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7 - Quebra-cabeça

Em junho de 2019, Bruno, meu primo, enviou-me fotografias de dois documentos interessantes. O primeiro era a cópia do ‘estratto per riassunto dell’atto di nascita’,1 uma espécie de registro de nascimento do Carlo Tiozzo, pai de Virginia Tiozzo, avó dos nossos pais. O outro era o atestado de óbito dele. No primeiro informava a cidade onde Carlo Tiozzo nascera, Chioggia, Vêneto, norte da Itália. Muito próximo da região de Rovigo, de onde vinha nossa bisavó, Amabile Feltrin e sua família. Acrescentei estas informações na arvore genealógica que estava montando no site MyHeritage.2 O Bruno Sarti conseguiu os documentos acima com Guilherme Tiozzo, um jovem membro da família da parte da minha avó, que morava em Bauru, SP. Eles se conheceram através de um site das redes sociais. Guilherme disse ao Bruno que buscava a cidadania italiana e tinha quase todos os documentos necessários, exceto dois: a certidão de nascimento de Dino Tiozzo, bisavô dele e a certidão de casamento do Carlo Tiozzo, pai do Dino. 

Ele não sabia se o Carlo Tiozzo havia se casado na Itália antes de vir para o Brasil ou aqui. Além de buscar a certidão de casamento dele, investigava a possibilidade de fazer uma certidão presumida de nascimento do Dino Tiozzo, já que parecia impossível encontrá-la. Sua história era muito parecida à nossa em relação a certidão de casamento de Giacomo Sarti e Amabile Feltrin, nossos bisavós. Guilherme acreditava que o Carlo Tiozzo tivesse se casado na Itália, mas o Bruno encontrou um documento que desmontava esta hipótese. Tratava-se da copia da certidão de desembarque do Carlo Tiozzo. Nesta certidão indicava que Carlo Tiozzo  tinha apenas 17 anos quando chegou ao Brasil no dia 17/12/1888 e veio acompanhado de seu pai Felice (63), sua mãe (54) e um irmão, Luigi (14) no vapor France.  (Família: 00665, Livro: 016 página 104. Disponível no Acervo Digital do Museu da Imigração do Estado de São Paulo) 


    Através do Guilherme, o Bruno Sarti ficou sabendo que haveria a possibilidade de solicitarmos a cidadania italiana através da minha avó, já que não tínhamos os documentos por parte do nosso bisavô, Giacomo Sarti. Eu tinha a informação, lá de 1996, de que a mulher italiana transmite a cidadania a filhos nascidos a partir de 01/01/1948. Meu pai, Reinaldo Sarti, nasceu em 1937. Mas aparentemente as coisas haviam mudado desde então. Agora seria possível entrar com um processo jurídico pedindo a cidadania italiana pelo lado da avó ou bisavó. Abriram-se duas portas de possibilidades para nós, obter a cidadania através da nossa bisavó Amabile Feltrin ou através da nossa avó Virginia Tiozzo.

O Bruno já havia dito ao Guilherme que tentara encontrar a certidão de nascimento da nossa avó, Virginia Tiozzo sem sucesso. Bruno me passou o contato do Guilherme e passamos a conversar. Naquela época, o Guilherme estava em contato com Andreia, uma pesquisadora que mora na Itália. E pouco tempo depois, depois de pagarmos 100 euros pela informação, localizamos a certidão de casamento do Carlo Tiozzo Catedral de São Sebastião de Ribeirão Preto. 

Empolgado pelas novas descobertas e pela nova possibilidade de requerer a cidadania italiana, eu e meu primo Bruno voltamos a procurar informações e documentos, dessa vez nos concentramos na nossa bisavó Amabile Feltrin e avó Virginia Tiozzo. Se não desse certo com uma, daria com a outra. Retomei meu contato com a Larissa, a pesquisadora que havia começado as procuras em 1915 e atualizei as informações que tinha. Ela tinha o sinal verde para continuar as buscas lá na Itália e nós continuaríamos nossas buscas por aqui no Brasil. Mas também queria a ajuda de outra pessoa. No dia 21/06/2019 entrei em contato com a Andreia, a pesquisadora que havia encontrado a certidão de casamento do Carlos Tiozzo para o Guilherme e pedi sua ajuda para encontrar as certidões da Amabile, na Itália, e da Virginia aqui no Brasil. Também queria encontrar a certidão de casamento e de nascimento do Giacomo e da Amabile Feltrin. Enviei a elas todas as informações pertinentes que eu havia juntado até então.  Sua resposta, enviada via aplicativo WhatsApp no dia 02/07/2019, tinha um tom positivo e animador, como segue:

