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22 - Na fazenda Dumont

Em dezembro de 2019 fiz uma viagem com minha mãe e Idalina, minha prima até o município de Dumont, SP onde ficava a antiga fazenda Dumont de Henrique Dumont. Eu queria saber mais sobre a fazenda e sua história. Hoje não existe quase nada que lembre aquele tempo. A prefeitura funciona no casarão onde morava a família de Henrique Dumont. (fotografia abaixo) Há também pela cidade, algumas ruínas de armazéns, mas as casas dos colonos estão muito descaracterizadas, pois foram alteradas com várias reformas feitas pelos moradores. Um morador da cidade nos disse que o traçado das ruas segue o traçado original onde ficavam as casas da colônia. Mas não há provas disso. Não há, nem mesmo resquício do ramal ferroviário por onde era escoado o café. Tirei fotografia de um prédio em ruínas, que pode ter sido um dos armazéns perto da estação. Há muito pouco, que jogue luz no modo de vida dos colonos no final do século XIX. No centro cultural da cidade estão expostos objetos da família Dumont como talheres, louça de chá e café, fotografias da fazenda e da família e até uma escrivaninha que ficava no quarto de Alberto Santos Dumont.  Do outro lado da Avenida Vinte e Um de Março, há um casarão branco para onde foi transferida a sede da fazenda depois que Henrique Dumont a vendeu para os ingleses. 

Um artigo sobre a cidade diz que “hoje restam a casa da fazenda e mais algumas casas, espalhadas pela cidade, principalmente em sua parte baixa. A estação de Dumont ficava junto com as casas dos funcionários e do telégrafo, na fazenda Dumont. Hoje este conjunto fica a cerca de um quarteirão da praça central da cidade [na rua José Bruno Decare, em frente a praça dos idosos], e numa das casas funciona o cartório. A plataforma de embarque e sua cobertura, que ficavam ao longo das casas, já não mais existem. Sobraram também as memórias de Ângelo Lorenzado, italiano de 93 anos (em 2001), morador da cidade que era aparentemente o último funcionário vivo da ferrovia, tendo sido um de seus maquinistas. (...) Por quase todo o seu leito [local onde assentava o lastro da ferrovia] passa hoje a rodovia Ribeirão Preto – Pradópolis [Rodovia Mário Donegá].” 1  

A rodovia que liga as cidades de Pradópolis a Ribeirão Preto, passando pelo município de Dumont, chama-se Mario Donegá. Lembrei que no grupo de imigrantes do Giacomo Sarti, havia um menino de quatro anos, filho de Natalle Donegá e Maria Sarti. Seria ele o mesmo Mario Donegá? Voltei para casa com mais perguntas! Fazendo uma pesquisa no site Familysearch encontrei um Aristodemo Mario Donegá nascido em 1884, filho de Natale Donegá e Maria Sarti, que casou-se aos 23 anos com Pierina Maria Luigia  Berveglier em Fiesso Umbertiano, Rovigo, Itália em 1907. Não sei se casou e voltou para o Brasil depois ou ficou vivendo lá. Tinha duas irmãs, Assunta Maria Donegá e Vittorio Donegá. 

Chamou-me atenção a cor vermelha escura, quase marrom do solo. Subi a Rua Jacinto Monteiro até a rotatória da Rodovia Mário Donegá (SP-291) no topo de uma colina e de lá, tinha à minha frente a vista da paisagem ondulante e verdejante a perder de vista. Imaginei o panorama que se tinha daquela área em 1888, tomada por plantações de café seguindo em toda a direção e sumindo no horizonte. O calor também era insuportável e o suor brotava dos poros e molhava minha roupa. O calor deveria ser também intenso no verão de 1888 quando os membros de nossa família chegaram à fazenda. E pra piorar, eles usavam roupas escuras e de tecido mais grosso. As mulheres usavam saias longas até os pés e lenços nas cabeças. Como suportavam o intenso calor de dezembro a março? 

Soube que havia mais de uma colônia na fazenda, entretanto, é impossível saber em que parte da fazenda Giacomo Sarti, Felice Feltrin e Felice Tiozzo moravam e trabalhavam. A única informação que temos, no documento da pousada do Imigrante de 1911, é que Giacomo havia morado naquela fazenda por vinte anos. Depois desta viagem e as leituras que fiz, tentei fazer um retrato da fazenda Dumont em 1888. 



Casa Grande e Colônias

Imagino a chegada de um grupo grande de imigrantes em varias carroças puxadas por animais à fazenda. Olhavam curiosos para todos os lados tentando absorver a paisagem em volta que era um mar verde de café até verem as construções da sede da fazenda. As fazendas do interior de São Paulo tinham uma estrutura parecida. Havia a casa do fazendeiro, chamada de sede, uma ou varias colônias espalhadas pela fazenda e possivelmente outras casas onde moravam os administradores, fiscais e feitores responsáveis por essas colônias.  Na fazenda Dumont, havia também um tronco de ferrovia que percorria a fazenda e vários armazéns onde eram as sacas de café eram guardadas antes de serem carregadas nos vagões. Uma fotografia de 1913 mostra um imenso terreiro de secagem na fazenda Dumont. 

