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30 - Reinaldo e Maria

Nesta postagem vou me concentrar na história de Reinaldo e Maria, meus pais. Mas antes de falar deles, da família da minha mãe, como se conheceram até nascer os seus quatro filhos, vamos seguir a linha do tempo e ver os acontecimentos na família Sarti que tinha agora Ângelo Sarti como patriarca.  

Em 1952 a família de Ângelo e Virginia morava na fazenda Retiro em Colina. Seu primogênito, Antônio Sarti (20), casou-se no dia 24/11/1952 com Clair Passarella (17). O casamento foi no cartório de Colina às 14 horas. As testemunhas foram João Zapella e de Décio de Souza. Seus pais eram Fausto Passarelli e Maria Tressino e ela tinha nascido em Granada, SP. Era também neta de italianos. Minha tia adicionou o nome Sarti ao seu nome e passou a se chamar Clair Passarelli Sarti. Este costume começou com a geração de netos dos imigrantes italianos. 

Meu pai dizia que seu irmão Antonio era quieto, calado e não tinha muitos amigos e não jogava futebol. Ainda menino, aprendeu a cortar cabelo e abriu uma barbearia em casa, na colônia. Talvez isso explique porque ele se casou tão cedo. Minha tia era o oposto dele, sempre muito extrovertida, brincalhona e risonha. Dizem que mesmo grávida, ela subia em arvores e brincava com as crianças da colônia. Era uma ‘molecona’. Talvez fora exatamente por isso que meu tio se sentira atraído a ela. Como era costume, logo depois que se casaram, Clair veio morar na casa do sogro e da sogra. O casal teve uma filha logo depois, mas ela morreu com 25 dias de vida. 

Dois anos depois do casamento, Clair deu à luz a outra menina. Foi no dia 02/09/1954 e deram a ela o nome de Maria Zenaide. Acontece que dois meses depois, minha avó também teve um filho. No dia 29/11/1954, nasceu Luiz Paulo Sarti.

Agora era a vez do meu pai começar a família dele. Desde 1952, quando se mudaram para a fazenda Retiro, por cinco anos, a rotina do meu pai era trabalhar no café de segunda a sexta. No sábado trabalhava até o meio dia, a tarde ele cortava seu cabelo com o irmão barbeiro e a noite ia em um baile. Também passou a jogar futebol no time da fazenda. Namorou a Aparecida e depois a Dolores. Mas foi somente em 1958 que ele conheceu minha mãe, Maria Sarti. Eu ouvi a versão do meu pai e da minha mãe. Mas também ouvi a versão da minha tia Clair, e baseado nisso, segue a história dos dois:

Em um desses bailes, um amigo do meu pai lhe mostrou uma moça. Era a primeira vez que ele a via. O amigo estava interessado nela e pediu a ajuda de Reinaldo, pois era muito tímido. O combinado era Reinaldo ir até ela e dizer que o amigo queria dançar com ela. Se ela aceitasse, ele mostraria o amigo pra ela. Se ela não aceitasse, era pra ele ficar quieto. Reinaldo foi até a moça e se apresentou. O nome dela era Maria Aurélio.

Ela era bem baixa, mas quando Reinaldo chegou perto dela, achou ela muito bonita! Ele disse o combinado: “Tem um moço aqui na festa que gostou de você. Ele quer saber se você quer conhecer ele e dançar com ele.” Maria devia estar curiosa e disse que sim. Então Reinaldo disse logo em seguida: “Sou eu mesmo!”. Eles dançaram várias músicas juntos e ele nem se lembrou mais do amigo. Acabaram marcando outros encontros em outros bailes e começamos a namorar.

Só que as coisas não foram tão simples depois. Aparentemente Ângelo, o pai do Reinaldo, não gostou daquela história. Havia vários motivos. Maria não era filha de italianos. Ela morava em Colina, na cidade onde trabalhava em uma casa de família e nunca trabalhou na roça. Também diziam que o Reinaldo era muito alto e ela muito baixa. Reinaldo tinha 185 cm e Maria 155 cm. Ela era um ano mais velha do que ele, Reinaldo tinha 24, e Maria 25. O Ângelo achava que ela ia ter dificuldade para se acostumar ao sistema deles.

Talvez porque Reinaldo não gostava de ser contrariado, muito menos desafiado, quando aquela história de namoro ficou difícil, tornou-se também mais interessante! Pra encurtar a história, os dois resolveram casar em novembro de 1958. Como era costume, ela se mudou para a casa da família do meu avô Ângelo Sarti na colônia da fazenda Retiro. No registro de casamento deles o curioso é que o nome da minha avó está escrito Virgilina com a seguinte observação: “que também se assina Virginia Tiozzo”. A minha avó materna também era Virginia, Virginia dos Reis e do meu avô materno Francelino Aurélio. 

