Durante toda a história da humanidade, os camponeses era uma classe de
pessoas sofrida, cuja força de trabalho era explorada por uma pequena classe
dominante que embora necessitassem deles, os desprezavam. Mas eram seres
humanos que ansiavam por dias melhores. O escritor Yuval Harari no seu livro
Sapiens – Uma breve história da humanidade resume para nós:
Infelizmente, mesmo trabalhando duro, os camponeses quase nunca
alcançaram a segurança econômica futura que tanto ansiavam. Em toda parte,
brotaram governantes e elites, vivendo do excedente dos camponeses e
deixando-os com o mínimo para a subsistência.
Esses excedentes de alimento confiscados alimentaram a política, a
guerra, a arte e a filosofia. Construíram palácios, fortes, monumentos e
templos. Até o fim da era moderna, mas de 90% dos humanos eram camponeses que
se levantavam todas as manhãs para trabalhar a terra com o suor da fronte. Os
excedentes que produziam alimentavam a ínfima minoria das elites – reis,
oficiais do governo, soldados, padres, artistas e pensadores – , que enchem os
livros de história. A história é o que algumas poucas pessoas fizeram enquanto
todas as outras estavam arando campos e carregando baldes de água. (Harari pp
143, 144)1
Assim foi antes e durante o tempo dos Romanos, durante a Idade Média e sob o domínio de Napoleão e dos Austríacos. No século XIX, os camponeses do Vêneto seguiam vivendo sem conforto ao lado de animais em estribarias e comendo porções mínimas de polenta todos os dias com rotina de trabalho árduo e prolongado e a incerteza própria da agricultura, à mercê de seca, dilúvios, geadas e invernos rigorosos. Trabalhavam exaustivamente para produzir mais do que consumiam para que pudessem acumular reservas para o inverno, pois sem grãos no silo, azeite no porão, queijo na despensa e linguiças penduradas nas vigas do telhado, passariam fome. Com sorte, sobreviveriam as doenças do inverno ou a morte pela febre maligna (doenças contagiosas), ou ainda os ataques dos soldados austríacos nos quase setenta anos de domínio.
Apesar dos poucos momentos de alegria com a família e
amigos, no geral, o período entre 1825-1900 foi um momento histórico
importante, mas ainda mais difícil na vida dos italianos que viveram naquela
época. Outros fatores como grave crise econômica e social somaram-se aos mencionados
acima. Um olhar mais de
perto nos ajuda a sentir como foram difíceis aquele período do século XIX para os
moradores do Vêneto, especialmente os camponeses, e que a emigração não foi uma
simples opção. Eles foram praticamente obrigados a isso.
O escritor Edmondo De Amicis, deixou registrado que a maioria dos imigrantes ‘era obrigada a emigrar’ por causa da fome, depois de se debater inutilmente, anos a fio, nas garras da miséria. Havia também os trabalhadores sazonais, que com a mulher e os filhos pequenos, se matavam de trabalhar e não conseguiam ganhar quinhentas liras por ano. Os debulhadores de arroz do sul da Lombardia, ganhavam uma lira por dia, trabalhando sob sol escaldante, na água lodosa que os envenenava, sentindo a febre nos ossos, para sobreviver de polenta, de pão mofado e de toucinho rançoso. Os camponeses da região de Pavia, Lombardia, para se vestir e comprar os instrumentos de trabalho hipotecavam os próprios braços, e sem poder trabalhar o suficiente para pagar a dívida, renovavam o contrato ao final de cada ano tornando-se praticamente escravos. Para o autor, era uma ‘escravidão faminta e sem esperança, de onde não tem outra saída a não ser a fuga ou a morte.’ Os lavradores da Basilicata, ao sul, andavam até nove quilômetros para chegar ao local de trabalho, carregando os apetrechos nas costas, e dormiam com o porco e o burro no chão batido, em casebres horríveis sem lareira, iluminados por pedaços de madeira resinosa, sem saborear um pedaço de carne o ano inteiro, a não ser quando um de seus animais morria por acidente.
