estão organizadas em ordem alfabética: Bagnolo de Pó, Cavarzere, Chioggia, Lendinara: Ramodipalo e Fratta Polésine, Rovigo e San Belino.

Bagnolo di Pó 

A distância entre Castelguglielmo e Bagnolo di Po é de apenas 4,4 km e, de carro, o percurso é feito em seis minutos. Conforme mencionei anteriormente encontrei o registro de óbito de um filho dos meus tetravós, chamado Francesco Sarti falecido em 1899 em Bagnolo di Pó, Rovigo, cidade vizinha a Castelguglielmo. Também, um filho dele chamado Antonio Sarti faleceu nesta cidade aos 24 anos de idade em 1883.  Aparentemente, alguns membros da família Sarti moravam e viviam nesta cidade. Foi nesta cidade que também nasceu Luigia Munari, provavelmente em 1829, esposa de Giuseppe Sarti e mãe de Giacomo Sarti. Outro membro da família que nasceu em Bagnolo di Pó foi um primo de Giacomo Sarti chamado Mario Donega, filho de Maria Sarti e Natale Donegá. Ele emigrou com seus pais no mesmo grupo de Giacomo e Abramo Sarti para o Brasil quando tinha apenas quatro anos de idade.  Como Mário nasceu em junho de 1884 e a família emigrou em junho de 1888, é possível que Giacomo e todo o grupo de emigrantes morassem naquela cidade na época que vieram para o Brasil, e não Castelguglielmo. 

        A palavra “Bagnolo” é derivada de “bagno” que esta relacionada à água para imersão e lembra a palavra portuguesa banho.  O município é chamado de Bagnolo devido à configuração de seu território, que era, no passado, certamente menos hospitaleiro do que outros territórios habitáveis e cultiváveis da Polésine. Documentos antigos dos Venezianos e da família Este, relatam a abundância de água na área e a presença de pântanos por longos períodos do ano. Um lugar abundante em poças d’água chamado “Balneum” é frequentemente citado principlamente pelas várias inundações dos rios Pó, Ádige e Tártaro (hoje Canalbianco). Foram as recuperações do século XV, implementadas pela família Bentivoglio, que possibilitaram os primeiros assentamentos estáveis no território.

Esse terreno foi doado à igreja de Adria em 938 por Almerico d'Este, marquês de Mântua e sua esposa Franca. A partir do século IV, uma pequena vila começou a ser desenvolvida. Em 998 a localidade figura entre os bens do bispo Gregorio de Ferrara; em 1308 entre os de Obizzo d'Este. Ugaccione Contrari a recebeu de presente em 1402, de Obizzo d'Este. Em 1478, o duque Borso d'Este doou a Francesco Ariosto, tio de Ludovico Ariosto, um terreno nivelado. O pai do poeta, capitão geral de Polésine Niccolo Ariosto construiu uma vila chamada "Barchetta". Em 1506, o feudo dos Contrari passou ao marquês Alfonso Trotti de Ferrara e em 1560 ao marquês Cornelio Bentivoglio. Em 1597 passou para as mãos dos Estados papais devido à falta de herdeiros da família Estense.

No século VII, Bagnolo era frequentemente mencionado pelas constantes inundações dos rios vizinhos: em 1647 e 1658 do rio Pó, em 1677 do Ádige, em 1693 e 1742 do Tártaro, em 1705 do Mincio e do Castagnaro em 1772 e 1796. Em 1797 o território passou a fazer parte da República Cisalpina; em 1815, foi agregado ao Vêneto e à província de Rovigo sob o domínio austríaco. Mais tarde, no final de 1866, foi anexado ao Reino da Itália.

No século XIX entraram em operação bombas de água possibilitando maior estabilidade no território. Entretanto, a famosa inundação de 1951 causada pelo alagamento do rio Pó provocou o despovoamento do território. A área cujo terreno era dedicado à agricultura, passou a ser uma área mais industrializada. Quando Luigia Munari nasceu, em 1829, o território já fazia parte do Vêneto e estava sob o domínio austríaco. Esta a cerca de 5 quilômetros de distancia de Castelguglielmo.