Maria Aurélio

Sua avó, Amélia Gomes nasceu em 11/06/1891 em Portugal. O certificado de óbito dela diz que ela é de Fregoro, mas é um erro, pois o mais próximo que temos desse nome em Portugal é Fragoso. É filha de Joaquim Soares e Maria Gomes Ferreira. Eles emigraram de Portugal para o Brasil aproximadamente em 1896, pois minha bisavó teria cinco anos de idade na época. Foram para a região de Ribeirão Preto, SP.

Amélia Gomes casou-se com Lino Aurélio por volta de 1908. Lino era provavelmente filho de escravos, mas pode ter nascido livre, pois a Lei do Ventre Livre foi assinada em 1871. Esta lei considerava livre todos os filhos de mulher escravas nascidos a partir da data da lei. Tiveram um filho chamado Antenor, mas morreu bebê, e depois Francelino Aurélio que nasceu em 1909. 

Quando Francelino nasceu, eles moravam na fazenda Dumont, por isso Francelino Aurélio foi registrado em Sertãozinho, SP.  Ela teve mais dois filhos o José (Zé) e o Lino. Amélia ficou viúva logo depois e casou-se pela segunda vez. Não sabemos o nome do segundo marido dela, mas o sobrenome era Nunes. Nasceu então Ana Nunes. Amélia enviuvou pela terceira vez, mas casou-se novamente, dessa vez com o Soares. Quando tiveram um filho a quem chamaram de Benedito Soares (Dito), moravam em Viradouro, SP. Quando o Dito casou-se com a Maria, sua mãe passou a morar com ele. Eles deixaram o interior de São Paulo e mudaram-se para a capital de São Paulo. Junto estava Amélia, chamada carinhosamente por todos de ‘Nona’, mesmo sendo portuguesa. Eu só conheci minha bisavó quando já morávamos em São Paulo, isso quer dizer que foi entre 1963 e 1968. Ela morreu no dia 10/09/1968 com 78 anos de idade e foi enterrada no cemitério da Vila Prudente, mas hoje seus ossos estão no ossuário da igreja nossa senhora de Fátima em Sapopemba.

Francelino Aurélio casou-se com Virginia dos Reis. Ela nasceu em 1914 no estado de Minas Gerais, mas não sabemos a cidade. No dia 23/07/1936 nasceu Maria Aurélio. Eles moravam na fazenda São João, em Colina, mas o registro da minha mãe foi feito em Monte Azul, SP por ser mais perto da fazenda.  Em agosto de 1955, quando Maria tinha 18 anos sua mãe Virginia dos Reis (41) morreu de pneumonia. Francelino (46) ficou viúvo com duas filhas. A mais nova Aparecida de Jesus tinha apenas cinco anos de idade. 

Em dezembro de 2019 tomei tempo para conversar com minha mãe e aprender mais sobre sua história de vida. Eu queria saber o que ela se lembrava de sua infância e como era sua vida antes de conhecer o Reinaldo Sarti, meu pai. Também como foram os primeiros anos de casamento e os fatos que se deram antes da nossa mudança de Colina para São Paulo.

Minha bisavó portuguesa, a Amélia Gomes veio com os pais para o Brasil de Portugal aos cinco anos de idade. Ela sabe que ela tinha um irmão e ele era bem alto e tinha pernas longas. Minha bisavó também era bem alta. A nona era parteira e foi ela que fez o parto da minha avó Virginia quando minha mãe nasceu. Ela fazia o parto de todas as mulheres na fazenda São João e vizinhança. Maria foi filha única até os 13 anos quando nasceu a Cida (Aparecida).

Minha mãe, Maria Aurélio, nasceu na fazenda São João onde seus pais eram colonos. Diferente dos meeiros, eles recebiam um pequeno salário, ou ordens de pagamentos em nome da Casa Brasil em Colina para pequenas despesas, e recebia dinheiro depois da colheita, quando o patrão vendia tudo e então fazia o pagamento anual aos colonos. Os meeiros tinham direito a metade da produção. Mas no final, quem comprava a parte dos meeiros, era o próprio patrão. Pagava menos e vendia por mais. A família dela sempre trabalhou na roça e cuidavam de café.

Sua mãe ajudava muito seu pai na lavoura, visto que ele não tinha filhos para ajudar. Entretanto, Maria, minha mãe nunca trabalhou na roça. Segundo ela, aos sete anos de idade, ela era miúda e tinha os cabelos longos, até a cintura. Lembra-se que ficava sozinha em casa e que aos nove anos colocava um caixote na frente do fogão e fazia polenta e arroz. Ela era responsável por cuidar da casa.