Os três primeiros minutos do vídeo Veneti in Brasile - Storie dell`emigrazioneitaliana mostra que o período entre 1870 e 1900 é de grave crise econômica e social na Itália causados por dois fatores: o alto crescimento populacional e o acelerado processo de industrialização, que afetaram diretamente as oportunidades de emprego naquele continente.4 Em uma cena do filme 1900 (Novecento, 1976)5 dois garotos, de cima de um celeiro olham longe e dizem ver a cidade distante, enxergam os campanários e as chaminés das fábricas. A Revolução Industrial, um tanto tardia, na Itália gerava essa disputa entre as torres das igrejas e as chaminés das fábricas. Em outra cena do mesmo filme, vemos chegar uma debulhadeira mecânica ao campo para substituir o trabalho braçal. Um dos camponeses diz: “Ela faz o trabalho de seis homens.” As máquinas chegam para substituir os braços dos camponeses, consequentemente eles se vêm expulsos das terras e das casas.
Restam a eles ir para a cidade. Entretanto, muitos eram analfabetos e não sabiam fazer nada além de arar a terra e pastorear ovelhas e gado. Os trabalhadores eram os que recebiam os piores salários na Europa, trabalhavam longas horas diárias e não tinham assistência social. Era um período de muitos protestos, greves e insurreições. Ao mesmo tempo, as doutrinas anarquistas e socialistas tumultuavam os grandes centros urbanos. Segundo De Amicis estes camponeses morando na cidade ficavam longe da família, dormiam em cima de sacos de palha, dentro de vãos escavados nas paredes de cavernas escuras sob os pingos da chuva e o sopro do vento. Os pequenos proprietários de terras, que não conseguiam pagar os pesados impostos, se viram reduzidos a uma condição pior que aquela dos proletários, tornaram-se moradores de choupana, em condição miserável sem as mínimas condições de higiene. 2
Sem condições de continuar no campo e sem acolhimento
nas cidades, restava apenas partir e tentar a sorte em outro lugar. Desta
forma, a maioria vendia o pouco que tinham, despediam-se dos amigos e família,
e entravam nos navios, fugindo ‘desesperados’.
De Amicis comenta a tensão emocional e o desalento revelado nos rostos e corpos
dos viajantes:
“dúvidas e amarguras dos últimos
dias de sua vida doméstica, ocupados que estavam com a venda das vacas e
daquele palmo de terra, em discussões árduas com o patrão e com o pároco, e em
despedidas dolorosas. (...) No desespero de sair da miséria, muitos entravam
nos navios, tendo em seus bolsos, contratos desastrosos, firmados com
especuladores que fareja o desespero nos casebres, e os compram, em quantos
teriam sido arrolados por outros embusteiros ao chegar, e explorados de forma
tirânica durante anos. Era possível ver que homens, outrora fortes, eram agora
magros e talvez carregassem no sangue uma doença que os mataria, mesmo depois
da chegada no novo mundo.” 2
O
resultado era, cada vez mais, pessoas partindo aos montes em navios abarrotados
da Itália para outros países da Europa ou para a América (Estados Unidos,
Argentina, Uruguai e Brasil). No final
do século XIX, a Itália, embora politicamente unida, permanecia um país
socialmente dividido onde os ricos continuavam ricos e os pobres cada vez mais
pobres, e os camponeses eram explorados pelos latifundiários. Para muitos,
atravessar o oceano em busca de novos horizontes era a única alternativa. 7
Os membros das famílias Sarti, Feltrin e Tiozzo, sendo
camponeses, também tiveram suas vidas afetadas pela guerra e provavelmente sofreram
com os saques dos soldados austríacos, e as consequências das pontes e estradas
destruídas. Viviam sob o domínio do medo e terror. Além da guerra, havia
fatores naturais, econômicos e sociais que os impediam de levar uma vida
estável. Havia as inundações, como a de 1882 do rio Ádige que destruíam as
plantações e impediam as colheitas, levando à carência de alimentos. Eles
tinham que lidar com as doenças comuns da época e a falta de acesso a médicos e
remédios. Basta lembrar que Luigia Munari morreu depois de duas semanas após o
parto de Ângela Sarti. Os pesados impostos e as
consideráveis dificuldades econômicas resultavam em greves no campo e na
cidade causando incerteza. Os camponeses eram pessoas simples, mantidos na
ignorância pelas elites políticas e religiosas dominantes. Eram simples peões
em uma peça de tabuleiro que podiam ser descartados para salvar o bispo ou o
rei. Como resultado, eles engrossaram o grupo de emigrantes que a partir
de 1888 se tornaria ainda mais intensa.