Todos os anos, no primeiro sábado de setembro, acontece o "Palio delle Contrade", um evento inspirado na era medieval em que cinco equipes, correspondentes aos bairros das vilas (via Roma-piazza Marconi, Dogana-Arioste est, Napoleonica, Vall'Alta-Arioste oeste, San Giuliano-De Gasperi) se desafiam em vários jogos de habilidade.  

Cavarzere, VE

A distância entre Castelguglielmo e Cavárzere é de 53,5 km e, de carro, o percurso entre as duas cidades é feito em 44 minutos. Cavárzere é a cidade onde nasceu Maria Antonia Boscarato em 20/09/1873. Ela casou-se com Carlo Tiozzo, em Sertãozinho, SP em 12/1891 com 19 anos, e foi mãe de Virginia Tiozzo, minha avó. Seus pais, segundo a certidão de casamento dela, chamavam-se Boscarato Franco e Zanieli Euphemia. Na certidão de casamento diz que ela é de Cavarze, um erro de grafia. E segundo a certidão de óbito de Carlos Tiozzo, ela era de Veneza, Itália. 

Cavárzere faz parte da região metropolitana de Veneza e tem hoje cerca de 13.000 habitantes. Fica a cerca de 50 Km da cidade de Veneza e cerca de 25 Km de Chioggia. O território faz parte da Planície Veneto-Friulana e por isso a cidade é totalmente plana. O Rio Ádige passa dentro de seu território pouco antes de desaguar no Mar Adriático. No passado era uma zona pantanosa e grandes porções do território do município estão abaixo do nível do mar. Para eliminar definitivamente os pântanos do território foi preciso escavar canais para escoar a água e aterrar e reforçar as margens Rio Ádige.

 A cidade nasceu como um posto fortificado de Ádria e foi depois ocupada pelos Romanos. A cidade passou por várias invasões desde os Hunos em 452 e os Lombardos em 568. Para se proteger das invasões, a população buscou refúgio na Lagoa de Veneza. Fez parte da Veneza Marítima como Ducato de Veneza. Durante a República Cisalpina, determinada por Napoleão Bonaparte, o território municipal de Cavarzere foi desmembrado em três municípios. Com a assinatura do Tratado de Campoformio, Cavarzere Destro passou para o império austríaco e Cavarzere Sinistro e San Giuseppe para o domínio napoleônico em 1797.  Seguiu o destino de Veneza, retornou aos franceses em 1805 pra logo depois retornar aos austríacos até a unificação da Itália. A partir de 1866, Veneza passa a fazer parte da Itália e consequentemente a cidade de Cavarzere. Entre os anos de 1889 até 1914 os invernos rigorosos e o surto de doenças como a malária, e a consequente falta de trabalho nos campos, expulsaram habitantes do território.  Grande parte dos camponeses imigrou principalmente para o Brasil. Este foi o período em que a família de Maria Antônia Boscarato veio para São Paulo. Como não foi encontrada a lista de desembarque no porto de Santos, não é possível precisar a data.

Em 28 de julho de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, os alemães bombarderam a ponte do rio Ádige e parte da cidade. Mais uma vez os cavarzeranos fugiram deixando a cidade deserta. Em 27 de abril de 1945 os bombardeiros cessaram e a cidade foi libertada da ocupação nazista, mas a cidade foi quase totalmente destruída, incluindo a igreja, restando apenas a torre do sino que permaneceu intacta. Um incêndio destruiu a prefeitura e seu valioso arquivo. Em 13 de novembro de 1951, ainda durante a reconstrução da cidade, toda a região do Delta do Pó foi surpreendida por uma enorme inundação. Depois de duas semanas de chuva ao longo do curso do rio Pó, o nível das águas se elevou alagando aldeias e a cidade. Outros documentos foram perdidos durante as inundações. Por este motivo, aqueles que buscam documentos antigos em Cavarzere encontram dificuldades em encontrá-los.