Não havia escola na fazenda, teria que ir até outra fazenda, chamada Suco onde havia uma escola. Seu pai não queria que ela estudasse porque não queria que ela fosse sozinha até a fazenda. Ela se aborreceu e fugiu de casa. Sua mãe intercedeu e falou com as professoras. Convenceu o meu avô a deixá-la estudar. Ela ia caminhando até a escola. Tinha que atravessar um rio. Na escola, as aulas para o primeiro ano era de manhã, na parte da tarde, como havia menos alunos, a sala era dividida em duas turmas, a do segundo e terceiro anos. Havia apenas uma professora. Minha mãe tinha tanta vontade de aprender a ler e a escrever, que no primeiro dia, aprendeu a escrever o nome dela, copiando da professora. Estudou até a metade do terceiro ano. As outras crianças desistiram e ela não tinha com quem ir até a escola. Sua madrinha, que morava na cidade (não sei qual) pediu ao seu pai para deixa-la ir morar com eles, para que ela estudasse, mas seu pai não deixou. O sonho dela era ser professora.

Eles se mudaram da fazenda São João para a cidade de Viradouro. Ela não se lembra direito, mas acredita que nessa época seu pai trabalhava como pau de arara, ou seja, ia com um grupo de trabalhadores em um caminhão até alguma fazenda vizinha onde trabalhavam e recebiam por dia de trabalho. No final do dia voltavam pra casa. Seu tio Lino trabalhava assim e outros tios também. Seu pai não gostou da experiência e quis voltar para a fazenda São João. Como ele conhecia o Junqueira, marido da Maria Helena, donos da fazenda, foi até a casa dele pedir para voltar. Ele avisou que poderia voltar, mas que não tinha mais casa disponível na colônia de casas de tijolos, apenas na colônia de casas de madeira. Meu avô aceitou e voltaram para lá. Colocaram a mudança em um caminhão e seguiram para a fazenda. Moraram nessa colônia de madeira por um bom tempo. As casas não eram confortáveis e havia pouca privacidade. Um tempo depois, vagou uma casa na colônia de tijolos e eles se mudaram para lá.

A casa da colônia era feita de tijolo e coberta com telha, mas não tinha forro e nem divisória na parte de cima entre as casas. Por dentro as casas eram rebocadas, mas não pelo lado de fora, ficava o tijolo à vista. O chão era de terra batido. Quando varriam o quintal, traziam terra pra dentro para nivelar o piso e cobrir a madeira do batente da porta, onde tropeçavam. Também jogavam água no piso para evitar a poeira. Mais tarde moraram em outra em que o piso era de tijolo. O mesmo tijolo que usavam para construir a casa era colocado no piso. Na colônia em que minha avó morava, no São Joaquim, já era vermelhão, um tipo de cimentado colorido de vermelho.

Eles tinham um paiol onde guardavam o milho e a palha retirada do milho. A palha era usada para fazer colchão para a cama. Ela dormiu muitos anos em colchão recheado com palha de milho. Faziam um acolchoado preenchido com paina, colocavam por cima do colchão de palha e depois o lençol. Mais pra frente surgiram os colchões feitos com capim. Eles compravam pronto. Os de espuma e de molas, só veio conhecer depois que vieram para São Paulo.

Quando ela tinha onze anos, começou a trabalhar na casa da fazenda como arrumadeira. Como era miúda, Maria Helena, a patroa, ficou com dó dela e pediu para ela ser copeira. Havia cozinheira, ajudantes e copeiras. Uma vez, durante as férias da pajem das crianças, minha mãe a substituiu, mas foi por pouco tempo. Francelino, seu pai, trabalhou como jardineiro da casa da sede na fazenda. 

Um tempo depois que sua mãe morreu, quando ela tinha dezoito anos, seu pai juntou-se a Leonor. Sua irmã mais nova, a Cida, foi morar com o tio Dito e a Nona (Amélia Gomes). Maria não gostava da Leonor e não queria morar mais com seu pai e a ‘madastra’. Conseguiu um trabalho de arrumadeira em uma casa em Colina onde passou a morar e a trabalhar. Foi nessa época que ela conheceu meu pai, Reinaldo Sarti. Isto foi no final de 1958.

Maria Aurélio Sarti

Ao casar-se com meu pai, minha mãe passou a assinar o sobrenome da família Sarti. Segundo ela a adaptação não foi fácil. Como novo membro da família, era Maria quem deveria se adaptar, e não o contrário. Agora morando na colônia, meu pai não via sentido ela usar relógio de pulso e maquiagem (que se limitava a um batom nos lábios).  Motivo: “O que os outros vão pensar?”. As mulheres da colônia usavam roupas sóbrias, monocromáticas e depois de casadas, lenços nas cabeças. Como dizia meu pai: “Era o costume!” Maria deveria ajudar minha avó no trabalho doméstico e minha avó Virginia não facilitou as coisas para ela. Laboriosa e industriosa, não queria ver ninguém parado, à toa, sem fazer nada. Sempre havia algo para ser feito. Se ela trabalhava, mesmo grávida na roça ou em casa, não seria diferente com as noras. Segundo minha avó, muitas mulheres da colônia tiveram filhos debaixo dos pés de café, porque não dava tempo de voltarem pra casa.