Eles decidem emigrar
Podemos dizer que
assim como um imã, havia uma força de repulsão em que a Itália repele os
camponeses, mas ao mesmo tempo uma força de atração, em que a América do Sul
atrai esses mesmos camponeses, como materiais ferromagnéticos. De forma mais
específica, ao mesmo tempo em que todos os eventos mencionados expulsavam os
camponeses do Vêneto (ao norte do equador), havia paralelamente outro movimento
que os atraia para o Brasil, a Argentina e o Uruguai, (ao sul do equador). Vamos
tentar entender visualizando isso:
Por volta de 1888, um camponês, membro de nossa família, enquanto passava em frente a igreja, na praça principal de Castelguglielmo ou talvez San Belino, vê um grupo de pessoas rodearem dois homens bem vestidos. Aqueles homens discursam em voz alta sobre as vantagens de emigrarem para o Brasil. Eles eram ‘propagandistas’ e falavam em nome do Imperador Brasileiro, D. Pedro II.
O assunto não é novo, afinal de contas, desde 1870 já havia muitos camponeses do Vêneto partindo para a América, mas pela primeira vez, ele ouve e vê um propagandista. Desde 1875 o governo brasileiro tinha uma parceria com o governo italiano oficializando a vinda de imigrantes para o Brasil. E a Lei Crispi de 1888, legalizava as atividades destes agenciadores de imigrantes que já agiam mesmo antes disso. Esses propagandistas eram agenciadores imigrantes, cuja função era convencer os camponeses italianos a emigrarem. Em seus discursos eles primeiramente lembravam os camponeses da vida de desalento que levavam: fome, pelagra, trabalho exaustivo, impostos pesados, e depois contrastava com uma vida de fartura no Brasil. Nas fazendas de café, teriam emprego, salário, e um pedaço de terra para cultivar, casa para morar e o Imperador Brasileiro até mesmo pagaria a passagem de Genova até a América. Exageravam nos pontos positivos usando adjetivos grandiosos, escondendo ou minimizando os pontos negativos.
Mas o que realmente estava acontecendo? Qual era o interesse por trás disso? Desde junho de 1887, D. Pedro II, o Imperador do Brasil estava na Europa em busca de cuidados médicos e descanso. O soberano adoecera em 1887 e também em inícios de 1888. Alguns jornais brasileiros alegavam que ele fugia das questões políticas que assolavam o país, outros, que estava apenas enfermo. Foi por esse motivo que a Princesa Isabel, sua filha, no dia 13/05/1888 assinou a lei Áurea que libertava os escravos. A Lei redimiu 700 mil escravos que representavam, a essas alturas, um número pequeno no total da população geral, estimada em 15 milhões de pessoas.
O texto da Lei Áurea era curto e direto: “É declarada extinta, desde a data desta lei, a escravidão no Brasil. Revogam-se as disposições em contrário”. No mesmo dia enviam um telegrama ao imperador, mas a imperatriz, sua mulher, resolveu ler o telegrama só depois de a saúde do monarca ter sido considerada satisfatória. No dia 23/5/1888, o Imperador Brasileiro estava em Milão, quando tomou conhecimento da nova situação. (SCHWARCZ p. 311) Há uns 230 quilômetros de Milão, por volta do mesmo dia, os camponeses da família Sarti, Viaro e Donegá estavam partindo de Castelguiglielmo ou San Belino para Gênova de onde seguiriam para o Brasil.
Obviamente a decisão de partirem para a América do
Sul se deu antes da assinatura da Lei Áurea. Acontece que a busca de imigrantes
europeus começara antes de 1888, conforme trataremos mais à frente. O fim da
escravidão no Brasil trouxe consequências que precisavam ser resolvidas de
forma urgente. Mas mesmo antes do fim da escravidão, faltava mão de obra para o
trabalho nas fazendas de café que era naquela época o principal produto de
exportação brasileiro. Era urgente resolver este problema, por isso foi feito uma
série de esforços para atrair imigrantes, sobretudo europeus, para o Brasil. O
problema é que o Brasil contava com a concorrência de outros países como
Argentina, Cuba, México e Estados Unidos da América. O governo brasileiro teve
que caprichar na propaganda para vender a ideia de que o Brasil era um paraíso
na terra. Esse contingente de imigrantes era destinado ao campo, à formação de
núcleos coloniais oficiais nos estados do Sul e principalmente às fazendas de
café na Região Sudeste. 9
Será que deu certo? Podemos afirmar que sim, pois enganados
por aquela propaganda ilusória, poloneses, alemães, espanhóis, italianos,
portugueses e, mais tarde, japoneses foram tomados por uma febre imigratória. O
mito de terra abundante dos trópicos, onde ‘tudo que se planta dá’ casou-se bem
com uma Europa que precisa se livrar de sua população pobre e seus pequenos
proprietários endividados. No Brasil, eles poderiam ganhar dinheiro e mandar
para a Itália e pagar suas dívidas. Por fim, o considerável aumento
populacional em escala mundial, colocava à disposição grandes grupos de
camponeses desempregados. Isto combinado
com a melhoria dos transportes (trens e navios a vapor) acabou por expulsar
cerca de 50 milhões de europeus do continente de origem. Buscavam a desejada
“liberdade” na forma de emprego e a propriedade de terras.