Certamente havia várias carroças e animais como bois e mulas que levavam as sacas de café até os armazéns, e também o movimento de homens descarregando e empilhando os sacos de café aguardando para ser carregados, capatazes e administradores cavalgando pela fazenda vistoriando o cafezal. Havia também açudes e pasto para os animais.

 Os trabalhadores da fazenda moravam nas colônias. Era comum nas fazendas de café existir mais de uma colônia e cada uma delas ter trabalhadores de uma determinada nacionalidade como espanhóis, portugueses. Algumas descrições de colônias da época falam de fileiras de casas em linha reta com paredes de bambu preenchidas com barro e cobertas de capim.  Fazia parte do contrato de trabalho fornecer um local para os colonos habitarem, mas nem sempre eram de boa qualidade. Nas paredes teriam frestas onde se escondiam percevejos, bicho-de-pé e outros parasitas que infernizavam os moradores à noite. Geralmente as casas eram germinadas, ou seja, era uma construção dividida em duas partes, formando duas casas distintas.  Em cada casa morava uma famílias. Não havia privacidade e as famílias ouviam tudo o que os vizinhos diziam e faziam: conversas, planos, brigas, choro de crianças e blasfêmias. Dentro da casa, o chão era batido e havia um fogão a lenha. Atrás das casas havia um terreno ou quintal onde podiam plantar verduras e criar animais como uma vaca, um porco, algumas galinhas. A fotografia acima não é da fazenda Dumont, mas demostra como eram as colonias nas fazendas. 

Pode ser que, Henrique Dumont, por ser europeu, tivesse uma visão diferente dos fazendeiros brasileiros, que por anos tiveram escravos, e por este motivo, tivesse tido a preocupação de construir casas nas colônias com melhor qualidade, mas não temos como comprovar isso. De qualquer forma, uma das primeiras diferenças que os imigrantes notaram, foi o fato das casas não serem anexadas às estribarias, como eram nas propriedades do Vêneto. Também o fato da fazenda ser enorme e haver tantas pessoas habitando e trabalhando nela.

Provavelmente tiveram um ou dois dias para se instalarem e se organizarem e também aprender como seria a nova rotina de trabalho. Os patrícios que chegaram antes deles com certeza os ajudariam nesta tarefa. Eles não tinham praticamente nada, por isso, precisariam providenciar moveis e utensílios domésticos para a casa. Possivelmente trouxeram algumas poucas roupas de cama e banho, e algumas ferramentas para usarem na horta, mas teriam que comprar muitas coisas.

 A Venda:

Outra construção importante da fazenda era a venda, ou bodega (local onde se vende mercadorias). Em praticamente todas as fazendas havia um bodega. Nela vendia-se de tudo, desde utensílios para a casa como cobertores e fósforos, até alimentos como feijão, farinha de milho, sal, e queijo. Os imigrantes podiam também comprar galinhas vivas para botarem ovos e sementes para começar a horta de verduras. Alguns já se endividavam logo no início comprando uma vaca com um bezerro, para o leite das crianças. 

As bodegas pertenciam ao fazendeiro, por isso os colonos não precisavam pagar no ato da compra. O encarregado da venda anotava tudo em uma caderneta e depois da colheita, por ocasião do pagamento, descontavam as dividas. Chegava a época da safra, pagavam o fazendeiro, o médico, os remédios, a roupa e a comida, e ainda ficavam devendo. Comprar mercadorias fora da fazenda era mais barato, mas os colonos precisavam esperar receber o dinheiro da safra para fazer compras. Alguns fazendeiros davam notas promissórias, ou ordens de pagamentos aos colonos. Eles podiam comprar em armazéns específicos na cidade e pagar com as tais notas, que seriam descontados depois da colheita.

Este sistema vigorou por muito tempo. Segundo minha mãe, seus pais faziam uso de tal sistema por volta de 1950 enquanto eles moravam em uma fazenda na região de Monte Azul Paulista, SP. Enquanto devessem dinheiro ao patrão, não podiam deixar a fazenda. Estavam presos ao contrato de trabalho que estipulava o tempo em que deveriam ficar na fazenda. Há muitos relatos de que os que tentavam fugir, eram trazidos de volta, muitas vezes sob humilhação. Aquela dívida inicial atrasava o sonho de juntarem algum dinheiro para emergências, sonhos e planos futuros. Por este motivo, assim como faziam na Itália, tinham que controlar a quantidade da comida, evitar desperdício e gerir as economias com parcimônia. As futuras gerações, sem entender, acabaram os qualificando como avarentos e ‘mãos de vaca’. O antropólogo e escritor Darcy Ribeiro fala sobre isso no seu estudo sobre O Povo Brasileiro:

“As novas fazendas, estruturadas de acordo com o sistema de colonato se fazem progressivamente monocultoras e, simultaneamente, acrescentam à plantação um elemento a mais, que é o barracão. Aí, o fazendeiro se faz comerciante para prover aos colonos de tudo que necessitam, mas também para recuperar o máximo dos salários pagos. Assim, os contratos mais vantajosos e já monetários passam a deteriorar-se para o trabalhador rural, sujeitos a duas reduções. Primeiro, a inflação que diminui substancialmente o valor dos contratos de plantio de café, geralmente de quatro anos. Segundo, a exploração nos fornecimentos feitos pelo barracão. Nessas circunstancias, o colono só conseguiria poupar à custa de uma compressão violenta de seus gastos, permanecendo a maioria deles jungida ao sistema por dívidas insaldáveis e vendo esvair-se sempre a suspirada oportunidade de se fazerem granjeiros.” (O Povo Brasileiro - P 401)

O Trabalho na fazenda: 

Uma vez instalados, começavam a trabalhar. Para que a onde de café prosseguisse na invasão de terras virgens, trabalhadores temporários derrubavam a mata e limpavam o terreno, mas logo atrás vinham os colonos. Eles aravam o novo território e plantavam as mudas de café. As famílias que faziam contrato por cinco anos deviam plantar os pés de café e cuida deles desde pequenos. Geralmente, cuidavam de uma área com pés novos, e outra área com o cafezal já formado. Do contrário, como receberiam salários na época da safra? Nos primeiros anos, tinham que trabalhar praticamente em dobro. 

Precisavam capinar o cafezal três vezes ao ano, podar e carregar os galhos para longe dos pés. Depois precisavam colher os grãos, peneirar, secar, ensacar. Segundo os meus tios, que trabalharam muito tempo em cafezais, cada família cuidava de uma média de cinco mil pés de café. O trabalho era realizado por toda a família, incluindo as crianças. O cafezal era onde passavam a maior parte do dia. Ali trabalhavam, comiam, faziam suas necessidades, escondidos entres os cafeeiros, as crianças brincavam sob o olhar atento das mães, as mulheres amamentavam seus bebês. Havia muita intimidade e pouca privacidade. (Fotografia meramente ilustrativa)

Mesmo sendo a Dumont uma fazenda com produção automatizada, o trabalho de plantação do café, cuidar dos pés e derriçar, retirada dos grãos, era manual. Os colonos colhiam e beneficiam o café, ensacavam e carregavam os vagões de trem com as sacas cheias do grão. Se houvesse necessidade de mudar objetos de lugar ou limpar as tulhas, eram os colonos que executavam o serviço. Os capatazes faziam uma rigorosa inspeção das tulhas, lavador-separador, terreiro e secador. Não era permitida a armazenagem de outros produtos agrícolas nas tulhas, bem como de insumos, pois o café absorve, com muita facilidade, odores estranhos. 

O terreiro, que ao longo do ano servia para tantas outras finalidades, deveria servir exclusivamente para secagem do café na época da colheita. Deveria ser bem varrido, lavado, desinfetado e cercado, se houvesse necessidade, pois o café pode facilmente ser contaminado. O terreiro também passava periodicamente por reforma para eliminar gretas e rachaduras, visando facilitar a operação de secagem e evitar a retenção de grãos que se deterioram ao permanecerem ali retidos, com riscos de contaminar o café. A fotografia acima está exposta no Centro Cultural da cidade de Dumont.

Em muitos casos, eram também os imigrantes que abriam as estradas de ferro, construíam os vagões, mantinham e dirigiam as locomotivas na fazenda. Os colonos deviam trabalhar na manutenção dessa ferrovia também.  Em épocas de seca, algumas vezes eram chamados para apagar incêndios no pasto, em florestas ou nos cafezais.  Algumas moças e mulheres casadas eram contratadas para trabalhar na casa grande da fazenda como babás ou cozinheiras e fazer a limpeza ou lavar roupas. Geralmente só eram liberadas para voltar para suas casas após o anoitecer. Nesse caso, recebiam um salário por esse serviço.

Nem tudo ocorria conforme o planejado. Por exemplo, os pés de café novos não produziriam boas safras quando adultos se no inverno houvesse geado. Se morresse um pé de café, o capataz acusava o colono de não ter cuidado dele corretamente. Se o gado escapasse poderiam pagar multas. A vida na nova terra não foi nada fácil. O trabalho era muito pesado e mal remunerado. Frequentemente surgiam reclamações de maus-tratos e abusos cometidos pelos donos da terra e muitos casos iam parar na delegacia de polícia.