A tia Clair mulher do Antonio, irmão do meu pai, já estava casada havia seis anos e conhecia bem o ‘sistema’ da família. Minha mãe encontrou nela uma grande amiga. Virginia tinha o Paulo com quatro anos e a Clair tinha a Zenaide com a mesma idade. Logo a Clair teve a Esmeralda. Uma ajudava a outra a olhar as crianças. Logo minha mãe também estava grávida e por ser miúda, a primeira gravidez não foi nada fácil. Naquela época não se fazia pré-natal e por ela ser baixa e miúda, quando a sua filha nasceu, era bem fraquinha. Aparecida adoeceu antes de completar três meses de vida. Os vizinhos, muito bem intencionados e davam todos os conselhos e sugestões: “Toma chá disso, chá daquilo. Dá banho com essa erva que ela vai melhorar. Leva na benzedeira que ela fica boa.” O único conselho que poderia ter salvado o bebezinho foi dado tarde demais. No consultório de um médico em Colina, depois de examinada, ouviram o médico dizer: “Se não quiserem que ela morra aqui, peguem um taxi e voltem pra casa!”. Não havia nem mesmo um hospital na cidade, com setor de emergência para correrem com a criança. Pegaram o taxi e voltaram para a fazenda. Logo depois ela morreu. Aparecida de Fátima Sarti, morreu com apenas 3 meses e 8 dias no dia 13/12/1959. 

Dois meses depois houve outra tragédia na família Sarti. A Nega (Lurdes), filha de Ângelo e Virginia morreu logo depois de dar a luz. Deixou dois filhos o Lilo e a Tuta. Um deles recém nascido. Como ela morava com a família do seu marido, em outra fazenda, os filhos ficaram com o pai, aos cuidados da sogra dela. Por isso, não tivemos contato com eles.

Um ano depois a alegria estava de volta à casa. Maria estava grávida novamente. Desta vez minha mãe se cuidou bem se alimentando melhor evitando trabalhos pesados. Quando sentiu as dores de parto foi de taxi para a Santa Casa de Bebedouro, SP onde fez o parto. Não era um menino, mas tudo bem, era uma menina saudável. No dia 28/11/1960 nasceu a Elza. Ela ganhou o nome da irmãzinha que não conhecera. Seu nome seria Elza Aparecida Sarti. No mesmo ano a Clair teve a Idalina. Eram mais dois bebês na família. Não por muito tempo.  

A Elza tinha apenas um ano quando no final de 1961 Ângelo decidiu junto com seu irmão Marcelo a deixarem a fazenda Retiro. Ouvira dizer que na fazenda Jangada, em Barretos tinha um café muito bom. E assim, logo estavam todos encima de um caminhão carregado de móveis, roupas, louças, e animais em direção a Barretos, SP. Minha mãe já estava grávida novamente e logo teria outro filho. Antônio, o filho mais velho de Ângelo resolveu que ficaria na fazenda Retiro. Sua mulher, a Clair também estava grávida e esperava o quarto filho.  

Como a fazenda Jangada ficava em Barretos, Maria ao sentir as dores de parto pegou uma carona com o dono da fazenda e foi para o hospital da cidade. Foi no hospital de Barretos, SP que no dia 11/01/1962, às 15 horas da tarde, eu nasci. Meu pai, Reinaldo tinha 25. Era o primeiro neto de Ângelo com o sobrenome Sarti. Afinal, minha tia Clair deu à luz logo depois a outra menina a quem chamaram de Márcia. Minha mãe queria que eu me chamasse João Luiz, mas quem mandava em casa era o marido. Ele ira decidir. Luiz é o nome do seu irmão mais novo, Luiz Paulo, e Antônio é o nome de seu irmão mais velho, assim ficou sendo Luiz Antônio Sarti.  

Como foi parto normal, alguns dias depois minha mãe estava no caminhão do patrão, onde pegou carona novamente com o filho ao colo. Meu pai só pode ir à cidade de Barretos, quase duas semanas depois. Com medo de ter que pagar multa por demorar em registrar, ele disse que eu tinha nascido no dia 25/01/1962 e esta é a data que consta no meu registro de nascimento. Tenho que conviver com isso, fazer o que? Tudo para evitar pagar uma multa. Eu fui registrado no cartório de Barretos e batizado na igreja católica de Barretos com dois meses.

Em setembro de 1962, Ângelo e seu irmão Marcelo, decepcionados com a colheita do café, resolveram deixar a fazenda Jangada e tentar a sorte na fazenda Caçula. Foi nessa época também que o Augusto Sarti, irmão do meu pai, com apenas 21 anos tomou a decisão de tentar a sorte na capital de São Paulo. E lá estava novamente toda a família ao lado das tralhas na carroceria de um caminhão voltando pra Colina. 