Os emigrantes que vinham para o Brasil tinham duas
escolhas. Em um primeiro momento, os agenciadores recrutavam imigrantes para
povoar a parte do Sul do Brasil, principalmente o Rio Grande do Sul que era
praticamente despovoada. Ofereciam terra gratuita com escritura e casa pronta
para cada família, comida gratuita durante o primeiro ano, sementes até a
primeira safra e ferramentas adequadas ao trabalho. Ao chegarem aqui,
descobriam que não eram exatamente gratuitas. No Sul do Brasil, foi instalado um
modelo de imigração baseado em pequenas propriedades policultoras. Tanto nos
núcleos do governo como nos particulares, a terra era vendida a prazo, em lotes
de vinte a 25 hectares geralmente distribuídos ao longo de cursos de água. Tinham
muitos anos para trabalhar e pagarem por elas o que facilitava muito.
Entretanto, as propriedades eram muito isoladas e extremamente distantes de
centros urbanos e vilas habitadas. Os
novos habitantes estariam sujeitos a adversidades como ataques de indígenas,
maus-tratos por parte da população local e dificuldade de comércio. Mas o sonho
de poder ser dono de um pedaço de terra atraiu muitos imigrantes para essas
áreas. Eram em geral, camponeses que tinha sido pequenos proprietários, mas
perderam suas terras para credores ou o governo italiano.
Havia ainda a opção de trabalhar como colonos nos
cafezais, e em especial em São Paulo. O modelo que vingou foi o da imigração
estrangeira subvencionada pelo Estado ou pelos fazendeiros paulistas, para o
trabalho direto nas fazendas. Isto quer dizer que o governo e ou fazendeiros
pagariam as despesas de viagem para os emigrantes. Aqui chegando, teriam
trabalho assalariado e um lugar para morar. Esta opção era mais atrativa para
os emigrantes europeus, principalmente aqueles que tinham família e não tinham
dinheiro para comprar propriedades. Teriam a possibilidade de trabalhar, juntar
dinheiro e anos depois, comprar um pedaço de terra para deixarem aos seus
filhos. Descendentes de italianos que hoje moram em Jundiaí, Borborema, SP e
outras cidades, proprietários de pequenos sítios e chácaras, são exemplo que
para alguns deu certo.
Assim, foram poucos os núcleos que prosperaram no Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina ou Paraná, enquanto a imigração que visava à cafeicultura se expandiu. Em São Paulo foi fundamental a ação do governo estatal. O governo da Província de São Paulo sofria muita pressão dos fazendeiros. Eles estavam desesperados por trabalhadores em suas fazendas. Por isso, na década de 1890 começaram a receber ajuda financeira da União para equilibrar o fluxo de trabalhadores com as necessidades crescentes da economia. Até 1900, o Governo Federal financiou de 63% a 80% da entrada de imigrantes. 9
Outro aliado dos agentes eram os padres. Muitos deles
estimulavam os camponeses a emigrarem. Na missa de domingo diziam com veemência:
“Meus irmãos, ide para a América! O que estão fazendo aqui? Não tendes
comida para dar aos filhos, falta-vos terra, passais toda sorte de necessidades.
Na America vocês terão uma vida melhor. O imperador brasileiro paga a viagem.
Vocês irão trabalhar nas fazendas de café, terão casa para morar e comida para
comer. No Brasil não falta comida. A terra é fértil e tudo o que se planta, a
terra dá. No Brasil não tem inverno, faz sempre sol e calor. Seus filhos vão
ter vida melhor. É a oportunidade de saírem da miséria, da penúria e da fome!” 10
Na saída da
igreja, o povo comentava o sermão. Cada um dizia uma coisa. Alguns recebiam
noticias ruins e desalentadoras dos parentes que tinham emigrados para a
América. Diziam que há bugres, serpentes, tigres e mato selvagem. Ouvia que os
patrões tratam os italianos como tratavam os escravos deles. Eu não queria essa
vida pra mim! E se o imperador mente?