Estou bem focada no seu caso. Já virou meu desafio de vida. Vc é um dos clientes que mais tem informações, se não for o que mais tem, e estou seguindo tantas pistas, mas ainda não encontrei.  Eu consegui encontrar a família da Amabile, achei dois irmãos, um vc já tinha achado [Eugênio Feltrin], achei também um Augusto Feltrin. Ambos lista de leva3. Eu tenho acesso a arquivos históricos de Fratta Polesine – Rovigo, mas já vi todos os arquivos de lá, 5 anos antes e 5 anos depois do nascimento da Amabile e não achei ela. Como vc escreveu, muitos arquivos foram danificados, então vou pedir no comune de Fratta Polesine hj um histórico de família deles. Se o caderno de registro de família não foi danificado, eles terão o relatório dos membros que compunham a família. Às vezes, no relatório tem informação do registro da Amabile. Enfim, vamos achá-los.

No dia 15/07/2019 ela me enviou outra mensagem:

Liguei para Fratta Polesine da ultima vez que conversamos aqui e eles anotaram minha solicitação de Stato di Famiglia ou busca pela Amabile, como ainda não havia recebido resposta, liguei lá hj e eles não haviam verificado meu pedido ainda. Pra não ficar sem registro meu pedido, passei pra eles um email PEC. Este email é um sistema que existe aqui na Itália aonde gera um protocolo de solicitação que eles devem tratar minha requisição, basicamente um protocolo de atendimento. Geralmente levam de 2 a 4 semanas pra responderem, não existe um prazo especifico na lei, mas também eles não podem abusar na demora. De qualquer forma, continuo nos registros históricos procurando também. O Giacomo é o que mais gosta de se esconder.

Para mim, que esperava há anos, conseguiria conter a ansiedade? Mas era evidente que a burocracia e morosidade nos departamentos públicos da Itália era similar aos daqui no Brasil. Eu enviei mensagem para Andreia, via WhatsApp, explicando que eu também continuava a me empenhar em encontrar informações aqui no Brasil. Nele eu dizia que havia enviado um email para o cartório de Ribeirão Preto pedindo informações sobre os filhos do Giacomo e Amabile. Caso eu conseguisse algumas certidões de nascimentos ou casamentos, poderíamos cruzar informações para confirmar quais eram os nomes do pais do Giacomo Sarti. Em sua próxima resposta ela trazia alguns questionamentos e dúvidas, como segue:

Isso ajudaria a consultar a lista de leva. (...) Eu achei um registro na lista de leva de Rovigo que me deixou intrigada, apesar que pode ser homônimo... vou colocar aqui. (enviou foto)5 Um Giovanni nascido em 1898, filho de Giacomo e Amabile Sarti. Sabe o que mais me intrigou? Pq a mulher está com o sobrenome do marido ... aqui na Itália muito difícil pegarem sobrenome do marido naquela época. Isso sempre aconteceu no Brasil. Se a Amabile se casou no Brasil, pode ter mudado o nome para Amabile Sarti ou Amabile Feltrin Sarti como é praxe. (...) Enfim, pode ser um homônimo, mas muito estranho.. por isso perguntei se existe a possibilidade dele ter vindo para a Itália, as vezes teve filho aqui .. Ou teria feito o reconhecimento italiano, pois naquela época era normal fazerem o reconhecimento se tinham acesso a consulado ou declaravam por carta quando estava em outro país.

