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29 - Reinaldo Sarti: Uma biografia

A biografia de meu pai é baseada em uma entrevista que fiz com ele. Durante vários dias me sentei e pedi para ele me contar o que lembrava de sua vida, desde a primeira lembrança e os acontecimentos que marcaram seus anos. Anotei tudo, e depois com calma reescrevi ajustando as informações as que eu já sabia, datas de documentos e fotografias. 

Para os desavisados, esta postagem foi escrita como se Reinaldo Sarti estivesse, ele mesmo contando sua história, portanto está na primeira pessoa do singular e em registro coloquial. Durante a leitura, convido o leitor a imaginar sua voz e fazer a viagem com ele

Fazenda Recreio (1937-1940) 

“Quando eu nasci, meus pais moravam na fazenda Recreio em Colina. Eu nasci em casa com ajuda da parteira, no dia 25 de novembro de 1937. Minha mãe tinha uns 26 anos e meu pai uns 30. Ela se chamava Virginia Tiozzo e era filha de italianos. Meu pai também era, mas eu não sei de onde na Itália. Eu tinha dois irmãos, o Antonio e o Geraldo. O Antonio é de 1932, então ele tinha cinco anos e o Geraldo dois anos.

Minha primeira memória? Deixa-me pensar! Eu me lembro da minha mãe cortando toicinho de porco em uma tábua. Eu ficava espiando e esperava ela sair de perto da mesa pra fazer outra coisa, ai eu corria lá na mesa, levantava os pesinhos para alcançar a mesa e pegava um pedaço de toicinho escondido, colocava na boca e comia disfarçando, pra ela não ver. Às vezes ela via e me dava bronca.

Fazenda Aparecida (1940)

Em 1939 o meu avô Jacomo e dois filhos dele, o Marcelo e o Ângelo se mudaram pra fazenda Aparecida. Eu tinha uns dois anos e meio na época. Da fazenda Aparecida, eu me lembro de ter matado uma pombinha com um estilingue. Mais isso foi depois de um ano tentando! Eu devia ter uns quatro anos de idade. Era comum entre as crianças matarem passarinhos com estilingue, todo mundo fazia isso!

Num espaço de um ano, entre 39 e 40 morreram três pessoas na nossa família. Primeiro foi o Vitório, filho do meu tio Marcelo. Ele morreu jovem, tinha uns 35 anos de idade, enquanto ia de casa para a roça levar almoço pro meu pai e o pessoal que trabalhava com ele. Depois foi meu avô, o Jacomo, e a Aparecida, minha irmã. Eu tinha um ano e meio de idade. Foi um ano de seca e o meu pai, desgostoso com tantas lembranças ruins e também por causa do prejuízo com a plantação de algodão, resolveu voltar para a fazenda Recreio onde eu tinha nascido.

Fazenda Recreio (1940-1945)

Na fazenda Recreio, a sede da fazenda era isolada, e ficava mais ou menos um quilômetro da coloninha e uns quinhentos metros da colônia velha. A nossa família morava na coloninha onde tinha apenas quatro casas, três paineiras e um campo de futebol. As casas eram construídas germinadas e em cada casa morava uma família. As casas eram pintadas de amarelo escuro. Na colônia velha, havia vinte grupos de casas, e cada grupo tinha duas casas germinadas. Não havia forro e a parede que dividia uma casa da outra não chegava até o teto. Ninguém tinha privacidade!  

Não tinha escola na fazenda Recreio. Quando o Antonio, meu irmão tinha uns doze anos, ele ia da coloninha até a colônia velha na casa de um senhor que ensinava as pessoas que moravam na fazenda a ler. Ele aprendeu a ler à noite, depois de trabalhar o dia todo na roça. O Geraldo, que era três anos mais novo que o Antonio, começou a acompanhar ele e a estudar também. 

O meu pai, Ângelo sabia ler pro gasto, o suficiente. Ele gostava de escrever cartas e tinha uma letra muito bonita! Mas ele era ruim em matemática e se atrapalhava com os números. Em 1945, eu já tinha oito anos e ainda não sabia ler nem escrever. Meu pai queria que os filhos aprendessem a ler e por isso, preocupado que já passava da hora d’eu aprender resolveu voltar para a fazenda Aparecida, onde tinha uma escola. (Fotografia: Antonio e Geraldo)

Fazenda Aparecida (1945 – 1947)

No meu primeiro dia de aula, eu vesti o uniforme: calção azul-marinho com suspensórios e camisa branca. Mas eu não tinha sapatos e ia descalço para escola. Foi minha mãe que costurou o uniforme na máquina manual que tinha em casa. A camisa era feita com o saco de farinha que era alvejado para ficar branco. O Geraldo, meu irmão já tinha dez anos e ia junto comigo. Eu me sentia seguro ao lado dele!  No caminho entre a casa e a escola, a gente se juntava a um grupo de meninos e ia caminhando por uns quatro quilômetros a pé passando por um pasto onde havia vacas mansas.