Vamos voltar então para aquele camponês, membro de minha
família, que em 1888 ouviu aqueles dois propagandistas bem vestidos,
discursando sobre as vantagens de emigrarem para o Brasil. Falavam do Brasil
como ‘um paraíso’ com terra fértil, muitos rios, temperatura agradável mesmo no
inverno, trabalho sobrando, passagem gratuita e com a garantia do Imperador
Brasileiro. Com tantas promessas boas, o que fazer? Acreditar ou não?
Obviamente ele conversou com outros membros da família e também com o pároco da igreja. Era ele quem forneceria o atestado de boa conduta, exigido para obter o passaporte. Conversou com os agentes que explicavam na língua deles e de forma simplificada como deveriam agir. Precisavam estar no Porto de Gênova uns dois dias antes da partida do navio. A comprar das passagens de trem para Genova eram por conta dos camponeses. Em seguida obtiveram o passaporte com o síndico (prefeito). 10 Os agentes também orientavam como os emigrantes deviam proceder com a bagagem informando o que era permitido e o que era proibido levar. Deveriam obter uma caixa de madeira, tamanho padrão, para carregar a bagagem no navio. Deixaram claro que leis italianas não permitia que rapazes solteiros viajassem sozinhos, mas poderiam ser inclusos com outras famílias.
Eles compraram as promessas do Imperador Americano. Bastava um camponês tomar coragem e decidir e logo muitos outros, contagiados pela febre da emigração decidiam fazer o mesmo. E foi assim que a região do Vêneto foi desidratada de seus habitantes. A próxima etapa era avisar o patrão, a mulher (se fosse casado), vender os animais e tudo o que pudesse ser transformado em dinheiro. Alguns dispunham de uma pequena poupança ou antecipavam herança. Outros vinham com a fé e coragem, outros já endividados.
A pior tragédia não é morrer, mas sim, viver sem
esperança. Harari disse que “A história é
o que algumas poucas pessoas fizeram enquanto todas as outras estavam arando
campos e carregando baldes de água.”1 O que aqueles camponeses poderiam
fazer para escrever sua própria história? Eles e seus antepassados tinham mudado
o curso de rios poderosos como o Pó e o Ádige para tornar a terra ao redor arável
e produtiva. Se assim o fizeram, poderiam também mudar o curso da história para
as futuras gerações. Eles sobreviveram a guerra, inundações, inanição, invernos
gelados e doenças mortais, portanto, não tinham nada a perder. Talvez ao fim da
travessia do Oceano Atlântico eles finalmente encontrariam a segurança
econômica futura que tanto ansiavam.
Referencias e notas
- HARARI, Yuval Noah - Uma breve história da humanidade; tradução Janaína Marcoantonio. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2018. [Tradução de Sapiens – A Brief History of Humankind] pp74, 75
- DE AMICIS, Edmondo - Sull'Oceano – Tradução Adriana Marcolini - pp 27, 49, 72
- História da Imigração Italiana - Youtube: Veneti in Brasile - Storie dell`emigrazione italiana https://www.youtube.com/watch?v=WUHyIdeW5ZI
- Novecento é um filme épico ítalo-francês de 1976, do gênero drama, dirigido por Bernardo Bertolucci, com fotografia de Vittorio Storaro e trilha sonora de Ennio Morricone. Foi filmado em Emília, na Itália.
- IACOCA, Ângelo - Retratos da imigração italiana no Brasil - Editora Brasileira de Arte e Cultura 2011.
- SCHWARCZ, Lilia M. e STARLING, Heloisa – Brasil: Uma biografia Companhia das Letras. . pp 323, p. 324
- BATTISTEL, Arlindo Itacir. Polenta e Liberdade: Saga de imigrantes italianos. Porto Alegre: Evangraf, 2016. - TONI REALIZA SEU SONHO pp 237, 238, 284 – 383
- História do Mundo - https://www.historiadomundo.com.br/idade-moderna/unificacao-italiana.htm
- Unificação Italiana - https://www.todamateria.com.br/unificacao-italiana/
- Fotografias dos filmes L'Albero degli Zoccoli de Ermanno Olmi e Novecento (1900) de Bernardo Bertolucci.
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