Mudavam de fazendas, mas não de rotina. Os homens iam para a roça trabalhar no café. Na fazenda Caçula meus pais conseguiram uma casa separada na colônia, portanto não moravam com a família do meu avô Ângelo, mas estavam em casas próximas. Minha mãe continuava com o interminável trabalho de cuidar da casa e dos dois filhos pequenos. Eu tinha apenas oito meses e nessa época, minha mãe diz que eu chorava muito e só queria mamar. Meu pai fez um cercadinho de madeira onde minha mãe me colocava, para evitar que eu engatinhasse pela casa e sumisse de sua vista. Um dia para me distrair, ela me deu um sabonete para brincar. Eu rapidamente descobri que era possível tirar o papel que envolvia o sabonete. Meu interesse não era comer o saponáceo perfumado, mas sim o pape colorido. Minha mãe estranhou. Por eu estava tão quieto? Por instinto correu até o cercadinho. La estava eu, engasgado com o papel, sem conseguir balbuciar um grito de socorro, mole e sem forças no corpo. Desesperada, ela começou a gritar. Da outra casa, minha vó Virginia e minha tia Nadir ouviram os gritos e correram para acudir. Mas as três mulheres juntas não eram capazes de fazer nada. De repente veio à mente da minha mãe um conselho sábio de sua avó, Amélia Gomes, a Nona: “Chupe o nariz dele com a sua boca!” E foi o que ela fez. Assim que o pedaço de papel soltou da minha garganta, eu puxei o ar pra dento dos meus pulmões e a vida voltou ao meu corpo. O choro de tristeza e desespero transformou-se em choro de alegria. E essa história seria repetida at nauseum por anos e anos no futuro.

Naquele cercadinho eu aprendi a levantar sozinho e logo já dava meus primeiros passos. Escorado nas grades eu caminhava em volta dele pelo lado de dentro.  Um ano depois eu já estava falando e caminhando. Minha irmã Elza, um ano e dois meses mais velha, foi testemunha disso tudo sem dizer uma única palavra. Literalmente, pois eu e tive a incumbência de ensina-la a fazer o mesmo. Aos dois anos de idade ainda não falava nada. Quem a conhece hoje sabe que depois que aprendeu, não parou mais!

Mas andar era pouco para mim. Eu queria mesmo era correr! Minha mãe contou que um dia, na fazenda Caçula, quando eu tinha dois anos de idade, eu desapareci. Ela sentiu minha falta, procurou por todos os cantos dentro da casa, mas não me encontrou. Foi até a porta da frente e viu, bem longe no pasto, um pontinho branco correndo em direção a um grupo de vacas. Segundo ela, eu passei por baixo da cerca de arame farpado que separava a colônia do pasto e corri em direção as vacas que paravam em fileira para me observar. Ela disse que as vacas confundiam crianças com cachorros e podiam atacá-las. Nesta tourada eu certamente seria o perdedor! Fui salvo pelos gritos desesperados de minha mãe que implorava para eu voltar.

Logo minha mãe anunciou que estava grávida novamente e também chegou noticias da fazenda Retiro que minha tia Clair também esperava pelo quinto filho. Acho que nesta época minha mãe combinou com meu pai que parariam no quarto filho!

Quando chegaram a fazenda Caçula o dono da fazenda convidou meu pai para ser retireiro, ou seja, ficar encarregado dos animais da fazenda. Ele preferia ser retireiro a ter que trabalhar no café. Sentia-se mais livre, não só pela natureza do trabalho, mas com certeza por não precisar dar satisfação ao seu pai. Foi nesta fazenda que ele teve o desentendimento com o administrador da fazenda e acabou processando a fazenda. Esta história está na postagem 3 deste Blog. Em Colina Reinaldo ficou famoso. Sem dúvida ele tinha sido audacioso, atrevido e ousado. Mas esses adjetivos podem ser tanto positivos ou negativos. Alguns o admiravam por isso, mas outros não. Reinaldo ganhou a cause e uma boa indenização, mas teve que entregar a casa da colônia ao patrão e voltou a morar com seu pai sua mãe e seus irmãos. Mas ainda era na mesma fazenda. Ângelo com certeza não se sentia à vontade com essa situação. Se por um lado havia forças que empurravam Reinaldo da vida rural, outras o chamavam para a vida urbana.

Na mesma época seu primo Nêne, filho de Henrique Sarti, o irmão mais velho do meu avô, veio visitar a família na fazenda e contou que Augusto estava trabalhando e morando com eles. O tio da minha mãe, Benedito (Dito), falava das vantagens de se conseguir trabalho com facilidade e com melhor salário na Capital. Surgia diante de Reinaldo um novo caminho com novas possibilidades. Em novembro de 1963, Reinaldo Sarti, mesmo com a esposa Maria Aurélio Sarti grávida do terceiro filho, e com dois filhos pequenos, Elza com três anos, eu perto de completar dois resolveu mudar para São Paulo.  Ângelo Sarti, seu pai foi para a fazenda Palmital em Colina, SP.