Mas, voltando da escola, quando as vacas estavam perto da estrada, os meninos procuravam pela maior pedra que podiam encontrar e atiravam na testa das vacas pra fazer elas desmaiar. A gente não tinha dó dos animais! Tinha um mangueirão1 nos fundos da casa, um tipo de cercado longo e estreito que corria paralelo às casas da colônia. Nele tinha um coxo para os porcos tomarem água e muita lama em volta dele. Os meninos saiam correndo atrás dos porcos. Assustados, eles corriam atropelando os leitões. Alguns porquinhos afundavam na lama e ficavam apenas com a cabeça pra fora. De vez enquanto alguns morriam e o resultado era uma boa surra.

A escola só tinha uma sala. Era praticamente um cômodo grande de uma casa. Tinha um quadro negro e a professora usava giz branco para escrever na lousa. As carteiras era grande suficiente para dois alunos sentar e em cada carteira tinha um pote de tinta preta onde os dois alunos molhavam a pena para escrever. O que eu mais odiava era que pingava tinta da caneta e borrava o caderno e a carteira! Às vezes, um aluno distraído batia a mão no pote de tinta que caia no chão lambuzando tudo em volta. Havia uns trinta alunos na sala, e as turmas eram mistas, meninos e meninas. O nome da professora era Hebe Toledo e ela vinha de Colina para ensinar na fazenda. Era só uma sala, mas eu acho que tinha alunos de séries diferentes: primeira, segunda e terceira.

Depois que eu voltava para casa da escola, ás vezes eu ajudava minha mãe a cuidar dos meus irmãos mais novos, a Nega (Lourdes), o Gusto (Augusto) e o Varisto (Evaristo) ou então eu ia até a roça ajudar o meu pai e o Antonio. A Nega tinha uns cinco anos, o Gusto três e o Varisto um ano de idade ou menos.

O que aprendia na escola? Eu me lembro de ir até a frente da sala recitar poesias. Mas logo eu aprendi com os outros meninos a aprontar. Havia um caminho que dava na escola. A gente corria na frente, amarrava o capim de vassoura2 e voltava. Ai um de nós gritava bem alto: “Tocou o sino. Tamo atrazado. Vamos correr!” Os meninos saiam correndo na frente e deixavam as meninas pra trás. A gente pulava a vassoura e as meninas caiam. A gente parava e caia na risada!

No recreio a gente brincava de esconde-esconde e pega-pega no colonião3, um tipo de capim parecido com cana. Dois filhos do patrão, um casal, estudavam junto com a gente, os filhos dos colonos. Mas eles iam bem vestidos, com meia e sapatos, bolsa de couro e tinham material bom: caderno, livros, canetas. Eles falavam diferente da gente, por exemplo: ‘melhor’ em vez de “meior”. Um dia a gente resolveu aprontar com o filho do patrão. Tinha uma cisterna de três metros de profundidade perto da escola. Eu e meus colegas cobrimos a boca da cisterna com mato e chamamos todo mundo pra brincar de pega-pega, inclusive o garoto almofadinha. Corremos em direção à cisterna com ele atrás da gente. Eu olhava pra trás e chamava ele: “Vem, vem, corre, corre!” Quando chegou pertinho da boca da cisterna, nós pulamos o capim. Ele não sabia de nada e caiu lá dentre. No começo foi muito divertido e a gente riu muito. Mas pra ele não foi nada divertido! Ele não conseguia sair, começou a chorar e a gritar desesperado. A professora teve que chamar alguém da fazenda para tirar ele lá de dentro. Depois que ele saiu, o menino teve um acesso de choro e disse que ia contar tudo pro seu pai. A dona Hebe ficou muito brava: “Quando descobrirem quem fez isso, a família vai ser expulsa da fazenda!” Eu fiquei apavorado, mas ninguém nunca delatou ninguém. Nunca aconteceu nada!