Conflitos

Há vários trabalhos acadêmicos e artigos que fornecem detalhes interessantes do cotidiano dos colonos e sobre os conflitos que surgiam entre eles e os fazendeiros. Entre alguns trabalhos e artigos que li sobre o assunto, gostaria de destacar o trabalho de Maria Angélica Garcia baseado em processos criminais, e relatos de litígio e desavenças entre fazendeiros e trabalhadores rurais na região de Ribeirão Preto no período entre 1890 e 1920.2

Desde a libertação dos escravos e a chegada dos imigrantes europeus, estabeleceu-se uma nova forma de exploração do trabalho chamada de colonato. O fazendeiro e o colono tinham um combinado: “o suprimento de gêneros alimentícios e a garantia de oferta de trabalho com o seguinte sistema de remuneração: pagamento fixo pelo cuidado do cafezal, pagamento proporcional pela quantia de café colhido e a produção de alimentos como meio de vida e como excedentes comercializáveis pelo próprio trabalhador, obrigando-se o fazendeiro a permitir o plantio destes gêneros entre os pés de café em crescimento, e quando a árvore já estava formada, impossibilitando o plantio desses gêneros, a reservar uma área para que o colono continuasse a cultivar os gêneros de primeira necessidade (feijão, milho, arroz).”

Havia uma divisão organizada do trabalho regida por uma severa disciplina de trabalho com cumprimento de horários e regulamentos com controle rigoroso do trabalho, produtividade, quantidade de café colhido, transporte, e das saídas e entradas de pessoas na fazenda. Cada família era encarregada de certo número de cafeeiros e cuidar do “talhão”, uma área contínua do cafezal e a colheita era realizada pelas famílias de colonos.

Entretanto, havia muitas reclamações principalmente contra os administradores, fiscais e feitores das fazendas de café na grande maioria, brasileiros, indicando que ainda persistiam em utilizar formas de controle similares aos do período da escravidão. Em muitas fotografias das fazendas de café, é recorrente a figura do capataz sobre um cavalo percorrendo as plantações de café.

Os antigos camponeses italianos, não aceitariam esta forma de tratamento sem resistência. Nas declarações das testemunhas fica claro que os imigrantes trabalhavam arduamente, mas não estavam dispostos a aceitarem condições de trabalho que não respeitavam o que fora estipulado nos contratos. O resultado era desavenças, brigas e até mesmo casos de violência que iam parar nos tribunais de Ribeirão Preto. Entre os processos criminais, e relatos de litígio e desavenças entre fazendeiros e colonos havia pedidos de apuração sobre denúncias de maus-tratos na fazenda de Henrique Dumont, em 1888. Segundo Maria Angélica Garcia, as denúncias se estendiam a outros fazendeiros da região como segue:

“Um exemplo do teor dos discursos oficiais verifica-se numa declaração de Rodrigues Alves, então presidente da Província de São Paulo em 1888, em ofício dirigido ao ministro da agricultura, respondendo ao pedido de apuração de denúncias apresentadas a ele sobre maus-tratos que colonos italianos estariam recebendo na fazenda de Henrique Dumont, em Ribeirão Preto. Esta denúncia estendia-se a outros fazendeiros locais como Martinho Prado Jr., João Franco, Luís da Silva Rosa e José Melo que estariam surrando colonos e mantendo-os em péssimas condições. Rodrigues Alves refutou as denúncias defendendo os fazendeiros acusados, qualificando-os como figuras respeitáveis na sociedade — “dignos e progressistas”

Bernardino Frescura, geógrafo italiano de Vicenza, produziu textos sobre emigração italiana, a expansão comercial italiana no exterior e as vias de comunicação (ENCICLOPEDIA TRECCANI). O autor esteve em São Paulo e dedicou um capítulo para descrever o que viu aqui. Em 1904 ele publicou um texto em sua Guida dello Stato di S. Paolo nel Brasile descrevendo os tipos de fazendeiros de São Paulo: (Pacenza, 1904, ás páginas 126 e 127):

“Por causa da grave crise econômica que atravessa o Estado de São Paulo, devido à desvalorização do café, muitos fazendeiros hipotecaram suas fazendas, por isso não podem respeitar os contratos com seus colonos, de tal maneira que não são pagos os seus salários. Quem conhece bem esses lugares divide os fazendeiros em cinco categorias: 1 – Quarenta por cento são honestos, pagadores escrupulosos a custo de qualquer sacrifício. 2 – Dez por cento são honestos, mas péssimos pagadores, porque privados de meios, estes procuram providenciar o mantimento dos colonos durante o anos, como melhor podem, deixando em crédito aqueles que, terminando o contrato, ficam em suas fazendas, e procuram pagar integralmente aqueles que se mudam ou saem. 3 – Dez por cento, são bons, abastados, mas péssimos pagadores por oportunidade: esses não maltratam os colonos, matem-nos bastante bem, mas guardam o dinheiro para usufruir os benefícios e para evitar que as famílias possam abandonar a fazenda. 4 – Dez por cento são péssimos pagadores, porque as suas fazendas estão longe das cidades e das vais de comunicação, por isso tratam como bem entendem os agricultores, os quais não podem fugir devido às grandes distancias e pela falta de boas estradas. 5 – Trinta por cento são desonestos, de má fé e péssimos pagadores por sistema (costume): portanto, não só não providenciam o necessário aos colonos, mas maltratam-nos, sobrecarregam-nos de multas injustas e exageradas, tanto que os pobrezinhos se encontram sempre em dividas com o feroz patrão e, quando à custa de todo tipo de privação alguém consegue ter algum crédito, não vem ressarcido do seu haver, mas espancado a pauladas até sangrar, se ousa pedir o que é dele.” 