Segundo minha mãe, viemos de trem. Na bagagem um baú grande com roupas de cama e as poucas coisas que tinham. Ela trouxe com ela uma maquina de costura manual Singer. Eram os únicos bens materiais da família. Iriam começar do zero.

Êxodo rural

A migração do meu pai para São Paulo em 1963 coincidiu com a queda da importância do café na economia brasileira. Durante o governo de JK a política cafeeira, absorveu um expressivo montante de recursos para restringir a oferta de café, devido ao excesso de oferta cafeeira. Jânio Quadros assumiu a presidência em 1961, herdando de JK alta inflação e precariedade no balanço de pagamentos. O segundo semestre de 1962 foi marcado por aguda crise política. A inflação aumentava e o PIB encolhia, o descontrole fiscal agravou-se, a economia cresceu apenas 0,6% em 1963 e a inflação anual beirava os 100%. O palco estava armado para o golpe militar que se deu em 1964. 

A Primeira fase do regime militar não foi boa economicamente, mas coincide com a vinda de meu pai para São Paulo. Ele era trabalhador, acostumado a trabalhar duro na lavoura. Não foi difícil encontrar trabalho. A partir de 1968, com o ‘milagre econômico’, nossa qualidade de vida em São Paulo mudou para melhor. Casa própria, carro, televisão e telefone a partir de 1980.

Segundo a Esmeralda, meu avô Ângelo chegou a ter dinheiro suficiente para comprar uma fazenda. Ele poderia ter realizado o sonho de seu pai Giacomo Sarti, que ao deixar a Itália, certamente sonhou em poder ser dono de seu destino. Mas Ângelo nunca chegou a fazê-lo. Segundo elas, eles eram medrosos. Eu acho que a resposta não é tão simples. As fazendas naquela região são muito grandes. Raramente encontram-se pequenos agricultores. Além das terras haveria necessidade de equipamento e ter conhecimento técnico e administrativo. Nenhum dos meus tios tinha sido preparado para isso. Além do mais, o café deixava de ser um produto importante, agora era a vez da laranja e logo depois da cana-de-açúcar. 

A Esmeralda acha que corajosos foram meu pai, Reinaldo e o nosso tio Augusto que se mudaram para São Paulo. Houve uma época em que vários colonos da fazenda Retiro foram embora para Americana, para trabalhar na indústria têxtil de lá. Eles faziam propaganda e tentavam convencer outros colonos a ir embora de Colina. O tio Antonio quase foi, mas no ultimo minuto desistiu. Elas imaginam como teria sido diferente a vida delas se elas tivessem ido para lá. Não teriam casado com quem casaram nem teriam tido os filhos que tiveram. Teria sido uma vida melhor? Como saber?

São Caetano do Sul, SP

São Caetano do Sul faz parte do Grande ABC, na região metropolitana de São Paulo. As outras cidades são Santo André e São Bernardo do Campo. Na esteira do Milagre Econômico a partir de 1968, as cidades do Grande ABC cresciam com abertura de fábricas. A escolha por São Caetano foi porque os primos dos meus pais já moravam e/ou trabalhavam lá.

        O que sabemos é que ao nos mudarmos para São Paulo tivemos muita ajuda dos parentes dos meus pais. No começo, ele foi acolhido pela família do Nêne e da Pina. Ele dormia em um quarto da casa onde já morava o seu irmão Augusto com o primo Bépi. Enquanto isso, minha mãe com os dois filhos ficava na casa de sua avó, a Nona que morava com o tio Dito. O Dito Soares e Maria Soares, tios da minha mãe já tinham vários filhos: Marisa, Vera, Natal, Claudio, Doroteia, Aguinaldo. O tio Dito Soares, tio da minha mãe ofereceu para ficarmos em sua casa, até meu pai encontrar trabalho e alugar uma casa. No primeiro mês, meu pai ia nos visitar no final de semana. 

Meu pai começou a trabalhar na Cerâmica São Caetano, onde seu irmão Augusto trabalhava. Logo depois ele alugou uma casa pequena em um cortiço na Vila Paula, São Caetano do Sul e logo nos mudamos para lá. Dona Maria, a locadora, morava na casa da frente, e atrás da casa dela seguia outras três casas, com dois cômodos cada uma. Parecia um trem de cargas sendo a casa da Dona Maria a locomotiva. Éramos locatários da ultima casa da fileira. Meu pai comprou moveis usados: um guarda-louça, uma mesa com quatro cadeiras, todos pintados de branco e um fogão à gás para a cozinha. No quarto um guarda roupas, uma cama de casal e uma de solteiro. O baú que veio na mudança fazia parte do mobiliário assim como a máquina de costura da minha mãe. 