Eu me lembrei que a Priscila, a outra pesquisadora, havia mencionado o Giovanni Sarti em um e-mail de setembro de 2015. Mas naquela época, eu já havia descartado esta possibilidade. Eu lembrei a Andreia que na minha linha do tempo havia um João Sarti, mas ele morrera com 2 meses de idade em 05/01/1906, oito anos depois desse possível Giovanni Sarti. Ainda mais, segundo a lista de desembarque do navio Hollandia de 1911, a família de Giacomo e Amabile haviam morado em Ribeirão Preto por 20 anos. As coisas estavam confusas, mas não podiam ser as mesmas pessoas! Andreia tinha certeza de que eles estavam na Itália em 1897 e eu descartava veemente esta possibilidade. Além do mais, em 1893 nasceu Bruno Sarti, o segundo filho do casal aqui no Brasil e tínhamos a certidão de nascimento dele para comprovar isso. Para mim era apenas uma coincidência, mas para descartar a mínima possibilidade de não ser um engano, eu queria ter em mãos as certidões de nascimento dos outros filhos do Giacomo como a da Antônia nascida em 1896, da Ângela de 1902 e da Ângela de Marcelo nascido em 1903. Enquanto isso, a Andreia continuaria a procurar pela certidão de nascimento da Virginia Tiozzo que o meu primo Bruno não havia conseguido encontrar nos cartórios de Sertãozinho e Ribeirão Preto.

Como o Guilherme havia comentado que seria possível conseguir a cidadania através da minha avó Virginia Tiozzo, no dia 09/06/2019 eu entrei em contato com um funcionário do ACLI (Associações Cristãs dosTrabalhadores Italianos). Elas são entidades italianas presentes em vários países e no Brasil há mais de 25 anos e prestam serviços no campo social e assistencial. Na primeira visita, no dia 17/06/2019, conversei com uma funcionaria e expus as duvidas e dificuldades que eu estava tendo para encontrar informações e documentos. Depois de visitá-los, mandei um e-mail para o Guilherme Tiozzo contando como fora a visita:

Hoje visitei o ACLI Patronato em São Paulo. Falei com uma funcionária. Segundo ela, se na certidão de nascimento do meu avô Ângelo Sarti tivesse sido declarante o pai (Giacomo Sarti), não haveria necessidade da certidão de casamento do Giacomo. Entretanto, na certidão de nascimento do Ângelo o declarante foi Tranquillo Pavan, provavelmente o capataz da fazenda onde ele morava. Então, eu e o Bruno temos que encontrar a certidão de casamento do Giacomo para requerer a cidadania pelo lado paterno. Segundo ela, pode ser que o Giacomo e a Amabile nunca se casaram em cartório, pois era comum na época apenas se juntarem. Se este for o caso, não encontraremos registro de casamento deles. Então, eu e o Bruno teremos que tentar buscar a cidadania pelo lado da Virgina Tiozzo. Se no registro de nascimento da Virginia Tiozzo constar que o declarante foi o pai dela, Carlos Tiozzo, não haverá necessidade de encontrar a certidão de casamento do Carlos.

Ela também pediu para eu entrar em contato com um historiador no Museu da Imigração, que poderia me dar detalhes sobre nossos familiares. Quando eu mencionei a ela o nome de Gio Batta Sarti na lista do navio, ela disse que Gio Batta é o apelido de Giovanni Batista. Pode ser que o Giacomo tenha mudado seu nome depois que se mudou para o Brasil. Vou visitar este historiador durante minhas férias, quando terei mais tempo livre. 

No dia da visita ao Museu da Imigração, o historiador não pode me atender, mas conversei com um funcionário que foi extremamente atencioso e solícito. Insisti nas informações sobre o Giacomo Sarti. Como os registros de imigrantes foram todos digitalizados, foi fácil e rápido para ele fazer a busca. Primeiro ele encontrou a lista de desembarque da família do Giacomo de 1911, vindo da Argentina, que eu já tinha. Mas depois, ele encontrou também o registro de outra passagem do Giacomo Sarti pela Pousada do Imigrante, no dia 28/08/1913. O documento indicava que o Giacomo “estava só vindo do Hospital para voltar a fazenda em Sertãozinho.”, e ele tinha 48 anos em 1913.