Chioggia

A distância entre Castelguglielmo e Chioggia é de 79,3 km e, de carro, o percurso entre as duas cidades é feito em 1h10 minutos. De Chioggia origina-se a família Tiozzo: Felice Bon Tiozzo casado com Giovanna Boscolo, pais de Carlo “Bon” Tiozzo e Luiggi Tiozzo. Chioggia encontra-se na foz do Ádige e o centro histórico da cidade situa-se na extremidade sul da lagoa, sobre um grupo de pequenas ilhas divididas por canais e ligadas por pontes, o que lembra a cidade de Veneza, mas diferente de Veneza, grande parte da sua área urbana pode ser percorrida por vias terrestres. Depois da construção da Ilha da União, forma um único centro urbano juntamente com a vizinha Sottomarina. O resto da cidade está localizado no interior e compreende a foz de vários rios, incluindo o Brenta e o Ádige. É uma região chuvosa, principalmente na primavera e outono, de maio a setembro. Chioggia também sofre inundações provenientes da maré alta conhecida como “Acqua alta” que chega a afetar a área urbana que fica no interior. Não temos informações sobre em que parte da cidade a família Tiozzo morava, se eram agricultores, e tudo indica que sim, moravam provavelmente no interior, na parte continental.

Do ponto de vista histórico, a partir de achados arqueológicos e estudos recentes, acredita-se que a cidade teve início por volta de 2000 a.C. com os Pelasgianos, um povo marítimo originário da Tessália.  Tudo indica que a cidade de Chioggia já existia no período romano, 300 a.C. Era uma cidade importante, sobretudo, pelas suas salinas e o seu centro de produção do "Sal Clugiae" de excelente qualidade. Depois do declínio do império romano ocidental, o solo italiano ficou sob o domínio de vários povos bárbaros. Chioggia e outras cidades na laguna foram também dominadas por eles, exceto pelos lombardos, mas mantinham dependência do distante Império de Constantinopla. Chioggia passou a fazer parte do primeiro Estado de Veneza que era composto pelas maiores cidades da costa do Adriático, governada por tribunos (masgistrados) e que mantinham autonomia e governos independentes. Em 1379 caiu nas mãos de Gênova, mas foi reconquistada em 1380 pelos venezianos. Em 1438 foi fundado o primeiro estaleiro do mundo, o estaleiro Camuffo. Em um livro de 1762 um escritor chamado Goldoni descreve Chioggia como uma bela e rica cidade, distante vinte e cinco milhas de Veneza plantada também sobre lagoas, isolada, mas ligada à Península por meio de uma longuíssima ponte de madeira que se comunica com terra firme. Chioggia continuou a fazer parte da República de Veneza até 1797 quando passou para as mãos de Napoleão Bonaparte e em 1798, após o Tratado de Campoformio, passou para o Império Austríaco. Os domínios francês e austríaco se alternaram por mais cinquenta anos. Em 1812 foi fundado o Estaleiro Naval Poli em Chioggo por Domenico Poli. Em 1866 é anexada ao Estado Italiano. 

Mercado de Peixes em Chioggia - Oleo sobre tela 187 x 136,5 Alois Schonn

Felice Bon Tiozzo nasceu em 1825 e casou-se com Giovanna Boscolo, nascida em 1834. Em 13/12/1871 tiveram um filho, Carlo “Bon” Tiozzo. Carlo nasceu em Chioggia, província de Veneza. Em 1888, Felice Tiozzo então com 63 anos de idade partiu para o Brasil com a mulher Giovanna Boscolo, ela com 54. Estavam com eles dois filhos Carlo (17) e Luiggi Tiozzo (14). Não sabemos se tinham mais filhos. Provavelmente moravam ainda em Chioggia que é praticamente vizinha à cidade de Carvézere, não apenas por começarem com a letra C, mas por estarem à apenas 25 quilômetros de distancia e fazerem parte da província de Veneza. Pode ser que as famílias Tiozzo e Boscaratto se conheciam na Itália, pois meu pai mencionava que as famílias emigraram juntas para o Brasil, mas por falta de documentos não temos como comprovar. 

Lendinara: Ramodipalo e Fratta Polésine

Tanto Fratta quanto Ramodipalo estão ligadas ao municipio de Lendinara. Nas listas di leva de Eugênio Feltrin e Augusto Feltrin, aparece o nome de Lendinara. Augusto nasceu em 19/10/1874 em Ramodipalo e Eugênio no dia 06/10/1876 em Fratta Polesine. Ramodilapo hoje faz parte de Lendinara, pois foi incorporada ao município, já Fratta faz fronteira com ela. Lendinara fica a cerca de dez quilômetros de Castelguglielmo.