Na volta da escola pra casa, a gente passava por um rio que enchia um pequeno açude. A gente mandava as meninas ir na frente. Elas não queriam, a gente insistia. Depois a gente tirava as roupas e nadava pelado. Elas esperavam a gente entrar na água e depois voltavam para espiar a gente. Depois elas corriam pra casa e contavam para os nossos pais. Quando a gente chegava em casa, apanhava das mães. Um dia, eu quase morri afogado, mas nunca contei pra minha mãe! Meus pais queriam que a gente fosse direto pra casa depois da escola pra cuidar dos irmãos caçulas. Se os menores estivessem dormindo a gente tinha que tirar palha do milho ou debulhar milho pras galinhas. Às vezes eu ia procurar vassoura no mato para minha mãe Virginia limpar o forno.

Eu gostava da minha professora, a Dona Ebe Toledo, filha do administrador. Ela foi a única professora que eu tive, nos quase três anos que eu estudei. Mas eu pequei raiva dela!  No final do ano, depois do exame final era hora de saber quem tinha passado de ano. A professora pedia pra gente fazer uma fila. Ela chamava os alunos por nome. Os que passavam de ano, iam pro lado direito, os que repetiam iam pro lado esquerdo. Ela chamou o meu irmão, Geraldo e disse: “Você passou. Vá para a direita!” – Depois chamou o meu nome. Eu olhei pra ela, ansioso esperando o que ela ia dizer! Eu não levava as aulas à sério. Eu brincava muito nas aulas, e dava muito trabalho pra ela. Mas tinha esperança! Ela olhou bem pra mim e disse: “Reinaldo, você passou....”. Ela fez uma pausa. Eu olhei pra ela sorrindo. Mas logo em seguida ela acrescentou: “... passou na porta!” – Todo mundo riu de mim. Eu fiquei muito bravo e fui pra casa chorando com medo de contar pro meu pai. Ele não deve ter ficado muito bravo porque eu não me lembro da reação dele. Se ele tivesse ficado bravo comigo, eu com certeza me lembraria até hoje! No segundo ano, Geraldo passou de ano, eu não, ainda assim, continuamos a estudar juntos no ano seguinte.

Meu pai era muito severo e rígido com o trabalho e os horários. A gente almoçava às 8h30 da manhã. Quase todo dia era arroz, feijão, ovo, linguiça ou frango. Na janta tinha minestra: caldo de feijão com arroz e uns pedaços de linguiça. No Natal ou Páscoa tinha macarronada. Lá pelas 12h30 a gente comia polenta com leite. As mulheres ou os meninos levavam na roça para o pai e quem tivesse ajudando na roça.

À noite, logo depois do pôr do sol, a família se juntava para o jantar. Eu fazia hora pra comer! O meus irmãos mais velhos, o Antônio e o Geraldo, comiam rápido e ao terminarem saiam da mesa. Eu queria ir com eles para brincar de esconde-esconde com as crianças da colônia. Lá tinha mais de 30 crianças entre 8 e 15 anos. Em noites quentes os meninos maiores iam nadar no açude.

Um dia o patrão mandou cavar um canal de água que cortava a colônia em perpendicular. Depois que abriram a valeta, os empregados começaram a erguer uma cerca para cercar o canal. Eles estiraram o primeiro fio de arame farpado na parte de cima da cerca. Quando começou a escurecer, eles pararam o serviço pra continuar no outro dia. Naquela noite, eu comi rápido para ir brincar com os meninos da colônia. Antonio e Ângelo terminaram primeiro e saíram. Eu nem pensei, levantei da mesa pra ir atrás deles. Meu pai agarrou o meu braço e ordenou: “Termina a comida que tá no prato!”. Eu nem era louco de desobedecer a ele. Eu voltei a comer, mas com pressa praticamente engolindo a comida sem mastigar direito. Meu pai, que já devia estar nervoso com alguma coisa, disse pra mim: “Come devagar!” Eu dei mais umas garfadas e sai da mesa correndo, ainda mastigando tentando alcançar os meus irmãos mais velhos. Era quase noite, eu não me lembrei da valeta e não vi o arame farpado que estava estirado entre as estacas de madeira. Resultado: fiquei preso pelo pescoço. Eu gritava chorando pedindo socorro, que alguém me ajudasse! Meus pais e outras pessoas da colônia ouviram os meus gritos. Meu pai saiu de dentro de casa e veio correndo até onde eu estava. De repente, eu senti um chute no meu traseiro. Foi a forma que ele achou pra me ajudar a se desvencilhar do arame. Até hoje eu tenho a cicatriz embaixo do queixo.

Minha mãe, como sempre chorou muito. Ela só chorava! Talvez por causa da incompreensão do Ângelo, saudade dos seus pais ou de algum filho que tinha morrido! Talvez fosse depressão, mas ninguém sabia o que era depressão naquela época!