Esse foi o clima que Giacomo e os outros imigrantes encontraram em São Paulo, mesmo que essa nota tenha sido escrita muitos anos depois.  Ainda assim, eu colocaria o Henrique Dumont na categoria 1, e na pior das hipóteses na categoria 2. Primeiro porque ele era um dos reis do café, assim sendo, tinha capital e recursos. Segundo, o meu bisavô Giacomo Sarti só saiu da fazenda em 1909, quase vinte anos depois de ter chegado lá. O fato de não ter mudado de fazenda pode ser indicativo de que as condições de trabalho eram boas e os problemas suportáveis.

Esses conflitos não se restringiam somente a questões de trabalho, mas também na vida privada dos imigrantes com “intromissão no âmbito das questões consideradas particulares, ou seja, de interesse exclusivo da família trabalhadora no espaço reservado à moradia.” Os fazendeiros também aplicavam multas pesadas com o objetivo de endivida-los e obrigar a permanência do colono na fazenda. As “multas variavam entre 20 e 50 mil réis por infração, de acordo com o regulamento específico de cada fazenda”. No momento de “receber, o pagamento acabava, muitas vezes, com saldo negativo, ficando ainda em débito com a fazenda devido às multas e o “acerto” da distribuição de gêneros alimentícios efetuados pelo proprietário aos colonos.

Como em qualquer caso de litígio, deve-se ouvir os dois lados para se poder fazer justiça. Se de um lado havia as denúncias feitas pelos imigrantes, do outro lado havia os que defendiam os fazendeiros, entretanto, eles mesmos também fazendeiros. Por exemplo, em um número da Revista Agrícola, mantida pelo Estado, publicada em 1898, o conde Antonelli, um nobre italiano, reconhece que havia evidências de maus tratos, mas declarou que “as autoridades brasileiras se põem ao lado dos pobres e desprotegidos estrangeiros, assegurando-lhes justiça contra a gente rica e poderosa.” E em defesa dos fazendeiros, passa então, a descrever as boas impressões que teve da fazenda de Francisco Schmidt, da fazenda Dumont, da Companhia Agrícola Ribeirão Preto e da fazenda de Dona Veridiana Prado.

Para contrapor este discurso da classe dominante, Maria Angélica Garcia aponta o outro lado, ou seja, as declarações feitas pelos trabalhadores nesses processos criminais referente aos conflitos que resultaram em agressão, já mencionado anteriormente.

Entre as formas de resistência e protestos estavam as greves. As greves de 1912, citadas tanto na fazenda Dumont, mas também do Cel. Schmidt são relevantes se lembrarmos de que as famílias Feltrin e Tiozzo possivelmente trabalhavam nelas. Em 1911, ao voltar da Argentina, Giacomo Sarti voltou a trabalhar na fazenda Dumont ou em uma das fazendas de Schmidt. Maria Angélica nos conta sobre as greves:

“Na greve de 1912, iniciada pelos colonos da fazenda Iracema, de propriedade de Francisco Schmidt, as reivindicações de melhores salários foram atendidas. A partir de um relato escrito por um participante anônimo, publicado no jornal anarquista La Battaglia, apresenta-se o desenrolar do movimento grevista que adquiriu grande organização dos colonos e uma maior mobilização. Este participante anônimo curiosamente assinava o relato como “Um Socialista” (...) [Os trabalhadores] tiveram suas reivindicações atendidas e setenta famílias passaram a receber 600 réis por 50 litros de café colhido.”

Portanto, todos eles estavam sujeitos às tensões que provocaram tais greves. Eles as presenciaram, reagiram de alguma forma a elas e também sofreram as consequências, tenham sido elas positivas ou negativas.

Vida Privada

Como na Itália, a vida não se resumia apenas ao trabalho. No final de dia, os homens guardavam as ferramentas e se encontravam em frente a venda para conversar e jogar. Alguns jogam ferradura e cartas, e bebiam aguardente em copos de barro, novos hábitos aprendidos com os brasileiros. No verão, os moços tomavam banho no açude no caminho da roça pra casa. Na colônia grupos de homens e mulheres colocavam as cadeiras pra fora de casa pra conversar enquanto as crianças corriam e brincavam entre elas e com cabras amarradas do lado de fora. Certamente havia encontros escondidos entre moços e moças à noite em algum lugar da fazenda. Houve uma adaptação do 'filó', os encontros feitos nas estribarias no Vêneto onde se contavam histórias, riam e se divertiam conversando, fora agora transferido para a área externa da casa, já que o clima quente os expulsava pra fora. Mesmo no inverno, nem de longe tão frio como no norte da Itália, nas noites frias, acendiam uma fogueira em frente a uma das casas e contavam suas histórias. Falavam da velha pátria e da saudade que sentiam, e também aprendiam sobre os costumes dos brasileiros e da nova pátria.  A noite era curta, calada e escura, iluminada pelas estrelas e a lua e algumas lamparinas que se via pelas janelas abertas.  Logo rezavam um terço e iam para a cama. No silencio, ouviam o cão ladrando ao longe e adormeciam. No dia seguinte se levantavam antes do nascer do sol.