Nós já morávamos lá quando, em março de 1964, nasceu a Rita de Cássia, minha irmã e terceira filha de Reinaldo e Maria. Em São Caetano do Sul, cidade conhecida pela assistência social de ótima qualidade, minha mãe teve excelente acompanhamento e pré-natal. Minha mãe teve a Rita em casa com a assistência do serviço de saúde municipal. Eu tenho a lembrança do dia em que duas pessoas desconhecidas chegaram em casa vestidas de branco. Uma delas carregava uma maleta nas mãos. Eu e minha irmã Elza fomos interditos pela Dona Maria. Algum tempo depois os dois desconhecidos foram embora e a Dona Maria nos levou para dentro do quarto onde minha mãe segurava um bebê no colo. Era nossa irmãzinha! Por muito tempo acreditamos que ela tinha sido trazida dentro daquela maleta pelas duas pessoas vestidas de branco. 

Logo recebemos noticias de que o quinto filho do meu tio Antonio, nascido em Bebedouro era um menino. Seu nome era Marcos Antônio. Finalmente nascera o filho homem que ele sempre quis. Augusto Sarti, irmão de meu pai foi para Colina para o seu casamento com a Célia Zapella. O casamento foi no dia 19/02/1966. Meu pai não pode viajar para o casamento dele.

Minha mãe ficava em casa cuidando dos filhos e da casa enquanto meu pai trabalhava. Nos finais de semana, íamos a igreja católica do bairro e meu pai nos levava para passear em uma pracinha bem perto de casa, ou então para andar de triciclo no estádio de futebol Lauro Gomes. No quintal da Dona Maria, havia quatro casas. Ela morava na casa da frente. As outras três eram alugadas, sendo a ultima a casa onde morávamos. Para não termos muito contato com as outras crianças, filhos dos outros inquilinos da Dona Maria e do seu José, meu pai pediu autorização para fazer uma cerca de ripas e separar um pedaço do quintal em frente a porta da casa.  Segundo ele, não queria que aprendêssemos a falar palavrões. Segundo minha mãe, era para não irmos perto do poço d’água. Dentro daquele cercadinho, passávamos a maior parte do dia.  Mas não seria um cercadinho que iria me segurar. Afinal de contas, eu já tinha três anos de idade!  

A nossa irmãzinha Rita crescia saudável, mas como qualquer criança pequena demandava toda atenção da minha mãe. Um dia, eu consegui abrir o portão do cercadinho e fui para a parte da frente do quintal, onde ficava a casa da Dona Maria. O portão que dava para a rua, era fechado por um trinco, ou tramela, fácil de ser aberto, ou talvez alguém tenha esquecido de trancar o portão. Aquela seria a minha oportunidade de explorar o mundo ao redor! Aproveitei a oportunidade e sai em busca de novos horizontes. Depois de um momento de procura frenética por parte da minha mãe, e suas vizinhas, fui encontrado sentado em um monte de areia brincando despreocupado. A areia havia acabado de chegar e fora descarregada em frente a uma casa que seria reformada. Eu vi a oportunidade de uma nova descoberta e distração. Foi um homem que passava na rua e viu as mulheres preocupadas, quem me delatou: “Eu vi um menininho brincando ali, atrás daquele monte de areia.” – E lá fui eu de volta ao cercadinho!

Em outra ocasião, minha mãe me deu banho, me vestiu com o conjunto de camisa e bermudas que eu usava todos os domingos para ir à missa. Ela tinha comprado novas roupas para nós, à prestação na loja Riachuelo. As roupas da missa de domingo agora passariam a ser usadas em casa. Mas minha mãe se esqueceu de nos avisar deste pequeno detalhe! Depois era hora de dar banho na pequena Rita. Enquanto ela estava distraída, lá fui e novamente em busca de novas aventuras. Terminado o banho de minha irmãzinha, minha mãe deu pela minha falta. Procurou no outro cômodo e no quintalzinho. Perguntou pra Elza, minha irmã mais velha: “Cadê o Zizi?” – Zizi era o meu apelido. E ela respondeu calmamente: “Ele foi à micha! (missa)” - Lá foram a minha mãe e uma vizinha atrás de mim enquanto a Dona Maria ficava de olho da Elza e na Rita. Acabaram me encontrando na igreja do bairro Santa Paula, São Caetano, onde todos os domingos meus pais assistiam a missa.

Eu havia, com bravura e coragem, atravessado algumas avenidas largas e movimentadas para cumprir com minha obrigação espiritual. Obviamente, não havia nenhum padre rezando missa naquela hora. Devo ter levado uns bons puxões de orelha na volta para casa por ter tirado minha mãe da rotina dela, e a obrigado a deixar as minhas irmãs aos cuidados de desconhecidos enquanto ela me procurava preocupada, desesperada. Eu me recordo de quase nada!