Fazenda Recreio (setembro 1947-1952)

Em setembro de 1947 nasceu minha irmã Zumira. Me lembro que eu e o Antonio fomos correndo, a pé, até a fazenda vizinha chamar a parteira, a dona Francisca Tavilha. A Zumira era ainda recém-nascida quando a gente se mudou da fazenda Aparecida para a fazenda Recreio. Eu tinha onze anos de idade, então deve ter sido no final de 1947. Durante a mudança, eu fui encima da carroça que era puxada por cinco burros. Eles colocavam a quaieira 2 no pescoço dos burros, o selote nas costas pra prender o espinhaço pra puxar o carro. Os burros eram usados para carregar o mais pesado. Para carga mais leve usava a canga.4 Era um comboio de três carroças e tiveram que fazer várias viagens pra levar tudo de uma fazenda até a outra.  

De volta a fazenda Recreio, fomos morar na coloninha.  Não tinha escola na fazenda, por isso não tinha como eu continuar os estudos. Eu comecei a estudar a noite com um senhor, aquele que ensinou o meu irmão Antonio a ler. Ele não era professor, mas era o que sabia ler melhor na fazenda. Durante o dia eu passei a levar o almoço na roça para o meu pai e meus irmãos mais velhos, Antônio e Geraldo. Eles trabalhavam no café na fazenda Recreio. Entre as ruas, tinha dois metros entre uma fileira e a outra. Nelas eles plantavam feijão, milho e arroz. Na volta da roça, eu trazia um feixe de lenha na cabeça. Na casa que a gente morava da coloninha, tinha uma horta no fundo do quintal com couve, almeirão, vagem, abobora e mandioca pro uso da gente e pra da para os porcos.

Junto com outros meninos, a gente brincava de fazer carroça. A gente usava uma cadeira como carroça. Primeiro a gente amarrava a cadeira em quatro meninos enfileirados, um na frente do outro. A gente passava uma corda pela cintura de cada um deles. Eles ficavam presos um no outro pela cintura. Por último amarrava o encosto de uma cadeira. Um menino sentava na cadeira e os quarto meninos saiam correndo, puxando a cadeira pela colônia. Quase sempre eles capotavam a cadeira, se machucavam, quebravam a cadeira e apanhavam dos pais.

Eu fui crescendo e passei a nadar escondido dos meus pais no açude. A gente mesmo fazia o açude, empossando um córrego. Depois eu comecei a roubar melancia dos outros vizinhos. Mas não era porque a gente precisava não! A gente tinha melancia na nossa horta. Era só pelo desafio, pela emoção mesmo! E logo eu aprendi a montar cavalo.

A copa de futebol do mundo de 1950 foi no Brasil. Ninguém tinha radio na colônia porque não tinha eletricidade. O meu pai, Ângelo, ia até a sede da fazenda ouvir os jogos no radio. Eu já tinha quase treze anos. Enquanto meu pai ia ouvir futebol, eu e mais quatro meninos da colônia pegavam os cavalos e ia apostar corridas. A gente fazia acrobacias e manobras em cima dos cavalos, pulava do cavalo pro chão, depois de volta ao cavalo. Depois pulava pro lado oposto, ao chão novamente e de volta para o lombo do bicho. Os cavalos ficam suados! Até o dia em que o meu pai descobriu! Acabaram-se as brincadeiras com cavalos! Mas, ele viu que eu sabia andar a cavalo!

Na fazenda tinha uma vaca arisca que tinha medo das pessoas. Um dia meu pai me chamou pra ajudar ele a separar aquela vaca das outras. Ele montou um cavalo e eu em outro. Chegamos perto do grupo de vacas. Meu pai começou a dar as coordenadas e eu fazia o que ele dizia. Eu entrei com o cavalo no meio delas, cheguei perto dela e usando um chicote, fui empurrando ela pra fora do grupo.

Eu consegui. Mas, enquanto olhei pro meu pai, todo contente, ele me deu sinal de que a vaca tinha voltado para o grupo. Fui atrás dela e tirei ela do grupo novamente.  Mas ela era teimosa e insistia. O rebanho já tava agitado com aquela confusão. Depois que eu tirei a vaca do grupo, ela começou a correr. Eu, sobre o cavalo, corri paralelo a vaca. Ela entrou no meio do mato correndo e eu atrás dela. Meu pai me perdeu de vista, mas não foi atrás, ficou perto do rebando esperando. Meu pai não permitia que eu desistisse. Eu não desisti. Eu era mais teimoso do que a vaca! Eu me arranhei todo nos galhos das arvores e cheguei a me cortar, mas sai do meio do mato com ela ao meu lado. Eu estava machucado, mas venci a vaca pelo cansaço.