Com esse documento confirmamos que o Giacomo havia nascido em 1865. Agora podíamos desconsiderar as informações equivocadas do atestado de óbito, não só com respeito às datas como também os nomes dos pais dele. Além disso, ele também pesquisou a lista de leva em um site italiano e encontrou os registros de dois irmãos da Amabile Feltrin, Augusto e Eugênio Feltrin. Através delas, descobrimos os nomes das cidades onde eles nasceram na região de Rovigo, Itália. Era Fratta Polesine, Rovigo e a comune de iscrizione era Casteguglielmo. Em um email do dia 13/10/2015, a pesquisadora Larissa havia mencionado o seguinte: “Encontrei o nascimento de 2 irmãos: Eugênio e Ângela. Mas não consta nada da Amabile e nem de um suposto casamento dela com o Giacomo.” Entretanto, ela não informara os nomes das cidades. Minha visita ao Museu da Imigração fora proveitosa e aquelas eram informações interessantes, mas não suficientes. Por isso, o atencioso funcionário sugeriu que eu fosse até o Arquivo Nacional do Estado de São Paulo onde talvez eu encontrasse alguma informação sobre os navios lá. Foi o que eu fiz no dia 24 de junho.  Mais uma vez, fui muito bem atendido, mas sai de lá de mãos vazias. Segundo os funcionários, os documentos podem ter sido perdidos, não foram digitalizados, ou ainda estão em algum departamento esperando ser recuperados. 

No mesmo dia eu retornei ao ACLI. Dessa vez eu falei com o João. Ele pediu para eu levar todos os documentos que eu possuía. Enquanto lá, ele pacientemente explicou que tendo todos os documentos por parte da minha avó (Certidões de nascimento, casamento e óbito do Carlo Tiozzo, certidões de nascimento, casamento e óbito da Virginia Tiozzo e certidões de nascimento, casamento e óbito de Reinaldo Sarti, meu pai) seria possível entrar com um processo jurídico pedindo a cidadania italiana para mim, Bruno Sarti e qualquer outro membro da família, descendentes diretos deles. O processo seria feito em Roma através dos advogados do ACLI, e a resposta chegaria em menos de três anos. Segundo ele, havia jurisprudência, ou seja, outras pessoas já haviam entrado com o processo jurídico solicitado cidadania pelo lado da avó materna e conseguiram resposta positiva. Para isso, faltava para nós, eu e o Bruno Sarti, apenas a certidão de nascimento da Virginia Tiozzo.

Continuei minhas buscas. Enviei emails para os cartórios de Sertãozinho e Ribeirão Preto e enquanto aguardava respostas deles, também esperava as notícias da Andreia, pesquisadora. O problema é que as respostas eram sempre demoradas. Da Catedral de São Sebastião de Ribeirão Preto, recebi no dia 26/06/2019 o seguinte email:

A única maneira de conseguir informações é por meio de pesquisa, temos apenas os registros nos livros, nessa época a Igreja não recolhia documentação para casamento ou batismo. Estamos passando por obras de restauro, nosso arquivo passará por mudanças nos próximos dias para preservação do mesmo. Apenas um funcionário está autorizado a manusear os livros para que seja mantida sua integridade, pois nossas pesquisas são manuais. O senhor já tem a localização de uma das certidões que precisa, as outras duas precisam ser pesquisadas. Para a pesquisa é cobrada uma taxa e o prazo para retorno é de 45 dias.

Enquanto isso, o Bruno Sarti navegou pelo site do Museu Nacional do Rio de Janeiro, verificando a possibilidade do Giacomo ter entrado pelo porto do Rio de Janeiro. Olhou navio por navio, mas não encontrou nada. Deveríamos procurar pela Argentina? Talvez tentar encontrar algum documento dele e dos filhos dele entre 1909 e 1911? O Bruno disse que já havia entrado em contato com os cartórios de Terra Roxa e Sertãozinho, mas foram informados de que não havia registro de nascimento nem do Dino, nem da Virginia Tiozzo. Então eu disse que tentaria encontrar a certidão de batismo da Virginia Tiozzo na igreja de Sertãozinho enquanto aguardava a resposta da catedral de Ribeirão Preto. Se encontrássemos esses dois documentos, poderíamos iniciar o processo jurídico e pedir a cidadania italiana pelo lado da Virginia Tiozzo. Nem foi preciso, pois no dia 20/07/2019 recebi uma ótima noticia. A Andreia havia encontrado o registro de batismo4 da nossa avó, Virginia Tiozzo. Pagos os 100 euros combinados, ela enviou as fotografia com as informações.