 Amanhece o dia, os galos cantam, as galinhas correm soltas pelo terreiro, e logo já estão tirando leite das vacas. O capataz toca o sino pra avisar que é hora de saírem pra trabalhar. Logo há várias filas de colonos com enxadas nas costas indo para os cafezais enquanto outros vão para seus postos pra carregar nas costas sacos de café até as carroças ou carpir o mato do 'terreirão'. Nas cozinhas as mulheres começam o almoço no fogão a lenha pra levar para os colonos que estão na roça. Essa rotina de trabalhar, comer e dormir era quebrada com banalidades como uma criança experimentando os primeiros passos, a chuva na fazenda que traz o cheiro de terra molhada. 

Giacomo Sarti era solteiro e morava com o primo Abramo, a tia Rosa, a prima Maria, seu marido Natale Donegá e Mário, o filhinho. Os três homens trabalhavam juntos no café e até imagino eles carregando sacas de café nas costas fazendo disputa pra ver quem carregava mais sacas e mais rápido. Os homens trabalhadores eram considerados um bom partido para casamento e com 24 anos de idade, Giacomo e Abramo já estavam preocupados em começar suas famílias.

Domingo era um bom dia para selecionar as moças em idade de casamento. Devemos lembrar, que os italianos não eram chegados a tomar banho, mas sábado a noite era o dia de tomar banho e fazer a barba. Se não podiam ir até a igreja na cidade, no domingo, reuniam duas ou três famílias e rezavam o terço em alguma casa. Quase todas as famílias montavam altares em suas casas com fotos de santos. Faziam almoços comunitários, e como na Itália, se reuniam para conversar, cantar, tocar música, dançar, namorar. Era também dia de descansar do pesado trabalho da semana.

Histórias de fazendas:

No verão, o banho era tomado nos rios ou açudes. No inverno em algum cômodo reservado da casa. A água depois de esquentada no fogão à lenha era misturada em um balde e com ela lavavam as mãos, o rosto e as partes intimas.  Não havia banheiro dentro de casa.

Quem morava na roça, fazia as necessidades em uma pequena construção chamada de patente ou latrina. Eram cubículos feitos de madeiras construídos afastado da casa, nem tão perto, nem tão longe, às vezes debaixo de uma árvore, ou próximo a um riacho. Eram cobertas por sapé ou telhas chatas. Abrindo-se a porta, havia um pequeno banco, com um buraco no meio onde o usuário se sentava para fazer as necessidades. Embaixo havia uma fossa onde os dejetos caiam. Deixavam dentro da patente, sabugos de milhos para os usuários se limparem e alguns deixavam cinza para se jogar após o uso, para diminuir o cheiro desagradável. As portas eram trancadas por uma tramela do lado de dentro e também do lado de fora. Geralmente, uma patente era de usada por mais de uma família. E durante a noite, era iluminada por uma lamparina. Depois de meses de uso, quando a fossa enchia, mudava-se a patente de local, ou seja, retiravam a pequena construção e a carregavam inteira sobre uma nova fossa. A antiga era coberta com terra. Quando alguém ia usar a patente, outra pessoa ia quietinha e virava a tramela trancando a pessoa lá dentro. Crianças caiam dentro das patentes e tinha que ser resgatadas pelos mais velhos. Por isso, pediam para as crianças não trancarem as portas.

Para apanhar água para beber ou cozinhar, havia poços de água ou fontes onde os moradores pegavam água com baldes ou porongos, recipientes de cabaça. Em alguns casos, sob a fonte, havia um tanque para as mulheres lavarem as roupas, mas a maioria lavava em riachos na fazenda.  

Além da cachaça, aos poucos começaram a experimentar feijão, arroz à moda brasileira. Alem da aguardente, conheceram o charque e a mandioca. Começaram a comer frutas como bananas, mangas, jaboticabas, mexericas e abacaxis. Mas aqui também faziam e ainda se alimentavam da polenta, o prato do dia a dia deles e ensinaram aos brasileiros como fazê-la. Aos domingos preparavam macarronada com molho de tomate, para matar as saudades da Itália. Na bodega ou na cidade se podia comprar vinho e queijo.