Lendinara:

Achados arqueológicos como urnas cinerárias e moedas atestam que o território era habitado na época da Roma antiga. Sua fundação é atribuída ao herói troiano Antenor, que teria atribuído o nome de Lendinara, antes mesmo de fundar a cidade de Pádua. Mas isto faz parte da mitologia. Tudo indica que seu nome tem origem celta, germânica ou veneziana. Há informações que remontam a 870 com a chegada de Uberto Cattaneo a Lendinara, mas o nome Lendinara aparece pela primeira vez em 944 em um documento do papa Marino II ao bispo de Ádria.

                Durante quatro séculos, Lendinara esteve ligada aos Cattaneo, uma família nobre veronese que possuíam muitos feudos. Ela se distinguia dos outros centros da Polésine pertencentes à esfera jurisdicional eclesiástica ou à dos Estensi. No século XI, havia em Lendinara "um castelo ilustre, enriquecido com muitas fábricas e torres com uma população culta". Fora das fortificações ficava a igreja paroquial de S. Sofia e, do outro lado do rio Ádige, a igreja e o convento de S. Biagio. O desenvolvimento de Lendinara foi contínuo e rápido, evidenciado pela organização municipal desenvolvida com a presença de muitas igrejas, tabeliães e famílias notáveis ​​na cidade. O território e sua volta florescia com a produção de produtos agrícolas e rebanhos.

            Lendinara tem uma longa história que aqui será resumida. Em 1246, ela foi destruída por Ezzelino da Romano em um incêndio provocado. Um novo núcleo da cidade surgiu em torno do grande complexo do convento franciscano, chamado 'San Marco'. Por volta de 1275, por um curto período, a cidade se tornou uma república. Os padovanos compraram a cidade em 1283 e depois a cederam aos Estensi. Depois de vendidos aos venezianos, no século XV desenvolveu-se e teve seu século dourado da cultura, cujos conventos da cidade eram seus guardiões e difusores. Em 1495 foi emancipada e recebeu o titulo de cidade.

        No século XVII, os habitantes de Lendinara se dedicavam a agricultura, à indústria de lã e ao comércio de couro. O fenômeno cultural levou, em 1695, à fundação da primeira gráfica. No século XVIII, a cidade foi renovada com a reconstrução de edifícios públicos e privados, enquanto as ruas e praças foram pavimentadas. A cultura também teve um grande impulso com o florescimento da literatura e o processamento de madeira. Nesse período, Lendinara foi chamada de 'a Atenas da Polésine".

    Entre o final do século XVIII e todo o século XIX, a cidade foi dominada inicialmente pelos franceses e depois pelos austríacos mas finalmente em 1866, ela tornou-se parte do Reino da Itália. Importantes trabalhos de construção foram realizados durante e após a abertura da ferrovia Rovigo-Legnago em 1876. A ponte da Piazza foi reconstruída em 1889 e o novo cemitério foi construído. Entretanto, neste mesmo período, muitos obstáculos se opunham ao rápido progresso econômico, entre eles a pelagra, um tipo de doença comum em toda a província, a ignorância dos camponeses, as conseqüências da inundação do rio Ádige em 1882. As consideráveis ​​dificuldades econômicas causaram greves e também levaram parte da população a emigrar. Entre eles estavam a família Feltrin que emigrou em 1888.

Ramodipalo:

A distância entre Castelguglielmo e Ramodipalo é de 10,4 km e, de carro, o percurso entre as duas cidades é feito em 9 minutos. Augusto Feltrin, ou Agostino nasceu no dia 19/10/1874 em Ramodipalo, Rovigo. Ele era o segundo filho de Felice Feltrin e Luigia Gabrieli. O casal provavelmente morava naquela cidade naquela data. Dois anos depois, em outubro de 1876 Luigia Gabrieli deu a luz à Eugênio Feltrin em Fratta Polésine, um indício de que mudavam-se com frequência e não tinham endereço fixo.