Na fotografia tínhamos a comprovação da data de nascimento dela no dia 3 de janeiro de 1911 e os nomes dos pais dela. Em seguida fiz o pedido para a Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Arquidiocese de Ribeirão Preto e fui respondido prontamente. 

Até então eu acreditava que, mesmo não encontrando o registro de nascimento da minha avó, poderíamos utilizar o registro de batismo em seu lugar. Tínhamos então todos os documentos necessários para iniciar o processo de reconhecimento da cidadania italiana. Agora passaríamos para a segunda etapa, que era a retificação dos documentos, depois a tradução juramentada e apostilar. Mas, obviamente não iria ser tão simples assim! Enviei um e-mail para a Larissa pedindo para ela pausar a procura dos documentos do Giacomo e Amabile na Itália. Agora iríamos nos concentrar em organizar os documentos para o processo jurídico. Mas ela levantou uma questão importante. No dia 22/07/2019 ela escreveu o seguinte:

Quanto ao processo judicial pelo lado materno, verifique apenas quais são as chances, pois quando existe a possibilidade de fazer pelo lado paterno, é possível que o juiz não aceite, alegando que poderia ter sido feito administrativamente pelo outro lado. Como não tenho acesso a toda a tua arvore genealógica e nem a todos os documentos envolvidos, não sei se é possível que um juiz chegue a essa conclusão analisando teus documentos. No mais, boa sorte.

Voltei a falar com o João, do ACLI que encaminhou o questionamento ao departamento jurídico em Roma.  No dia 23/07/2019 ele repassou a mensagem de voz da advogada que dizia o seguinte:

Esta jurisprudência é muito velha, tiveram alguns casos, graças a Deus não meus, em que eles não aceitaram a cidadania porque era evidente que fosse instrumental fazer judicial para evitar a administrativa. Agora esta totalmente modificado porque a jurisprudência dá a cidadania até pelo lado paterno judicialmente, então não tem problema nenhum, tá. A gente pode fazer pelo lado materno, a gente vai explicar que não foram encontradas as certidões dele, pelo lado paterno. Não temos tido nenhum tipo de problema com esse tipo de cidadania. Obvio que jurisprudência é jurisprudência né, cabeça de juiz a gente não pode entrar dentro, mas nos últimos anos não temos casos desse tipo com problemas desse tipo.

O João complementou a mensagem dela com as seguintes observações:

Ai está a resposta. Ela trabalha com isso há mais de quinze anos e não vê problema. Então, uma vez que está quebrando este protocolo, esta indo água abaixo. Mas ela pede para eu juntar toda a sua arvore genealógica, digitaliza, envia para mim para ela verificar todos os documentos. Depois que você tem todos os documentos, há alguma burocracia ainda até entrar com o pedido no tribunal de Roma. Mas vamos conversando à respeito.(sic)

Este era o sinal verde que eu precisava para continuar com o processo de cidadania italiana por meio da minha avó materna, Virginia Tiozzo e o nosso antenato, Carlo Tiozzo.  A próxima etapa era juntar todos os documentos, em inteiro teor, começando pelo Carlo Tiozzo, italiano, até o meu registro de nascimento. O Bruno faria o mesmo. Comecei a enviar emails com os pedidos para os cartórios que depois seriam levados ao ACLI para serem retificados, apostilados e traduzidos. Tínhamos muito trabalho pela frente, mas o mais difícil já tinha passado. Pelo menos assim pensava eu. Não seria tão simples e fácil! O Bruno pediu para eu confirmar se o registro de batismo bastava como documento. Enviei uma mensagem de voz ao João do ACLI no dia 7/09/2019, mas sua resposta foi desanimadora:

O Consulado italiano exige a certidão de nascimento registrada em cartório. Podemos impetrar ação de reconstituição, restauração de nascimento no judiciário. Prazo aproximadamente 90 dias. Abraço.