Em 1951 o patrão pediu que o Ângelo trabalhasse com ele cuidando de animais, tombando terra com o trator e transportando milho da lavoura para o celeiro. O meu irmão Antonio passou a ser o responsável pela roça. Ele já estava com 19 anos e eu com 13. A partir de então eu comecei a ajudar na roça. Trabalhava com o Antonio e o Geraldo. A gente tinha muito medo do meu pai. À noite, durante a janta, o Antonio tinha que prestar conta do que fizemos na roça, por isso, durante o dia ele pegava no me pé e do Geraldo, os dois menores para trabalharem mais.

O Antonio separava as ruas de café: uma para ele e deixava duas pra mim e pro Geraldo. Cada um ficava responsável por sua rua. Enquanto o Antonio pegava o café no vão, eu deixava ele ir na frente até ficar longe. Então eu parava o serviço, pegava o estilingue e ia matar passarinho. Quando eu via um grupo, eu corria atrás dos passarinhos, me distraia e acabava me perdendo. Os meus irmãos, quando sentiam a minha falta, paravam o serviço pra me procurar. À noite, quando meu pai chegava em casa, o Antonio contava tudo pra ele. Sempre sobrava pra mim!

Um dia o Geraldo tava afiando uma enxada com uma lima, uma lâmina metálica usada para afiar enxadas. O Antonio começou uma discussão com ele. O Geraldo disse que ia jogar a lima no pé do Antônio. O Antonio desafiou: “Duvido você fazer isso! Você não tem coragem!” O Geraldo não pensou duas vezes. A lima fincou no pé do Antonio e o sangue começou a jorrar. Eu e o Geraldo tivemos que ajudar ele a voltar pra casa. Quando o Ângelo chegou em casa e soube do que acontecera, sobrou pra todo mundo, até pra mim. Ele bateu nos três com cinta e vara, deixando marcas nos nossos corpos. O Antonio que já era quieto por natureza, ficou um bom tempo sem falar com o Geraldo e seu pai.

Um dia minha mãe pediu pra eu ficar em casa e ajudar ela a pegar excremento de vaca do pasto e trazer pra secar e fazer esterco para a horta. Ele iria pro café mais tarde ajudar os dois irmãos. Da cozinha ela ouviu uma galinha piando na casa ao lado, que era germinada a nossa. Ela me chamou e ordenou: “Sobe aqui na parede e espia por cima. Eu acho que é a nossa galinha que sumiu!”. Eu fiz o que ela mandou. Eu vi a galinha e confirmei. Logo depois, minha mãe ouviu a voz da vizinha e foi tirar satisfação com ela. A vizinha se defendeu: “A galinha entrou lá sozinha!”. Minha mãe chamou ela de ladrona e voltou pra dentro de casa. Mas a discussão não parou por ai. Elas discutiram de dentro da casa, pois podiam ouvir pelo vão da parede entre o telhado. A vizinha desafiou minha mãe: “Se você for mulher vem pra fora!” A Virginia saiu com uma vassoura, mas a vizinha com uma foice. Minha mãe bateu o cabo da vassoura no braço dela. A foice caiu no chão. As duas se agarraram e começaram a brigar. A minha mãe levou a melhor. Ela levantou, agarrou a vizinha pelos cabelos e acabou arrastando ela. Eu ia atrás chutando a mulher. Precisaram chamar o medico pra cuidar da vizinha. Mas ninguém se meteu no assunto! 5

O Antonio e Geraldo pegaram uma doença nos olhos. Chamavam a doença de gata cega. Eles não conseguiam enxergar a noite. Foram orientados pelos vizinhos a cozinharem fígado fresco de boi e fazer uma emulsão. Não lembro direito se eles colocavam a mistura no olho ou só  ficavam na frente da panela e deixavam o vapor pegar nos olhos. Eles nunca foram ao medico ver isso! Toda sexta-feira, eu e o Geraldo ia à pé, até o batedouro, pegar fígado para a semana toda. A gente andava uns dezesseis quilômetros. Enquanto a gente esperava matar os bois, a gente sentava e ficava olhando as maquinas trabalhando na construção da rodovia. É a rodovia que vai de Bebedouro até Barretos. Com o tempo os dois sararam!