O nome Ramodipalo provavelmente deriva da confluência das águas do rio Pó com o rio Ádige. Esse nome foi usado pela primeira vez oficialmente pelo papa Alexandre III, vivo até 1159, que em um documento da época citou a área ou território à direita do rio Adigetto identificando-o como Ramo di Poazzo. Ele provavelmente fazia referencia a um ramo ou afluente do rio Adigetto. O Adigetto correspondente ao antigo curso do rio Ádige e o Poazzo correspondente ao antigo curso do Pó. O nome Ramo di Poazzo tornou-se Ramodipalo. O povoado foi estabelecido como município em 1804, na era napoleônica, mas foi adicionado ao de Lendinara em 1927, e hoje constitui uma fração de Lendinara. Nos mapas encontramos o nome deste distrito como Ramodipalo Rasa. Em 1869, o município de Saguedo, a pedido de seus habitantes, ja havia feito o mesmo, se unindo a Lendinara. Existe uma ponte sobre o canal Adiggeto por onde se atravessa de Ramodipalo a Rasa, outra fração de Lendinara. Esta ponte foi contruida há cerca de 200 anos, na época de Napoleão. Ao lado dela havia uma pequena casa onde um guardião cobrava o pedágio dos barcos que passavam pelo rio. A paroquia deste povoado chama-se San Giacomo. Quanto a primeira igreja, não se sabe quando foi construida. A igreja atual foi reconstruida e ampliada no século XVIII por Giovanni Baccari. Em 1734 era descrita pelo bispo Giovanni Soffietti como ‘grande, com colunas cobertas de cetim vermelho, coro atrás do altar principal e dois belos coros.’ A família Feltrin pode ter frequentado esta igreja e Augusto Feltrin pode até mesmo ter sido batizado nesta igreja.

Fratta Polésine:

A distância entre Castelguglielmo e Fratta Polesine é de 8,7 km e, de carro, o percurso entre as duas cidades é feito em 11 minutos. Eugênio Feltrin nasceu no dia 06/10/1876 em Fratta Polesine. Isso indica que seus pais Felice Feltrin e Luigia Gabrieli moravam nessa cidade nesta data. Amabile tinha por volta de quatro anos e Agostino, dois. A comuni de Iscrizione da lista di leva é Casteguglielmo que fica à oito quilômetros de distância. A cidade faz fronteira com Lendinara, mas é um município independente.

Fratta Polésine tem cerca de 2.752 habitantes e estende-se por uma área de 20 Km2. As recentes descobertas arqueológicas confirmam que Fratta seus assentamentos remontam à era pré-histórica. No entanto, as primeiras notícias históricas consistentes remontam a 1054, época em que o bispo de Ádria, Bento I, obteve o feudo compreendendo: Vespaa, Presciane, Castelguglielmo, San Bellino e Fratta, então chamada Villa Comeda. Em 1104, os bispos construíram um castelo em torno do qual ocorreram lutas acirradas por sua posse entre os bispos, os Veronenses, os Estensi. O castelo foi repetidamente destruído e reconstruído, até passar às mãos da família Pepoli. Os últimos restos do castelo desapareceram definitivamente no início do século XIX. Em 1395, Fratta passou sob o domínio da República de Veneza até o tratado de paz de Campoformio em 1797. Muitos nobres venezianos construíram lá magníficas casas de campo chamadas de ‘vilas patrícias’, verdadeiros palácios rurais. Entre elas estão ‘vilas’ que foram declaradas patrimônio da UNESCO como por exemplo a villa Badoer construída em 1555. Outro local de importância histórica é a atual igreja de São Francisco. Ela existe desde o início do século XVI e é uma extensão de uma igreja anterior que remonta ao início dos anos 1100. Em uma cripta sob o altar da direita estão os restos do estudioso, matemático e escritor Cav. Giovanni Maria Bonardo, que viveu em Fratta na segunda metade dos anos 1500. Entre as valiosas obras contidas no interior, está o altar de madeira central, atribuído ao Rodigino Caracchio, o retábulo da Assunta no centro do altar, atribuído a Maffei.

Com o congresso de Viena em 1815, cuja intenção era a de redesenhar o mapa político do continente europeu após a derrota da França napoleônica na primavera anterior, Fratta passou para o domínio austríaco e assim permaneceu até 1866, ano da terceira guerra da independência. Neste período muitos personagens da cidade entraram para a história pela dedicação as causas do ‘Risorgimento’ que visava sair do domínio austríaco.