Logo minha mãe estava grávida novamente. Seria seu quarto filho, e conforme combinado com meu pai, o ultimo. Minha tia Célia e tio Augusto, recém-casados, também já haviam encomendado o deles. No dia 28/11/1966 minha mãe teve o filho no hospital. O nome dela seria Silvia Regina Sarti. Logo chegou a noticia de que minha tia Clair tivera outro filho em Colina. Seu nome era Antonio, ou Toninho. No mesmo mês a tia Célia, mulher do meu tio Augusto que também moravam em São Paulo, teve seu primeiro filho o Edson. 

Segundo a minha mãe, voltamos para Colina para visitar os meus avós e meus tios quando eu tinha quatro anos de idade, antes da Silva nascer em novembro de 1966. Voltamos para lá no final de 1967 e início de 68. Foram nessas viagens que eu senti o gostinho da vida que minha família de agricultores e colonos tiveram.  Meu pai tinha comprado uma maquina fotográfica, do Baú da felicidade, do Silvio Santos e com esta câmera fotográfica foram feitos os primeiros registros da família em férias em Colina, SP. Eles costumavam dizer: “Vamos pro interior!” – E nós ansiosos nos preparávamos para a viagem.


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9 - Os patriarcas

Depois de muito tempo buscando e colecionando documentos e informações, eu tinha um mosaico histórico da família. Eu sabia de onde eles vieram e quando chegaram ao Brasil. Giacomo Sarti, Felice Feltrin e Felice ‘Bon’ Tiozzo com seu filho Carlo Tiozzo foram os emigrantes que fizeram a travessia do oceano Atlântico a fim de iniciar uma nova vida e formar novos clãs no Brasil. Eles tornaram-se os patriarcas de novas famílias aqui. Segundo o dicionário 1 , patriarca é um chefe de família, por extensão de sentido pessoa mais velha que se respeita, obedece e venera e que tem grande família. Neste sentido, os três emigrantes da minha família eram patriarcas. Felice Feltrin veio casado com Luigia Gabrieli e seus filhos e esses aqui se casaram e tiveram vários filhos. Os outros dois emigrantes, Giacomo e Carlo vieram jovens, ainda solteiros. Aqui casaram-se e tornaram-se patriarcas. Farei um breve relato de cada um deles, baseado em fatos e nas informações coletadas nos documentos encontrado

13 - Castelguglielmo

Quando eu perguntava ao meu pai:  “ De onde vieram os seus avós ?” Eu esperava a seguinte resposta: “ Eles vieram de uma cidade chamada Castelguglielmo, que fica na província do Vêneto na Itália. ” Mas como disse antes, a resposta era simplesmente: “ Da Itália !” Depois de montar um verdadeiro quebra-cabeça eu finalmente cheguei à cidade onde Giacomo Sarti, meu bisavô nasceu: Castelguglielmo .      O membro mais antigo da família a que eu cheguei, rastreando registros de óbitos, casamentos, batismos e nascimentos foi Giovanni Sarti meu tetravô (tataravô). No site do FamilySearch descobri que ele foi casado com Cattarina Romanieri. Um dos filhos do casal foi Giuseppe Sarti, meu trisavó. Seu filho foi Giacomo Sarti, meu bisavô, que emigrou da Itália para o Brasil. Giuseppe Sarti e Luigia Munari moravam em Castelguglielmo quando Giacomo Sarti nasceu no dia 29/11/1864. Na lista di leva de Giacomo Sarti indica que ele nasceu nesta cidade, pois ali consta que a ‘ comune de inscrizione ’ é C

12 - A Mesopotâmia italiana

A palavra mesopotâmia quer dizer ‘terra entre rios’. 1 Aqui refere-se a uma área específica no Vêneto, Itália chamada Polesine (pronuncia-se Polésine), importante em nossa história, pois nela encontra-se a maior parte das cidades onde nasceram, viveram e morreram alguns membros das famílias Sarti, Feltrin e Tiozzo. Nos documentos destas famílias encontramos a menção das seguintes cidades: Bagnolo de Pó, Castelguglielmo, Carvazere, Chioggia, Fratta Polesine, Lendinara, Ramadipalo, Rovigo, San Bellino, e Veneza, todas no Vêneto.  A Polésina é um território situado ao norte da Itália entre os trechos finais de dois rios importantes, o Ádige e o Pó. Além desses dois rios ainda há o Tártaro-Canalbianco, o Adigetto, uma derivação do Ádige, o Ceresolo, um canal artificial de 50 km usado para irrigação e uma densa rede de canais de drenagem. Os rios, lagoas e pântanos ligavam as comunidades próximas, garantiam abastecimento de água e alimentos. Por isso, as primeiras áreas habitadas surgiram