Quando necessário, o fazendeiro trazia o médico até a fazenda. As consultas e os remédios eram caros, e como não tinham dinheiro, tudo era anotado na caderneta do patrão para ser pago na época da safra. Casos mais graves eram tratados em hospitais nas cidades.  Havia casos de roubo, dos mais simples, de galinhas até novilhas, já gordas. Para grande parte dos colonos imigrantes, a vida não era fácil. Sentiam faltas de uma enfermaria, escola, e até mesmo uma capela onde rezar. A capela era só do fazendeiro que só abria quando vinha o padre fazer a desobriga, casar, batizar, rezar a missa. Havia também a questão do idioma. O patrão, os capatazes e os padres falavam português. Além de alguns trabalhadores brasileiros, havia também imigrantes portugueses e espanhóis. No inicio pouco se entendiam.

O homem, a mulher e seus papéis

A mulher tinha um papel importante na família italiana, assim como a mulher e mãe brasileira. Dentro do contexto do século XIX, entendemos que a mulher não tinha a liberdade que desfruta hoje, mesmo as mulheres que moravam na casa grande. Quem decidia o que está certo ou não era o marido e pai. Ser filha do fazendeiro, não era garantia de ser alfabetiza e os casamentos eram arrumados entre os fazendeiros. A moça deveria ser recatada e prendada. Não se aceitava o casamento entre filhos de patrões com imigrantes. Entretanto, o filho do patrão rodeava moças italianas quando as viam sozinhas. Na cidade os moços agarravam as moças, empregadas da casa, enquanto penduravam a roupa no varal. Era elas quem tinham que se defender. Alguns fazendeiros mantinham uma mulher italiana na cidade como amante, e casavam-se com a mulher escolhida pelo pai.

As mulheres em geral, eram as primeiras a se levantarem, muitas vezes, antes do sol nascer. Elas ou uma das filhas tiravam o leite da vaca, coavam o café e cortava o pão. Os homens levantavam, comiam e se arrumavam para ir para o cafezal. As mulheres, brasileiras ou italianas, passam o dia na cozinha. A maioria das mulheres imigrantes trabalhava lado a lado dos homens, quer fossem seus pais ou maridos, na lavoura do café e também em casa quando chegavam da roça. As filhas mais velhas ajudavam a criar os irmãos menores, enquanto a mãe ou ia à roça. Começavam a trabalhar com enxada aos seis anos. Logo sabiam usar machado pra cortar lenha. Casavam cedo, entre 16 e 20 anos.

Depois de casadas, normalmente iam morar com a sogra, como era costume na Itália. Levantavam cedo, davam de mamar ao filho menor, programavam o almoço e cozinhavam, colocavam em caldeirões e levavam o almoço até a roça para os homens comerem. Às vezes ficavam lá pra ajudar, ou se não fosse época de colheita, voltavam com as tralhas para casa, as vezes um filho ao colo. Quando os filhos ficavam mais velhos, digo aos sete anos de idade, um deles fazia este trabalho de levar a comida no cafezal, e ficavam lá ajudando a capinar. Em casa, a mulher aguava a horta de verduras e legumes, colhia verduras, tratava os porcos, buscava água na fonte encaminhava a janta. Servia a comida ao marido e aos filhos e só se servia depois que todos eram servidos. Depois de comer, lavava a louça, remendava quando necessário, muitas vezes sob a luz de uma lamparina.

Um ou dois dias da semana, lavava a roupa que haviam sujado durante a semana e as vezes passavam roupa com o ferro aquecido com brasas. Minha mãe, nascida em 1936, recorda que sua mãe lavava roupa uma vez na semana. Naquela época não havia água encanada para realizar esta tarefa. Com o auxílio de um balde, recolhia a água da mina. A menina observava atentamente a mãe que batia as roupas na prancha, deixava de molho no sol e depois as torcia com muito cuidado. O sabão era caseiro e deixava as roupas limpas e cheirosas.  Nem todas as mulheres compravam o sabão na venda. Elas tinham que fazer o sabão pra lavar louça e as roupas em casa. Muitas vezes ferviam as roupas muito encardidas em tachos. Faziam a fogueira sob duas pequenas fileiras de tijolos ou pedras, colocavam o taxo com as roupas encima e reviravam as roupas com uma vara. Depois tinham que escorrer e enxaguar várias vezes. Nessas horas, era preciso unir forças e era comum juntarem três ou mais mulheres para trabalharem juntas.

 Também faziam pão em casa, e quando matavam porco, faziam a linguiça. Nas cidades das Serras Gaúchas, as mulheres faziam algumas coisas das quais as imigrantes italianas de São Paulo foram poupadas, como cortar lã de ovelhas, tirar pena de pato pra fazer travesseiros, fazer cobertores, preparar doces e marmeladas, e fazer queijos. Tinham uma jornada longa de trabalho e aceitavam isso como natural. Na época da colheita, passavam mais tempo ajudando no cafezal. 

Aos domingos, único dia de descanso permitido, era na verdade um dia de trabalho variado. Os que podiam, iam à missa na cidade, muitas vezes à cavalos, na volta as mulheres preparavam a massa ou polenta para o almoço, e também ensinavam o catecismo aos filhos.  Era nesses dias que os homens geralmente se juntavam para matar um porco. Era um dia de festa. Depois faziam a linguiça e lavavam tudo o que usaram.