Era costume nos domingos os três irmãos irem com três primos caçar nhambu, um tipo de passarinho que faz ninho no chão, no meio do colonião, um tipo de capim, à sombra. Eu e um primo menor entrávamos no mato e fazia barulho pra assustar os pássaros. Eles corriam assustado da gente e davam de cara com os maiores que atiravam com uma espingarda. Quase me acertavam os tiros, e o meu primo também!  

Num domingo, Geraldo jogou futebol e depois chamou os primos para caçar nhambu. Na volta todos vinham contando suas aventuras, mas Geraldo estava quieto e reclamou de dor de cabeça. Ao chegarem em casa, ele reclamou pra minha mãe que a dor tinha aumentado. Minha mãe deu uma aspirina pra ele e ele foi deitar. Passou algum tempo, minha mãe voltou e perguntou pra ele: “Meiorô?”. A resposta foi não. Por volta da meia noite ele não falava mais, só gemia. O Antonio chamou o meu pai e disse que tinham que fazer algo. O Ângelo saiu de casa e foi atrás de um curandeiro. Eles voltaram às cinco horas da manhã. O Geraldo não conhecia mais ninguém, só gemia. O meu pai Ângelo voltou a sede da fazenda pra telefonar para um médico na cidade de colina. Podia vir de taxi, era urgente! Quando o médico chegou, eu estava sentado do lado de fora da casa com as outras crianças, meus irmãos, o Varisto, a Zumira e o Nego. Então eu ouviu o choro desesperado da minha mãe que vinha lá de dentro da casa. Em seguida o Antonio saiu chorando e gritando: “O Geraldo morreu!”  

Quando o médico chegou já era tarde. Meu irmão já estava morto! Geraldo tinha quase 16 anos de idade. Era agosto de 1951 e fazia frio. O corpo foi velado durante o dia e depois à noite. Naquele dia minha mãe não fez almoço. Eu queria comida e as crianças também. Chegava um monte de gente em casa pra ver o Geraldo no caixão. As mulheres rezavam e cantavam ladainha. Eu lembro que tinha muitos negros no velório. Eles bebiam pinga e tomavam café para não dormirem. Na manhã seguinte a família ficou em casa. Os parentes e os amigos saíram carregando o caixão e sumiram na estrada no meio do mato. Eles foram caminhando, revezando pra carregar o caixa até chegar no cemitério da cidade. Foi um dos dias mais tristes da minha vida!

Fazenda Retiro (1952 – 1961)

Logo depois mudamos da fazenda Recreio para a fazenda Retiro. No Retiro a gente era colono, empregados no café. Meu pai só recebia uma vez por ano. Então a gente faziam compras na venda do Luiz Zapella. A gente tinha horta em casa, mas precisava comprar farinha de trigo pra minha mãe fazer pão, vassoura e coisas que não podiam fazer em casa. O Zapella marcava tudo na caderneta e meu pai só pagava no final do ano. Meu irmão Gusto tinha dez anos quando a gente mudou pra lá. O Zapella tinha uma filha que chamava Célia e o meu tio Augusto, irmão do meu pai, se casou com ela em fevereiro de 1966, quatorze anos depois.

Eu tinha 15 anos e era bem alto pra minha idade. Eu comecei a sair com os rapazes mais velhos. Também comecei a criar pombos. Eu fazia casinhas para eles e colocava o pombal no alto, em cima de postes de madeira. Eu fazia trocas com outros amigos de pombos brancos com marrons. Eu gostava da vida na fazenda Retiro!

Os moços mais velhos me aceitaram no grupo, mas me desafiavam o tempo todo. Eu era obrigado a fazer coisas como esvaziar o pneu do carro do patrão, administrador ou dos tratores da fazenda. Os meus amigos mais próximos, eram o Adão Bailarim, Fiori Segatti e o Zequinha. Tinha mais de vinte rapazes na mesma faixa de idade, mas nós quatro eram inseparáveis e um desafiava o outro chamando de covarde e fazendo chantagens. Na sexta-feira santa, o povo acreditava que Deus tava morto e por isso não via nada, assim a gente podia fazer arte! Os moços mais velhos pediam pra mim soltar os bezerros, que normalmente ficavam separados das vacas durante a noite. Os bichos mamavam a noite toda e de manhã, quando os pais iam ordenhar as vacas, não tinha leite. Quando tinha festa religiosa, os mais velhos seguiam a procissão. Então os moleques colocavam estrume de vaca nas tramelas da porteira da fazenda. Quando eles voltavam, depois da meia noite, no escuro, não viam e sujavam as mãos de merda.