Rovigo – Província e Cidade

Com o congresso de Viena em 1815, cuja intenção era a de redesenhar o mapa político do continente europeu após a derrota da França napoleônica na primavera anterior, Fratta passou para o domínio austríaco e assim permaneceu até 1866, ano da terceira guerra da independência. Neste período muitos personagens da cidade entraram para a história pela dedicação as causas do ‘Risorgimento’ que visava sair do domínio austríaco. 

[Video gravado em julho de 2017 em Rovigo, RO.]

         A distância entre Castelguglielmo e Rovigo é de pouco menos de 30 km e, de carro, o percurso entre as duas cidades é feito em 22 minutos. No atestado de óbito da Amabile Feltrin diz que ela é natural de Rovigo. Sabemos que as cidades de Fratta Polesine, Lendinara e Ramodipalo Rasa ficam na provincia de Rovigo. Como não encontramos o registro de nascimento ou batizado de Amábile, não temos como saber se o atestado de óbito refere-se a Rovigo como município ou província. A títitulo de exemplo, Maria Antonia Boscarato nasceu no municipio de Cavarzere, mas seu atestado de óbito diz que ela era de Veneza, uma província. 

Mas o que é uma província? A Itália é dividida em regiões, províncias e comunas. Um exemplo de região é o Vêneto. As regiões são divididas em províncias. A região do Vêneto é dividida em sete províncias, sendo Rovigo uma delas. Rovigo por sua vez é composta por cinquenta comunas, ou municípios.  Entre elas estão Bagnolo di Pó, Canda, Castelguglielmo, Fratta Polésine, Lendinara, San Bellino e Rovigo, que também é uma cidade. Ramodipalo Rasa é uma fraçao de Lendinara, portanto náo é considerada uma comuna ou município.

O território da província de Rovigo é totalmente plano e se enquadra na região geográfica da atual Polésine, da qual ocupa quase toda a superfície, exceto por uma parte da área dos Grandes Vales Veronese, no extremo oeste e por uma parte do Município de Cavárzere (VE) no centro leste. A província é tradicionalmente dividida em três áreas geográficas, de oeste a leste: o Alto Polésine, cuja capital é Badia Polesine; o Medio Polesine, cuja capital é Rovigo; o Basso Polesine, cuja capital é Àdria.

A cidade de Rovigo é a mais populosa da província com mais de 50.000 habitantes seguida por Ádria, com cerca de 20.000 habitantes. Segundo a mitologia, a área que atualmente constitui a província de Rovigo foi colonizada pelos troianos, que no século XII-XI a.C. também fundaram a cidade de Ádria. O que se sabe, é que ela já era um assentamento nos séculos VI e V a.C., quando foi ‘fundada novamente’ pelos Etruscos. Mais tarde foi ocupada pelos Romanos. Embora a data do seu nascimento seja desconhecida, o nome Rhodigium aparece em documentos do século IX,. Em 920, o Bispo de Ádria, a fim de se ver longe dos ataques húngaros aquela cidade, transferiu temporariamente a sede episcopal de Ádria para uma vila fortificada chamada Rhodigium. Ali formou-se um núcleo habitacional e foi construída uma fortaleza, terminada em 954.

        Os Estensi já estavam presentes em Rovigo em 1117 e provavelmente foram eles que promoveram a expansão da fortaleza no século XII, quando a cidade de Rovigo já se estendia dos dois lados do rio Ádigetto (Ádige). A muralha em torno do castelo foi concluída em 1138. O mastio do castelo, sua torre principal, conhecida como Donà, tem 66 metros de altura e é uma das mais altas torres medievais  italianas. O domínio da família Este em Rovigo estendeu-se por quase três séculos. 

    Com o fim da Guerra do Sal, travada entre os estense Duque de ferrara, o Papa Sisto IV e Veneza, em 1484 Rovigo passou para o domínio da República de Veneza. Após a assinatura do tratado de paz de Bagnolo, passou a fazer parte do território da Polésine. Em 1815 passou para o Estado papal e logo depois para o Reino da Lombardia-Veneza. Em 1851 foi passada pela província de Veneza para Rovigo.

No início do século XIX a economia de Rovigo ainda se baseava principalmente na agricultura e pecuária. O cavalo polésino tornou-se famoso em toda a Europa como a melhor raça de cavalo para rebocar carruagens. Em 1866 passou a fazer parte do Reino da Itália o que  deu um impulso definitivo ao seu desenvolvimento. A cidade foi afetada favoravelmente pela construção da linha férrea Pádua-Rovigo, que foi imediatamente estendida a Ferrara.