Lá íamos nós outra vez! Quando acreditávamos ter juntado a ultima peça do quebra-cabeça, descobrimos que não iria ser tão fácil assim! Gastaríamos mais tempo e recursos, mas não seria motivo para desistir agora!

Todas as informações sobre Carlo Tiozzo e minha avó eram interessantes para montar a história da família. Cada nova informação era anotada em um documento que criei chamado Linha do Tempo da Família e também alimentava a árvore genealógica do site MyHeritage.4 Esses documentos criavam a possibilidade de adquirimos a cidadania italiana jure sanguinis, que é um direito a todos descendentes dos imigrantes italianos. Mas eu ainda queria descobrir a cidade onde meu bisavô Giacomo Sarti havia nascido e onde vivia antes de emigrar para o Brasil.

Observações e referências:

  1. O estratto per riassunto dell’atto di nascita é o equivalente a certidão de nascimento.
  2. MyHeritage é uma plataforma de genealogia online, onde os usuários podem criar árvores genealógicas, subir fotos e visualizá-las, bem como pesquisar registros históricos globais. Ele é gratuito, mas limitado. Para visualizar as informações da minha família, é preciso ser convidado. Por esse motivo, depois transportei as informações para o site da FamilySearch
  3. A Lista de Leva ou ‘lista di leva’ é uma espécie de registro militar obrigatório realizado em toda a Itália logo após o nascimento dos filhos do sexo masculino. Tal documento é produzido separadamente por cada província italiana e contém a especificidade de informar a comuna (cidade) de nascimento. Os nomes são encontrados na Lista di leva no Archivo storico del DistrettoMilitare di Padova – Leva Militare delle province di Padova e Rovigo 1846 – 1902. É  necessário registrar-se antes de fazer pesquisa
  4. O registro de batismo de Virginia Tiozzo foi encontrado no site do FamilySearch. Até então eu não sabia utilizar esta ferramenta. Neste sitio eletrônico, é possível pesquisar fotografias dos documentos originais. O documento original está no arquivo da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Paróquia Nossa Senhora Aparecida, Livro 6, Folhas 192V, Números 573. Data do batismo: 28/01/1911. A fotografia enviada pela pesquisadora encontra-se na página de fotografias.

Comentários

  1. Sobre o "Bon" no nome de Tiozzo, recebi a seguinte explicação de Sergio Franco que mora em Chioggia, VE: (Veja tradação em seguida)

    "Molti Comuni italiani in cui si sono trasferiti i "marinanti" non riconoscevano il detto e non lo inserivano all'anagrafe. A Sottomarina i cognomi sono in buona parte BOSCOLO e TIOZZO. Per distinguere le famiglie sono stati usati dei soprannomi che di solito individuavano i mestieri, i caratteri dei componenti. "Bon" come puoi immaginare identificava una famiglia alla buona, tranquilla. Con il tempo i soprannomi sono diventati uguali per tante famiglie. In questo modo era difficile identificarli, allora il Governo ha deciso che il soprannome diventi parte integrante del cognome. Io, per esempio, ora porto il cognome TIOZZO BON seguito dal nome (vedi: http://www.chioggiatv.it/2013/01/famiglie-e-soprannomi-di-chioggia-un-volume-imperdibile/) (https://www.gazzettaufficiale.it/atto/serie_generale/caricaDettaglioAtto/originario?atto.dataPubblicazioneGazzetta=2009-12-12&atto.codiceRedazionale=09A14727&elenco30giorni=false). Ti auguro una buona giornata. Sergio Tiozzo Bon."

    TRADUÇÃO:
    Muitos municípios italianos para onde os "marinheiros" se deslocaram não reconheceram o ditado e não o inscreveram no cartório. Em Sottomarina, os sobrenomes são principalmente BOSCOLO e TIOZZO. Para distinguir as famílias, eram usados ​​apelidos que normalmente identificavam os ofícios, os personagens dos membros. "Bon", como você pode imaginar, identificava uma família bem-humorada e tranquila. Com o tempo, os apelidos se tornaram os mesmos para muitas famílias. Desta forma, era difícil identificá-los, então o governo decidiu que o apelido passasse a fazer parte integrante do sobrenome. Por exemplo, agora eu carrego o sobrenome TIOZZO BON seguido pelo nome

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