Mas em geral, durante a semana, os homens, maridos ou filhos, ao voltarem da roça, tratavam os bois, e cortava lenha para o dia seguinte, consertava algo em casa que a mulher não conseguiu. Era também papel dos pais italianos, guardar a honra das filhas para elas poderem se casar com um bom partido, leia-se aqui, um italiano trabalhador. Quando ele desconfiava que a filha saia escondida para encontrar alguém, saia aos gritos e empurrões. “O beijo é porta aberta pra perdição!” “não quero ver filha mia se esfregando com ninguém por ai! Eu ti mato disgraciata!” Algumas caiam na cinta, isso quer dizer, apanhavam dos pais.

Viagens até a cidade:

Como vimos no capítulo anterior, havia um tronco da ferrovia Mogiana, com cerca de 25 km, construída pela Companhia Mogiana saindo de Ribeirão Preto até a fazenda Dumont. Henrique Dumont, o dono da fazenda Dumont, comprou este tronco e passou a operá-la, inclusive com transporte publico de passageiros. Mas ela só começou a operar em 1890, portanto, os membros da minha família não fizeram uso dela em 1888. Entretanto, a partir de 1890, eles devem ter feito várias viagens da fazenda até Ribeirão Preto, especialmente para oficializar casamentos, registrar os nascimentos dos filhos e para os batizados. Alguns registros de casamento, nascimento, batismo e óbito foram encontrados em Sertãozinho, outros em Ribeirão Preto. Portanto, costumavam ir às duas cidades. Mas não havia trem de Dumont a Sertãozinho, assim iam de charrete ou à cavalo.

Conclusão:

Essas informações nos mostram o tipo de fazenda em que os Sarti, Feltrin e Tiozzo foram trabalhar, bem como o perfil do novo patrão, Henrique Dumont. Não seria nada comparado ao trabalho que faziam como camponeses no Vêneto. No capitulo anterior, vimos que Henrique Dumont foi um dos cafeicultores atraídos a região de Ribeirão Preto na década de 1870. Mas vamos retroceder um pouco no tempo para conhecê-lo melhor.

Os imigrantes deixaram o Vêneto em 1888. Eles estavam sob o domínio de Humberto I, Rei da Itália. Emigraram para o Brasil que era governado pelo Imperador D. Pedro II, mas tornaram-se súditos do rei do café cujo filho tornou-se o pai da aviação. Vale a pena lembrar aqui as palavras do sociólogo Harari: “A história é o que algumas poucas pessoas fizeram enquanto todas as outras estavam arando campos e carregando baldes de água.” (Harari, Homo Sapiens - p144)

Neste caso, a historia da fazenda Dumont que hoje é um município, a história de muitos homens que, como Santos Dumont, puderam se dedicar a descobertas que lhes deram fama e fortuna, deve-se em parte aos muito homens e mulheres, entre eles imigrantes de vários países, que se gastaram nos campos e lavouras de café. Mas neste livro, o objetivo não é deixar o que eles fizeram ficar apenas inscrito no rodapé da Historia. Este é um livro para contar a história deles. Por isso, vamos voltar a falar sobre os nossos heróis que chegaram aqui em 1888 no próximo capítulo.

Notas e Referencias:

  1. E.F. Dumont – Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht  
  2.  Veja também: http://www.estacoesferroviarias.com.br/d/dumont.htm
  3. Trabalho e resistência: os trabalhadores rurais na região de Ribeirão Preto (1890-1920). RIBEIRÃO PRETO • A cidade como fonte d e pesquisa | USP-Ribeirão Preto 185- Maria Angélica Momenso Garcia. 

Fontes:

  1. Imigração italiana em Ribeirão Preto - http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/ view/126810
  2. Famílias italianas em Ribeirão Preto: suas vidas e suas obras(1890-1900) Pesquisador responsável: Aparecida de Glória Aissar, Beneficiário: Rosana Aparecida Cintra – Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Biblioteca virtual da FAPESP 
  3. ITALIANOS EM RIBEIRÃO PRETO-SP: Família e Nupcialidade (1890-1900). Rosana Aparecida Cintra. 
  4. Ribeirão Preto 162 anos – Mais de 70 mil imigrantes fizeram história nacidade – Nicola Tornatore – Redação Tribuna publicado em 19/06/2018 no endereço eletrônico: 
  5. A IMIGRAÇÃO PARA SÃO PAULO: A viagem, o trabalho, as contribuições – Paulo Carnier Júnior (O TRABALHO NAS FAZENDAS)  
  6. Youtube – Patente: curiosidades do banheiro de antigamente 
  7. Artigos produzidos pela Embrapa: Café: Beneficiamento eindustrialização
  8. Prefeitura de Dumont – Cidade e História 
  9. PERRINI ZAMBONI, Sílvio. O Café no Norte Paulista: A crise de 1929 nafazenda Dumont. Dissertação de Mestrado para a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP Piracicaba – 87 p, 1979 

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