Um ano depois que a gente mudou pro Retiro, o patrão mandou construir um açude atrás da colônia. Era um açude enorme! Com 16 anos eu aprendi a jogar futebol com os amigos e a nadar longa distancias no novo açude. Eu também comecei a frequentar os bailes. Os bailes eram feitos na fazenda Retiro e nas fazendas vizinhas: Caçula, Palmeira e na Bule. Nos bailes os sanfoneiros tocavam musicas ao vido do Mario Zan. Tocavam também valsa, música rancheira, e marcha. Os sanfoneiros mais famosos eram o Joaquim ceguinho, a Teia de Barretos, o Tonico Magalhães de Monte azul e o Garibaldi. A cada duas semanas havia um baile. Em alguns deles eram cobrados uma entrada e com o dinheiro pagavam o sanfoneiro. Tinha um bar onde a bebida era cachaça. Tinha leilão de frango assado que quando arrematado, era rapidinho destroçado pela turma de amigos. A gente ia pra um canto escondido e comia tudo. Eu vivia duro, sem dinheiro, e raramente arrematava um frango e quando fazia era para impressionar alguma menina. 

Tinha também leilão de rosas feitas de papel crepom. O rapaz que comprava a rosa escolhia uma moça para dar a rosa e dançar e ainda podia escolher a musica. Em alguns casos quando um rapaz escolhia uma moça que não aceitava a rosa ou uma que já era comprometida, começava uma briga. Alguém jogava uma pedra no lampião para quebrá-lo e ficar escuro, as moças começavam a gritar e a correr e assim acabava o baile. Algumas moças iam acompanhadas por um capataz que era responsável pelas moças. Eles acalmavam os moços dizendo que se eles contassem aos pais delas o que tinha acontecido, elas não viriam no próximo baile.

Eu tinha 16 anos, mas eu era muito tímido! Eu não tinha coragem de convidar as moças para dançar! Meus amigos me incentivaram a beber e a fumar. Eu não gostava, mas fazia pare me sentir enturmado e também cativar as moças. Com 17 anos eu não precisava mais disso! Eu e meus amigos não se misturava com os rapazes da cidade, a maioria morava e trabalhava na roça.

Algumas vezes, tinha reza de terço na casa de alguém na colônia. Depois do terço o anfitrião servia chocolate com leite ou licor de anisete para os presentes. Uma vez, em um desses terços, a Aparecida, uma moça que tava servindo bebida, disse bem alto, pra todo mundo ouvir: “O Reinaldo vai ser o primeiro a ser servido!” Foi a maior gozação. Logo todo mundo brincava dizendo que a gente tava namorando! A Carola, uma senhora casada passou a ajudar a gente, facilitando para que nos dois se encontrasse na casa dela. Mas não durou muito tempo. A Aparecida tinha acabado um namoro fazia pouco tempo com outro rapaz. Dois meses depois, quando ele soube que ela tava de namoro comigo, veio atrás dela. Ela resolveu terminar comigo e reatar o namoro com o antigo namorado.

Eu tava apaixonado por ela. Eu fiquei arrasado! Parei de jogar futebol e não saia mais com meus amigos. No inicio eu sentia uma mistura de saudade e raiva. Mas logo a raiva virou ódio. Um dia eu quase dei uma pedrada na cabeça dela. Dois anos depois a Aparecida foi abandonada novamente pelo namorado. Logo começaram a fofocar e eu fiquei sabendo que ela queria voltar a namorar comigo. Então eu resolvi me vingar dela. Eu procurei por ela e convidei pra ir a um baile juntos. Como era de costume, a gente ia todos juntos numa turma caminhando. Durante a caminhada, os casais se separavam e ficava distante uns três metros do outro conversando. Quando chegamos perto do local do baile, eu segurei o braço da Aparecida e pedi pra ela esperar. Eu olhei bem dentro dos olhos dela e perguntei: “Você tem algum paquera no baile?” - Ela respondeu: “Não, por que?” – Eu respondi logo em seguida: “Porque eu tenho!”

Era mentira. No baile, eu acabei ficando com uma moça que gostava de mim, mas eu nem tava interessado. A Aparecida chorou e não dançou a noite toda. Quando a gente voltou do baile, ela tirou satisfação comigo. Eu pedi pra ela ir procurar o ex dela. Nunca mais eu falei com ela e nunca mais eu dancei com ela. Perdi a namorada e perdi também um amigo.