San Bellino: (Localitá di nascita)

A distância entre Castelguglielmo e San Bellino é de 4,73 km e, de carro, o percurso entre as duas cidades é feito em seis minutos.  Abramo Sarti, filho de Carlo Sarti e Rosa Viaro nasceu no dia 01/08/1865 em San Bellino , como podemos observar nas informações retiradas da lista di leva. A cidade faz fronteira com Castelguglielmo, Fratta Polésine e Lendinara. A sua distância até Castelguglielmo é de cerca de quatro quilômetros. Muito provavelmente Carlo Sarti visitava o irmão Giuseppe Sarti em Castelguglielmo. Há também a possibilidade de Giacomo ter vindo morar em San Bellino com sua tia Rosa depois que sua mãe, Luigia Munari morreu em janeiro de 1874. Atualmente o município tem cerca de 1.200 habitantes. 

Em 1074, Alberto Azzo d'Este obteve a posse da área para seus filhos Ugo e Folco. Em 1405, começaram as obras de recuperação do território frequentemente inundado pelos rios Po e Adige. O nome da cidade reflete o culto ao santo padroeiro, San Bellino, bispo de Pádua morto em 1147. Em 1482, no final da Guerra do Sal entre a República de Veneza e o Ducado de Ferrara, tornou-se propriedade de Veneza. No início do século XVI, com a recuperação dos territórios pantanosos da Polésina, as famílias venezianas ricas começaram a construir residências dentro de suas propriedades a fim de controlar as atividades produtivas em suas terras. San Bellino, como outros centros rurais nas regiões Polesine e Veneto, era composta por um conjunto de pequenas e grandes propriedades, onde foram construídas a casa de habitação e os anexos rústicos reservados aos camponeses.

Em 1797, com a invasão napoleônica tornou-se domínio francês. Em 1809, depois que o governo francês impôs o imposto sobre as pedras de moer, aumentando assim o preço da farinha, o povo fez um levante e obteve a independência. Em 1815, tornou-se parte do Reino Lombardo-Vêneto, controlado pelo Império da Áustria, e permaneceu assim até a anexação ao Reino da Itália em 1866. 

História de San Bellino (o santo) 

O bispo Bellino viveu entre os séculos XI e XII e trabalhou principalmente nos territórios da diocese de Pádua para resgatar algumas questões relacionadas ao fato de muitas famílias possuírem injustamente terras pertencentes à Igreja. Foi por causa dessas divergências que Bellino foi assassinado. A história diz que Bellino foi atacado por alguns cães e jogado no chão por seu cavalo quando os assassinos o atingiram repetidamente até sua morte. Os habitantes do local onde hoje é Fratta Polesine encontraram o corpo que foi temporariamente enterrado na pequena igreja de San Giacomo di Lugarano, perto de Fratta. Eventos políticos e inundações desastrosas impediram o enterro final por mais de 60 anos. Uma vez cessado o flagelo das águas que destruíram a capela de S. Giacomo, os restos sagrados, reunidos em uma urna de mármore primitiva e áspera, foram enterrados na Igreja Colegiada de San Martino di Variano, o atual S. Bellino. Aparentemente, a partir desse momento, ocorreram alguns milagres, em particular a cura da raiva. Em 1774, o Papa Clemente XIII elevou a Igreja de San Bellino à Basílica e estabeleceu que em 26 de novembro seria celebrado o santo padroeiro da cidade, coincidindo com o mesmo dia do aniversário de sua morte. O caminho do turismo religioso, portanto, tem um começo ideal da igreja desaparecida de San Giacomo, de onde se chega então ao oratório existente da primeira etapa. 

Fontes e referencias:

  1.  Bagnolo de Pó – Storia Bagnolo de Pó - http://www.comune.bagnolodipo.ro.it
  2.  Cavárzere - Blog Parlando D’Itália - http://parlandoditalia.blogspot.com
  3.  Cavarzere Storia - http://www.cavarzere.it/storia.asp
  4.  Comune Fratta Polesine - http://www.comune.frattapolesine.ro.it/cenni-storici.html
  5.  Lendinara - http://www.comune.lendinara.ro.it/storia-della-citta.html paginas 1 a 7
  6.  Ramodipalo - https://lendinara.italiani.it/ramodipalo-il-ponte-con-rasa-e-la-chiesa-di-san-giacomo/
  7.  Rovigo – Provincia de Rovigo:  http://www.regioveneto.it/pt/veneto/rovigo-2/
  8. Rovigo - http://italia.indettaglio.it/ita/veneto/rovigo_sanbellino_presciane.html
  9. San Bellino - https://www.comune.sanbellino.ro.it/it/page/storia-5a0f6bd8-cb86-4c9a-adfe-545fcd492ec8
  10. San Belino (Santo) - http://www.diocesiadriarovigo.it/san-bellino-patrono-della-diocesi/



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9 - Os patriarcas

Depois de muito tempo buscando e colecionando documentos e informações, eu tinha um mosaico histórico da família. Eu sabia de onde eles vieram e quando chegaram ao Brasil. Giacomo Sarti, Felice Feltrin e Felice ‘Bon’ Tiozzo com seu filho Carlo Tiozzo foram os emigrantes que fizeram a travessia do oceano Atlântico a fim de iniciar uma nova vida e formar novos clãs no Brasil. Eles tornaram-se os patriarcas de novas famílias aqui. Segundo o dicionário 1 , patriarca é um chefe de família, por extensão de sentido pessoa mais velha que se respeita, obedece e venera e que tem grande família. Neste sentido, os três emigrantes da minha família eram patriarcas. Felice Feltrin veio casado com Luigia Gabrieli e seus filhos e esses aqui se casaram e tiveram vários filhos. Os outros dois emigrantes, Giacomo e Carlo vieram jovens, ainda solteiros. Aqui casaram-se e tornaram-se patriarcas. Farei um breve relato de cada um deles, baseado em fatos e nas informações coletadas nos documentos encontrado

13 - Castelguglielmo

Quando eu perguntava ao meu pai:  “ De onde vieram os seus avós ?” Eu esperava a seguinte resposta: “ Eles vieram de uma cidade chamada Castelguglielmo, que fica na província do Vêneto na Itália. ” Mas como disse antes, a resposta era simplesmente: “ Da Itália !” Depois de montar um verdadeiro quebra-cabeça eu finalmente cheguei à cidade onde Giacomo Sarti, meu bisavô nasceu: Castelguglielmo .      O membro mais antigo da família a que eu cheguei, rastreando registros de óbitos, casamentos, batismos e nascimentos foi Giovanni Sarti meu tetravô (tataravô). No site do FamilySearch descobri que ele foi casado com Cattarina Romanieri. Um dos filhos do casal foi Giuseppe Sarti, meu trisavó. Seu filho foi Giacomo Sarti, meu bisavô, que emigrou da Itália para o Brasil. Giuseppe Sarti e Luigia Munari moravam em Castelguglielmo quando Giacomo Sarti nasceu no dia 29/11/1864. Na lista di leva de Giacomo Sarti indica que ele nasceu nesta cidade, pois ali consta que a ‘ comune de inscrizione ’ é C

12 - A Mesopotâmia italiana

A palavra mesopotâmia quer dizer ‘terra entre rios’. 1 Aqui refere-se a uma área específica no Vêneto, Itália chamada Polesine (pronuncia-se Polésine), importante em nossa história, pois nela encontra-se a maior parte das cidades onde nasceram, viveram e morreram alguns membros das famílias Sarti, Feltrin e Tiozzo. Nos documentos destas famílias encontramos a menção das seguintes cidades: Bagnolo de Pó, Castelguglielmo, Carvazere, Chioggia, Fratta Polesine, Lendinara, Ramadipalo, Rovigo, San Bellino, e Veneza, todas no Vêneto.  A Polésina é um território situado ao norte da Itália entre os trechos finais de dois rios importantes, o Ádige e o Pó. Além desses dois rios ainda há o Tártaro-Canalbianco, o Adigetto, uma derivação do Ádige, o Ceresolo, um canal artificial de 50 km usado para irrigação e uma densa rede de canais de drenagem. Os rios, lagoas e pântanos ligavam as comunidades próximas, garantiam abastecimento de água e alimentos. Por isso, as primeiras áreas habitadas surgiram