Um dia, um dos meus amigos, vindo do trabalho na roça, todo sujo, ficou com vergonha de passar na frente da casa da namorada. Pra não passar em frente às casas da colônia, ele resolveu atravessar o açude nadando com roupa e tudo. Não conseguiu terminar a travessia, afogou-se e morreu. Eu perdi um amigo de futebol!

Por cinco anos, na fazenda Retiro, minha rotina era trabalhar no café de segunda a sexta. No sábado eu trabalhava até o meio dia. Passava a semana inteira esperando o final de semana. No sábado a tarde eu cortava o cabelo e a noite ia em um baile. Dormia no domingo até tarde e depois do almoço jogava futebol. Algumas vezes tinha torneio de futebol. O time de uma fazenda jogava com outra. Eu passei a jogar no time uniformizado da fazenda. Eu jogava em fazendas vizinhas também. A audiência era na maioria de homens, mas vinha muitas moças assistir as partidas também. As moças davam volta em torno do campo durante o jogo pra paquerar os moços e arrumar namorados. Num desses torneios, eu conheceu uma moça chamada Dolores. A gente começou a namorar, mas eu nunca gostei muito dela. Namorava, mas não estava apaixonado! Às vezes o pai dela não a deixava ela ir a um baile, e eu dançava e beijava outras moças.

Neste ínterim, o meu irmão Antonio conheceu a Clair que morava numa fazenda vizinha e com 20 anos de idade ele casou com ela. O Antonio era diferente! Ele era quieto, calado e não tinha muitos amigos nem jogava futebol. Desde menino, quando aprendeu a cortar cabelo, abriu uma barbearia na casa e as pessoas vinham cortar cabelo com ele. Eles tiveram uma filha logo depois, mas ela morreu com 25 dias de vida.” 

Fim 

Minha intenção era continuar a entrevista com meu pai e saber como foi sua vida à partir daqui. Mas por falta de tempo ou oportunidade, acabei não o fazendo. Então sua biografia, a versão dele da história termina por aqui. Depois disso meu tio Antonio e Clair tiveram a Zenaide em setembro de 1954 e em novembro meus avós o Ângelo e Virginia tiveram o Luiz Paulo Sarti o irmão caçula do meu pai. No inicio de 1959 meu pai se casou com Maria Aurélio. No mesmo ano nasceu e morreu Aparecida de Fátima, a primeira filha do casal. Também morreu a Nega (Lourdes), irmã do meu pai. Em 1960 nasceu a Elza, que passou a ser a filha mais velha de Reinaldo. No final de 1961, o pai de Reinaldo, Ângelo, seu tio Marcelo e toda a família mudaram-se da fazenda Retiro para a fazenda Jangada em Barretos. Meu tio Antonio continuou na fazenda Retiro. 

As fotografias nessa postagem são da fazenda Carro Queimado, antiga fazenda Retiro. São fotografias tiradas por mim mesmo há mais de 10 anos.

Notas e Referências 

  1. Mangueirão ou Mangueira: Uso regional é um curral usado em trabalhos com gado manso e bravo, localizado próximo à casa principal e feito de pedra, pau a pique, varas etc.
  2. Vassoura é uma planta parecida com o sorgo. A diferença está no cacho, bem mais flexível. 
  3. Colonião  – Capim-da-colônia, capim-guiné.
  4. Canga, peça de madeira us. para prender junta de bois a carro ou arado; jugo. Segue o relato de José “Também conhecida como “quaieira”, ou “culeiro”. - vai no pescoço do animal, (...) bota nas costas, chama “selote”, pra botar no espinhaço pra puxar (trata-se um objeto em forma triangular que se encaixa nas costas do animal para facilitar o comando e a tração do carro, também de estrutura de ferro com revestimento de couro). Essa aqui é a “cabeçalha”, vai ficando bonito, vai nos olhos, só que ele não vê, vai tapado, só vê pra frente, e tem a “rabichola” que é de botar atrás pra carroça ou o carro não ir pra frente.” (José Severiano da Silva, Ouro Branco, 2016). 
  5. Essa história foi contada várias vezes por outros irmãos do meu pai, mas eles não tinham certeza do motivo da briga. Essa é a versão de Reinaldo Sarti.  


Comentários

  1. Amei. Comecei a ler e não consegui parar até o fim. Conheci seus pais nós anos 1970 quando comecei a estudar a Bíblia.
    Devia entrevistar sua mãe.
    O lado dela da história deve ser interessantíssimo. Ele gostava de contar como se conheceram. Desculpe a intromissão. Obrigada por publicar.

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  2. Show de bola. Sou Sarti também e minha família também veio de Castelguglielmo

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